Por FolhaPress
Com apenas 9% de intenção de voto no Datafolha no cenário sem Lula (PT), o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP) tem sido pressionado por lideranças evangélicas a adotar um discurso mais ideológico e cristão na campanha presidencial.
Ou, como preferem dizer, um discurso em favor “da família e da vida”.
Os líderes das igrejas dizem que, sobretudo numa disputa fragmentada como a atual, o eleitor evangélico pode catapultar o tucano ao 2º turno caso passe a fazer manifestações enfáticas em relação a temas como aborto, drogas, casamento gay e homofobia.
Se não for dessa forma, dizem, os evangélicos naturalmente vão acabar desaguando seus votos no deputado Jair Bolsonaro (PSL). De acordo com pesquisa Datafolha realizada em 2016, 3 em cada 10 brasileiros (29%) com 16 anos ou mais são evangélicos.
A Folha apurou que o ponto mais importante seria assumir um compromisso de, na Presidência, trabalhar contra qualquer projeto que criminalize o discurso religioso em relação à homossexualidade.
Os líderes evangélicos entendem que, se houver uma alteração no Código Penal de modo a comparar a homofobia ao racismo, muitos pastores poderão ser presos.
Na visão desses líderes, que citam a liberdade de expressão, eles têm o direito de dizer, por exemplo, que a Bíblia condena o comportamento homossexual sem correrem o risco de sofrer acusações judiciais por discriminação.
Alckmin tem procurado se aproximar dos evangélicos. Antes de renunciar ao governo, chamou lideranças para uma pizza no Palácio dos Bandeirantes. Na última quinta-feira (23), esteve com cerca de mil pessoas, entre bispos, pastores e obreiros da Igreja Mundial do Povo de Deus, uma dissidência da Universal.
Apesar disso, resiste a adotar um discurso mais conservador, pois entende que, com o horário eleitoral, que começa no sábado (1º) na TV e no rádio, tende a crescer.
O tucano vai dispor de cerca de 43% (5 minutos e 32 segundos por bloco) do tempo total de propaganda, além de 434 inserções comerciais por emissora ao longo da campanha. Para efeito de comparação, Bolsonaro terá 8 segundos por bloco e 11 comerciais.
Além disso, Alckmin não quer desagradar aos setores mais à esquerda do PSDB e do próprio eleitorado. Tendo o PT de um lado e Bolsonaro do outro, considera-se como o candidato do centro.
Recentemente, um vídeo do ex-governador defendendo a “diversidade” circulou em um grupo de WhatsApp que reúne líderes evangélicos. Segundo as palavras de quem acompanhou os comentários, o tucano foi “massacrado”.
Sob condição de anonimato, um líder evangélico disse à Folha que nem Jesus conseguiu agradar a todos e encerrou a entrevista com a frase “imagine o Alckmin”.
Bolsonaro, por sua vez, antes dos debates, promove orações com seus assessores e faz questão de gravar a cena e enviar as imagens para o mesmo grupo de WhatsApp.
“Os evangélicos, assim como outros segmentos da sociedade, querem ver seus representantes defendendo os seus valores”, afirma Eduardo Tuma (PSDB), secretário da Casa Civil do prefeito Bruno Covas (SP) e uma das pontes de Alckmin com o setor.
O apóstolo César Augusto, da Igreja Fonte da Vida, afirma que “a maioria dos evangélicos está com Bolsonaro porque ele já se posicionou”.
Tradicionalmente, os evangélicos não atuam como um grupo homogêneo, nem mesmo entre as neopentecostais.
A força da recomendação de votos dos líderes das igrejas também tende, historicamente, a ser mais aceita pelos fiéis nas eleições parlamentares do que nas majoritárias, como a presidencial.
Justamente por isso, afirma um representante do setor, os valores professados publicamente pelo candidato terão mais chance de atingir o coração do eleitor religioso.
“Os evangélicos estão esperando as definições para se posicionar”, diz o bispo Robson Rodovalho, da igreja Sara Nossa Terra e presidente da Confederação dos Conselhos de Pastores do Brasil (Concepab).