De figura importante em seu partido, votações recordes e presença constante em eventos na cidade, ao ostracismo e reclusão em casa, passando por uma prisão e investigação que a tirou do cargo.
Esse é o resumo da vida política da ex-prefeita de Ribeirão Preto Dárcy Vera (PSD), primeira mulher eleita e reeleita ao cargo na cidade e que passou 11 noites na prisão apontada como integrante de um esquema de corrupção.
Ela supostamente desviou ao menos R$ 203 milhões dos cofres públicos, segundo o Ministério Público paulista.
Da Dárcy que circulava numa Kombi rosa —”sua cor favorita”—, que dançava e cantava em eventos e era assídua em redes sociais, pouco restou.
Após a deflagração da operação, em setembro, a ex-prefeita passou a evitar aparições públicas e, depois de obter liberdade provisória, em dezembro, vive enclausurada em casa, no bairro Ribeirânia.
Antigos amigos e aliados políticos que estiveram em seu governo não a têm procurado. Alguns deles nem podem fazer isso, pois também são acusados e a Justiça os proibiu de manter contato com investigados.
A Folha ouviu ex-membros do primeiro escalão dos dois governos Dárcy (2009-2016), amigos, vizinhos e funcionários da prefeitura, que afirmam que a ex-prefeita passa a maior parte dos dias sozinha e não consegue sair de casa por temer ser xingada.
Foi o que aconteceu até aqui ao se apresentar à Justiça, em visitas quinzenais ao Fórum de Ribeirão, onde recebeu vaias e xingamentos.
Situação difícil para quem se tornou uma das vozes mais populares da cidade como locutora da rádio Conquista FM, nos anos 90, e chegou a apresentar programa de TV numa emissora local.
A amigos relatou que sua prisão foi política, reclamou do sumiço de documentos pessoais que tinha deixado no Palácio Rio Branco, sede do governo, e afirma que quer retomar sua vida.
Sua última aparição pública enquanto prefeita foi em 22 de novembro, quando inaugurou uma central para encaminhamento de imigrantes.
Dárcy foi presa em 2 de dezembro e passou os 11 dias entre a superintendência da Polícia Federal, na capital, e a penitenciária de Tremembé.
Ela obteve autorização judicial para deixar a cidade para frequentar o curso de pós-graduação em comunicação pública governamental na Universidade de São Paulo, na capital, aos sábados. Jornalista de formação e já pós-graduada em gestão da comunicação em mídias digitais, paga R$ 900 de mensalidade.
ROTINA ALTERADA
Poucos são os que a visitam na rua onde mora. Vizinhos disseram que as mais frequentes são a mãe da prefeita e sua irmã. A mãe, inclusive, tem auxiliado em serviços domésticos após a dispensa da faxineira. O jardineiro não presta mais serviços no local, conforme relatos de vizinhos.
Sem mandato, ela perdeu o foro privilegiado e passará a ser julgada pela 4ª Vara Criminal de Ribeirão. A Promotoria aguarda, para o início de março, a chegada da ação penal contra Dárcy que estava no Tribunal de Justiça.
OUTRO LADO
Com os bens bloqueados pela Justiça (ela afirma ter só a casa em que mora), a ex-prefeita diz ser inocente e nega ter recebido propina. A defesa de Dárcy já afirmou que ela conseguirá provar que não é culpada.