Ex-investigador foi condenado por passar informações para executor do jornalista Rodrigo Neto
Ipatinga. Em meio ao mistério que envolve a real motivação do assassinato do jornalista Rodrigo Neto, em 8 de março de 2013, o primeiro acusado de envolvimento no homicídio qualificado, sem possibilidade de defesa da vítima, foi condenado nesta quinta a 12 anos de prisão em regime fechado, por ser réu primário. O ex-policial civil Lúcio Lírio Leal, 23, é apontado pelo Ministério Público de Minas como o responsável por fornecer aos atiradores informações para que a vítima fosse surpreendida ao sair de um bar do bairro Canaã. O assassinato estaria ligado às denúncias de crimes sem solução e supostamente cometidos por policiais, feitas por Neto.
Enquanto a defesa promete entrar com recurso, a promotoria quer pedir que a pena seja aumentada e que ele responda pela tentativa de homicídio de um homem que acompanhava o jornalista no dia do crime. Leal foi absolvido dessa última acusação. As famílias da vítima e do ex-policial deixaram o tribunal rapidamente, sem falar com a imprensa.
Julgamento. Foi aparentando tranquilidade, rezando e lendo a Bíblia que o réu passou o dia no tribunal. Vindo de família evangélica, Leal chorou ao afirmar sua inocência. Ele disse que sequer conhecia Neto. Questionado sobre a amizade com Alessandro Neves Augusto, conhecido como Pitote – outro acusado de participação no assassinato e que tinha uma carteira de policial falsa e uma arma com numeração adulterada –, o réu afirmou que apenas mantinha um informante.
“Aprendi na academia de polícia que temos que ter informantes. Alessandro (Pitote) passava informações sobre crimes”, disse, ressaltando que tinha o costume de emprestar seu carro para Pitote.
Por outro lado, dois policiais que investigaram o crime apresentaram elementos que sustentam a acusação. O primeiro item relatado foi a amizade entre Leal e Pitote – que será julgado em data ainda não definida. A acusação citou 330 ligações entre eles – 130 antes e 200 depois do crime. Em nenhum contato, no entanto, o homicídio foi mencionado.
Os investigadores ainda citaram que um carro idêntico ao de Leal – uma picape Strada prata – percorreu o mesmo trajeto que a moto dos atiradores apenas oito minutos antes dos executores. O veículo foi registrado por câmeras de segurança de estabelecimentos comerciais.
Debate. Os momentos antes do crime e a relação entre Leal e Pitote dominaram o debate entre defesa e acusação. Enquanto os advogados do réu afirmaram que ele estava na casa da namorada, a promotoria sustentou que ele percorreu ruas do bairro Canaã para identificar a localização do jornalista e que ele poderia, inclusive, ser o piloto da moto usada pelo atirador.
A investigação identificou dois homens na picape e afirmou que o passageiro do carro e o piloto da moto vestiam roupas semelhantes. No inquérito, Pitote ainda apresentou como álibi o fato de estar com o irmão do réu em uma feira da região. As ligações feitas minutos antes do crime foram justificadas pela defesa com um pedido de empréstimo do carro feito por Pitote ao réu.
Arma
Fotógrafo. As investigações mostram que a mesma arma usada para matar Rodrigo Neto foi usada para assassinar o fotografo Walgney Carvalho, seis dias depois. O revólver 38 seria do Pitote.
Grupo de extermínio é apurado
Ipatinga. Embora pouco se tenha falado da motivação da morte de Rodrigo Neto, os depoimentos dos investigadores confirmaram a existência de um grupo de extermínio no Vale do Aço. O promotor Francisco Ângelo ainda chegou a aventar a possibilidade desse grupo ser formado por policiais e políticos da região.
A assessoria de imprensa da Polícia Civil confirmou que um inquérito complementar continua apurando o crime e que uma equipe do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), da capital, ainda está em Ipatinga. Procurado, o chefe do DHPP Wagner Pinto informou que não poderia comentar o assunto.
Saiba mais
Atirador. Um segundo homem estaria na moto usada no crime. A identidade dele não foi confirmada. A motocicleta ainda seria do mesmo modelo e cor de uma de propriedade do pai do réu.
Segunda vitima. Um homem estava com Rodrigo Neto no momento no crime. Identificado apenas como Luiz Henrique, ele não prestou depoimento nesta quinta. O ex-investigador foi absolvido da acusação de tentativa de homicídio contra ele.
Carro. A picape Strada usada por Leal, segundo o processo, tinha a placa clonada e o número do chassi adulterado.