Exames laboratoriais eletivos de pacientes com HIV estão suspensos no hospital Eduardo de Menezes, em Belo Horizonte, devido à grande demanda de doentes internados com suspeita ou confirmação de febre amarela. Referência no tratamento de doenças infecciosas, a unidade de saúde, entre janeiro e meados de fevereiro, chegou a receber apenas pacientes relacionados com a enfermidade.
A mudança no atendimento do hospital aconteceu por causa de um plano de contingência para catástrofes, que permite uma reorganização para que pacientes em estado grave que chegam em grande número e podem evoluir em pouco tempo para óbito sejam atendidos rapidamente. Segundo o médico e gerente assistencial do hospital, Dario Brock Ramalho, a unidade de saúde chegou a ter 129 internados com suspeita ou confirmação de febre amarela, número 26% maior que o de leitos, de 102.
Os exames estão suspensos há cerca de 20 dias, e a previsão é que a situação só seja normalizada na próxima semana, caso não haja um aumento no número de casos de febre amarela. Enquanto isso, pacientes com HIV que se tratam na unidade de saúde reclamam da situação. Segundo a secretária política do Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas, Heliana Moura, 48, muitas pessoas têm vindo do interior para realizar os exames, mas voltam sem conseguir fazê-los.
“As pessoas saem cedo de casa, sem café, para fazer o exame, chegam no hospital e têm a notícia de que não poderão fazer o teste. Elas têm que esperar quando o carro voltar (no fim da tarde) para retornar para suas residências e remarcar esses exames”, explicou.
Heliana, que também é portadora do vírus, considera que os exames são importantes para a consulta com o infectologista. Isso porque os resultados mostram a quantidade de vírus e a situação de imunização do paciente. No entanto, o gerente do hospital esclareceu que o teste é apenas um dos métodos para avaliar os doentes.
“Na consulta, você faz exame médico, passa por uma entrevista, sabe se a pessoa está tomando o remédio ou não. Ele é uma das coisas que a gente utiliza para fazer o acompanhamento. Do ponto de vista da conveniência, seria muito melhor a gente estar em uma situação de normalidade. Mas não há prejuízo à saúde do paciente”, garantiu Ramalho.
Paciente, Maria Neri de Jesus, 52, relatou que tem esperado mais para ser atendida. “Antes, eu chegava às 7h e 8h30 já estava liberada. Agora, fico até 10h. Mas não é culpa dos profissionais, é da demanda”, ponderou. A Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais informou que, por causa do plano de contingência, os pacientes recebidos pelo Eduardo de Menezes foram encaminhados a outras unidades da Rede SUS.
Mutação não altera eficácia de vacina
A Sociedade Mineira de Infectologia (SMI) esclareceu nesta quarta-feira (28) que mutações encontradas pela Fundação Oswaldo Cruz no vírus da febre amarela em 2017 não têm ligação com a eficácia da vacina contra a doença. O estudo, diz a SMI, aponta alterações em proteínas responsáveis pela replicação viral, e não nas do envelope do vírus.
Os autores do estudo esclarecem que, como a proteção da vacina ocorre pela produção de anticorpos contra o envelope viral, “alterações detectadas no estudo não afetam as proteínas do envelope do vírus, que são centrais para o funcionamento da vacina”.
A sociedade reforçou a recomendação para que todos sejam vacinados. “Quanto maior for a cobertura vacinal, menor o risco de as pessoas adoecerem e de o vírus se disseminar para áreas urbanas”, finalizou a nota da sociedade.
Minientrevista
Rodrigo Said
Subsecretário da SES-MG
Por que 11 pessoas vacinadas contraíram a doença? Qual a conclusão? Desde o início do processo de transmissão da febre amarela, em 2017, nós sempre comentamos que trabalhamos com uma vacina altamente segura e que tem grande eficácia. Na literatura, essa vacina garante uma proteção entre 95% e 98%, ou seja, uma pequena variação da população, mesmo recebendo doses da vacina, não vai gerar os anticorpos protetores. Isso é previsto. Quando nós observamos os dados de Minas Gerais, nós temos quase 90% de cobertura vacinal.
Qual a recomendação? Permanece a recomendação da Organização Mundial da Saúde, do Ministério da Saúde, previsto no regulamento sanitário internacional, que a indicação é de uma dose (da vacina) ao longo da vida. Essa vacina é segura, e quem já foi vacinado não tem necessidade de buscar reforço. O nosso objetivo é chegar ao índice de 95% de vacinados.
Os repelentes precisam ter icaridina para fazer efeito? Icaridina (substância presente nos repelentes), que foi usada inclusive na época da zika vírus, pelos trabalhos que foram realizados, foi o que obteve melhor resultado na prevenção com relação ao mosquito Aedes aegypti. Ele também pode ser usado para a febre amarela, assim como outros princípios ativos disponíveis no mercado. Agora é uma ação complementar. É importante a pessoa estar protegida com a vacina. E mais importante: que as pessoas, quando adquirirem esses produtos, fiquem atentas às orientações que estão nos rótulos. Se o produto orienta a utilização a cada duas horas, é importante segui-la.