Relatório da Polícia Federal sobre a primeira-dama de Minas Gerais, Carolina Oliveira, mulher do governador Fernando Pimentel (PT), aponta que uma empresa dela em Brasília seria fantasma.
O documento foi obtido pelo jornal “O Globo” e pela revista “Veja”.
A empresa de Carolina, chamada Oli Comunicação, é investigada sob suspeita de ter sido usada por um grupo criminoso que atuaria em campanhas políticas do PT.
“Nas salas 1810 e 1811 (onde deveria funcionar a empresa) não foi encontrada qualquer indicação da existência da mesma”, diz o relatório.
A PF afirma que a empresa de Carolina teria sido usada “com a conivência” da primeira-dama. Ela é casada com o governado Fernando Pimentel desde abril.
A Polícia Federal também fez buscas no apartamento que Carolina Oliveira mantém em Brasília.
Ela morou na capital federal até meados do ano passado, quando Pimentel se candidatou ao governo de Minas.
O advogado de Carolina, Pierpaolo Bottini, disse à Folha que a empresa de comunicação nunca foi fantasma, pois tinha clientes, mas foi fechada quando Carolina mudou-se de Brasília para Belo Horizonte, no ano passado (leia texto abaixo).
SUSPEITAS
O documento integra a Operação Acrônimo, que prendeu nesta sexta-feira (29) o empresário Benedito Rodrigues de Oliveira Neto, o Bené, por conta de suspeitas de desvio de recursos públicos para campanhas do PT.
A PF também encontrou documentos que trazem indícios de que Bené teria atuado no caixa dois da campanha do governador. Uma tabela impressa em duas páginas traz a inscrição “Campanha Pimentel”, segundo a PF.
Em outubro do ano passado, durante a campanha eleitoral, a PF apreendeu R$ 113 mil em um avião de Bené que saíra de Belo Horizonte e pousara em Brasília. A suspeita é que o dinheiro seria usado em campanhas petistas.
Em 2010, na campanha que resultou na primeira eleição da presidente Dilma Roussef (PT), Bené alugou um casa em Brasília que era usada pelos petistas.
O empresário preso recebeu ao menos R$ 525 milhões em contratos com o governo federal desde 2005. O maiores contratos de Bené são com o Ministério da Saúde (R$ 105 milhões). A pasta também é investigada na Operação Lava Jato. Produtoras de publicidade que prestavam serviços para a pasta fizeram pagamentos ao ex-deputado André Vargas (ex-PT-PR), que está preso.
O delegado da PF Dennis Cali afirmou nesta sexta que houve superfaturamento de contratos, desvio de recursos públicos e que alguns serviços não foram prestados.
Segundo o delegado, não são alvos da investigação o governador de Minas nem qualquer partido político.
A PF também cita no relatório troca de mensagens entre Bené e o ex-deputado petista Virgílio Guimarães que sugerem que eles tinham negócios conjuntos, classificados pelos policiais como uma “sociedade dissimulada”. Ainda de acordo com a PF, o ex-deputado recebeu pelo menos R$ 750 mil de Bené.
Numa das mensagens interceptadas pela PF, Bené diz a Virgílio: “O cheque de 200 [mil] deve ter voltado. Pode pedir pra reapresentar”.
Guimarães foi apontado nas investigações do mensalão como o parlamentar que introduziu o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza nos círculos do PT para operar um caixa dois que serviu para pagar uma espécie de mesada para a base aliada do partido.
Valério, que operava um esquema similar em Minas para o PSDB, segundo investigações da PF, foi condenado a 40 anos de prisão por conta do mensalão.
OUTRO LADO
A Oli Comunicação, empresa de Carolina Oliveira, não é de fachada, tinha clientes de fato e tem como comprovar que os serviços contratados foram prestados, diz o advogado da primeira-dama de Minas Gerais, Pierpaolo Bottini.
Segundo ele, a empresa foi fechada quando Carolina mudou-se de Brasília para Belo Horizonte no ano passado, para acompanhar Fernando Pimentel na campanha que elegeu-o governador.
Bottini diz que a empresa foi fechada e há documentos da Junta Comercial para comprovar o encerramento de suas atividades.
“A empresa da Carolina prestou serviços de comunicação, não tem nada de fachada ou de empresa fantasma”, afirma Bottini.
Em nota divulgada na última sexta-feira, a assessoria da primeira-dama afirmou que “Carolina acredita que a própria investigação vai servir para o esclarecimento de quaisquer dúvidas”.
O advogado de Benedito Rodrigues, Celso Lemos, não foi encontrado neste sábado, mas classificou na última sexta (29) as acusações da PF de “absurdas” porque o caso ainda está em apuração.
Segundo Lemos, o empresário colocou-se à disposição da Justiça para prestar esclarecimentos desde que os R$ 113 mil foram apreendidos em outubro do ano passado, dentro de um avião.
Procurada, a assessoria de comunicação do governo de Minas afirmou que não comentaria fatos ocorridos durante a campanha e afirmou que o PT mineiro é que deve se pronunciar.
A Folha não conseguiu contato com a assessoria do PT na capital mineira.