A ex-secretária de cultura de Santa Luzia, na região metropolitana de Belo Horizonte, Ana Paula Alves Gabrich, de 48 anos, foi presa acusada de fazer parte de um esquema criminoso de roubo e clonagem de veículos. Ana Paula se diz amiga íntima da ex-prefeita afastada da cidade, Roseli Ferreira Pimentel (PSB), presa em setembro do ano passado por envolvimento na morte de um jornalista, também acusada de uma fraude milionária, ultimamente cumprindo prisão domiciliar.
De acordo com o delegado de Repressão ao Furto e Roubo de Veículos, Alex Machado, a ex-secretária já foi investigada por lavagem de dinheiro em uma organização criminosa que desviou milhões da saúde do município, na gestão de Roseli Pimentel. “A notícia que tínhamos é que Ana Paula havia comprado imóveis, mas sabemos que ela não os colocou no próprio nome”, disse o delegado.
Segundo o delegado, Ana Paula vinha sendo investigada há 30 dias e foi presa quarta-feira na região da Pampulha, com Fox roubado. “O veículo é adulterado, provavelmente ele teve a numeração remarcada, o que o laudo pericial definitivo deverá comprovar. Ela já documentos para enganar a polícia em blitz de rotina. Um documento muito bem feito, provavelmente em papel original que foi lavado”, disse o delegado.
Na casa de Ana Paula, a polícia também encontrou um Fiat Uno roubado e adulterado, com documento falso. Na residência do homem que seria o chefe da quadrilha, identificado pela polícia apenas por Carlos, foi encontrado um Ford EcoSport, também adulterado. “Esse indivíduo é um alvo da polícia por já ter sido preso pela Polícia Federal por tráfico internacional de drogas, com quase 200kg de maconha. É uma pessoa muito conhecida em Santa Luzia. A polícia acredita que é por isso que vários veículos estão desaparecendo e não estão sendo encontrados. Podem estar sendo remetidos para outros países, a troco de drogas”, disse o delegado.
Na quinta-feira, segundo Alex Machado, a presa marcou encontro com um possível interessado no Fox, “que pode um comprador ou um traficante”, segundo o delegado. “A polícia estava aguardando. Quando ela chegou, policiais a mantiveram sob vigilância. Ela desceu do carro e se dirigiu para uma região que poderia ser uma rota de fuga. Então, os policiais temendo que ela tivesse sido avisada da presença da polícia, eles resolveram efetuar a prisão. Com a presença da polícia no local, obviamente os criminosos aproveitaram para fugir”, conta o delegado. Segundo ele, todos já foram identificados.
Corrupção
O próprio delegado disse ter investigado o esquema de corrupção em Santa Luzia, durante um ano e três meses. “Um rombo milionário, de cerca de R$ 80 milhões, que foi um superfaturamento através de uma verba extraordinária, jogada para dentro da prefeitura, aprovada pela Câmara Municipal, mesmo com a reprovação do Ministério Público. A partir de então, várias fraudes foram cometidas, como em licitação, direcionamento e contratação de empresas com conluio e superfaturamento de valores”, conta o delegado. Com isso, segundo o delegado, afetou a saúde pública do município. “O método utilizado foi deixar a saúde virar um caos para justificar depois a situação de urgência e emergência, dispensar licitação, montar o conluio com pessoas inescrupulosas, e então fazer o desvio, somente na primeira fase, de R$ 21 milhões”, conta o delegado.
Segundo o delegado, Ana Paula sempre foi envolvida com a cúpula da política de Santa Luzia, desde a gestão do falecido prefeito Calixo, que já tinha ao redor dele Ana Paula e Roseli. “Depois, a Roseli assume a prefeitura e Ana Paula assume sempre cargos de confiança. O último foi de secretária de cultura”, conta o delegado. O inquérito do envolvimento de Ana Paula no esquema ainda está andamento, segundo o delegado. “Na época foi pedida a prisão dela e outras 21 pessoas. O procurador do Ministério Público concordou, mas o desembargador que estava no caso na época não autorizou”, disse Alex Machado.
“O que a investigação apontava na época é que Ana Paula era uma das responsáveis pela lavagem do dinheiro desviado. Ela é amiga íntima da ex-prefeita Roseli Pimentel”, disse o delegado.
Defesa
Ana Paula negou envolvimento no esquema de roubo e clonagem de veículos. Ela disse que não sabia que o carro que o Ford EcoSport que adquiriu de Carlos era roubado. “Um carro eu comprei dele em outro. Ele dizia que era carro de leilão que ele comprava, arrumava e vendia. O Uno, ele me pediu para deixar na minha casa, pois ele só tem uma vaga de garagem no prédio. Ontem (quarta-feira), ele falou que tinha anunciado a venda do Fox e me pediu para levar o carro para ele até à Pampulha, pois ele estava em Belo Horizonte e me encontraria lá, mas não apareceu”, disse a presa.
“Só agora fiquei sabendo que os três carros eram roubados e não comprados em leilão. Carlos ficou me enrolando para entregar o recibo do carro que comprei, por R$ 28 mil”, disse a ex-secretária.
Segundo ela, o pai de Carlos trabalhou a vida na inteira no Detran. “Carlos teve um problema na polícia, cumpriu e saiu, trabalha como personal trainer, casado, e eu jamais poderia imaginar que fosse alguma coisa nesse sentido”, disse Ana Paula. “Eu trabalhava na prefeitura e saí junto com a prefeita. Eu era do primeiro escalão”, comentou.
“Quero que o Carlos seja preso, ou que ele se entregue, que resolva tudo. Eu fui enganada, tenho filho para criar, tenho trabalho para fazer”, disse a presa.
Ana Paula negou envolvimento também no esquema de lavagem de dinheiro na prefeitura de Santa Luzia e teceu vários elogios à prefeitura. “Acho que a Roseli é inocente. Ela tem filhos maravilhosos. Quando tomou posse, ela deu outra cara para a cidade. Não sei como foi, se tudo foi armado por ela ser uma pessoa pública”, comentou. Depois que saiu da prefeitura, Ana Paula conta que sobrevive com venda de produtos de sex shop.
Processo
O Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) informou que o crime de homicídio ainda está na fase de inquérito e tramita em segredo de Justiça. Já o processo de corrupção passiva será devolvido à Justiça de Santa Luzia, diante da perda do cargo de prefeita pela acusada.