A imagem narrativa de um homem simples, que comia farofa como um selvagem, não emplaca mais. Enquanto brasileiros — cerca de 33 milhões—, passavam a integrar o mapa da fome, Jair Messias Bolsonaro gastava R$75 milhões no cartão do governo. A primeira informação, que apontava um gasto de R$27 milhões, era falsa, já que o governo de Jair Bolsonaro não fazia lançamentos básicos — por má fé ou incompetência.
O valor dos gastos foi divulgado depois da quebra do sigilo de 100 anos que Bolsonaro havia determinado.
Chama a atenção o gasto de um único hotel — R$1,46 milhões. O hotel Ferraretto fica no litoral paulista e recebeu dez pagamentos ao longo dos quatro anos de governo.
No cartão corporativo, há gastos com sorvete (R$8,6 mil), cosméticos, pet shop, McDonald’s e na Havan — loja de um dos seus maiores defensores. O cartão também registra um gasto de R$ 362 mil em uma mesma padaria.
Bolsonaro foi o único presidente da República a dizer publicamente que não fazia uso do cartão. No entanto, a mentira, que parece integrar o DNA do governo que assombrou o Brasil e o mundo por quatro longos anos, foi descoberta.
“Nunca gastei um centavo, eu posso sacar até R$ 25 mil por mês e tomar Itubaína, mas nunca usei”, disse ele sobre o uso do cartão com despesas pessoais em outubro do ano passado numa entrevista à Jovem Pan — uma emissora bolsonarista.
Bolsonaro disse ao menos 15 vezes em lives que não utilizava o cartão corporativo para despesas pessoais ao justificar que eram para bancar a equipe que o acompanha nas viagens e que os locais não eram de luxo.
O governo federal disponibilizou ainda os gastos dos cartões corporativos dos presidentes anteriores a partir de 2003, o que também inclui, portanto, Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff e Michel Temer.