Notícia boa para todos os jornalistas brasileiros. Em Belo Horizonte, 21 arquitetos participaram do concurso para o anteprojeto da Casa do Jornalista. A comissão julgadora foi escolhida por eles mesmos. Ninguém reclamou, e o concorrente vitorioso, arquiteto Gustavo de Araújo Penna, dedicou seu trabalho ao avô falecido, também jornalista, e poeta, José Oswaldo de Araujo. O anteprojeto é apresentado com estes versos, caros ao neto: “Quantos vivem buscando o ideal pelos espaços/ E o ideal aqui na Terra, ao alcance dos braços!”
Havia um problema lateral a resolver. No local escolhido para a construção estava plantada uma das casas antigas de BH, que seria grato preservar do esquecimento.
Engenhosos, Araújo Penna e sua equipe inseriram no conjunto o arco de entrada da velha construção. Criaram assim um elo visível entre o tempo passado e o tempo presente, inspirados talvez, na solução encontrada na praça 15 de Novembro, do Rio, onde o venerável Arco do Teles se incorporou à nova edificação.
A comunidade jornalística mineira está em festa. O prédio de 15 andares destina cinco ao serviço da Casa do Jornalista e ao Sindicato Profissional, e nove para locação. Realiza o pensamento do poeta: em conjunto autossuficiente, e ao alcance dos braços, o ideal da convivência humana em trabalho, lazer, teatro, biblioteca, festas populares, concertos, exposições, artesanato. A Praça da Notícia será o grande ponto de convergência e compreensão dos que escrevem e dos que leem o jornal. O excelente trabalho de Gustavo A. Penna e equipe (Flávio L. Carsalade, Ângela Roldão e Luís Antônio Fontes) dá à gente a alegria de sentir que nem tudo está perdido em Belo Horizonte. Os moços apontam o caminho.
(Carlos Drummond de Andrade, in “Jornal do Brasil”, 6.3.1982)
Sempre entendi que arquitetura não é dentro nem fora. É através. Assim também é o urbanismo. Por entre as ruas e edifícios, praças e árvores, nossa vida surge e vai sendo vivida. E, assim, somamos tempo ao espaço. Por isso é bom caminhar, perceber os detalhes da cidade a granel, com vagar, com pernas, olhos e coração.
Vem daí a proposta de pensarmos a cidade humanizadamente. Fazer gestos de qualidade e compromisso. Novos jeitos de amar nossa terra. Mais que gentileza, tratá-la com generosidade. É a “generoscidade”. Atitudes que se perenizam e constroem fortes relações de cidadania. Novas leituras dos lugares existentes para novos tempos, desafios e a tecnologia de ontem, hoje e amanhã.
Dentro desse universo de pesquisa e invenção, propus à Casa do Jornalista e à construtora PHV uma experiência.
Vamos fazer a primeira travessia de Belo Horizonte. Um traço que homenageia o verso de Guimarães Rosa, Fernando Brant e Milton Nascimento, e que é também o primeiro passo para construirmos, enfim, a generosa Praça da Notícia, nosso projeto assim batizado em 1982 por Carlos Drummond de Andrade. A Álvares Cabral se conecta à Espírito Santo por uma passagem coberta através dos dois imóveis. Usar os lotes e os espaços desperdiçados do interior das quadras para construir ligações inesperadas entre as ruas. Criar novas esquinas no centro do quarteirão.
Foi necessário um exercício de desprendimento dos proprietários na criação de um novo lugar público. Um ato de “generoscidade”.
Essa travessia, penso eu, vai ser instigante e divertida, além de acolhedora e segura.
Na esperança de que se torne lei e possa ser replicada com inteligência.
Ela vem para criar novos encontros, experiências, novas histórias de espaço e tempo.