Brasília – As exportações de carnes brasileiras desabaram. Dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic) apontam que, antes da divulgação da Operação Carne Fraca, o valor médio diário de exportações do produto era de US$ 63 milhões. Ontem, as vendas ao exterior totalizaram US$ 74 mil, o que representa queda de 99,9%.
Tamanha queda nas exportações chocou o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Blairo Maggi. Embora persista no esforço para apresentar explicações aos parceiros de comércio do Brasil no mercado internacional, ele admite que, diante da brusca queda nas vendas externas, não conseguirá mais alçar a exportação de carnes brasileiras de uma participação de 6,9% do mercado mundial para 10%, que era uma das metas do governo.
“O que sofremos é uma pancada. Um soco no estômago. É algo tão forte que, ao olhar para os 7%, tenho que trabalhar para ficar nos 7%. Não consigo me olhar indo para os 10%. É um choque forte que esse setor não merecia sofrer”, disse Maggi ontem, em audiência pública realizada pelas comissões de Assuntos Econômicos (CAE) e de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) do Senado.
Prejuízos já são contabilizados pelo ministério. A avaliação do ministro Maggi é de que os desdobramentos gerem perdas de 10% do volume de cerca de US$ 15 bilhões de exportações de carnes, o que deve gerar prejuízo de US$ 1,5 bilhão ao ano para o Brasil. Diante de uma crise sem precedentes no agronegócio brasileiro, o governo tem pressa para estancar a sangria nas exportações. Maggi, inclusive, destacou a intenção de visitar os países que suspenderam a importação da carne para prestar esclarecimentos pessoalmente.
“O grande trabalho, agora, é de recuperar e reorganizar forças e de viajar o mundo. Andar novamente, reexplicar e tentar convencer o que aconteceu aqui. Que foram desvios de algumas pessoas, e não no forte sistema da indústria que temos, que aposta firmemente que é um dos pontos fortes do nosso país”, afirmou o ministro.
A ideia foi endossada pelo ministro do Mdic, Marcos Pereira. Para ele, uma operação conjunta do governo com o Legislativo e o setor produtivo será necessária para amenizar os impactos. “O governo federal, com convite ao Senado e ao setor produtivo, deve fazer missões para intensificar ações internacionais”, disse.
O primeiro passo dessa força-tarefa pelo Mdic se inicia em 6 de abril, quando o ministro Pereira participará do Fórum Econômico Mundial, em Buenos Aires. A intenção é aproveitar a oportunidade e esclarecer aos governos externos as ações para superar a crise.
De acordo com balanço do ministério até ontem à noite, que não considerou o embargo da África do Sul, o número de países ou blocos que mantêm alguma restrição ao produto do Brasil caiu para 11, já que a Coreia do Sul havia bloqueado a compra de produtos da BRF, dona das marcas Sadia e Berdigão, mas voltou atrás e desistiu da decisão. A pasta considera que os pedidos de informação e suspensões temporárias dos países destinatários de carne e derivados brasileiros são uma “reação natural” depois da operação.
Salsichas e frangos apreendidos
O ministro da Agricultura acompanhou, ainda ontem, operação de fiscalização em um supermercado na Asa Norte, em Brasília. Foram encontrados três produtos originários de estabelecimentos que foram alvo da Operação Carne Fraca. Os fiscais retiraram das gôndolas salsichas ao vinagrete da marca Italli, produzida por uma das plantas interditadas do frigorífico Peccin. O mesmo foi feito com sobrecoxas de frango e filés de peito com ervas finas da marca Seara.
Os produtos ficarão retidos no depósito do supermercado até que seja concluída análise sobre sua qualidade. A apreensão, explicaram os fiscais, é preventiva. A Vigilância Sanitária, da Secretaria de Saúde, também fez inspeção de carnes ontem em Brasília. O trabalho foi feito no Jardim de Infância 1, no Cruzeiro. O objetivo foi verificar os dois lotes de carnes recebidos pela escola da empresa JBS, dona da marca Friboi e investigada na operação da PF. Os fiscais retiraram três amostras de cada um dos lotes de carne, com 2 quilos cada uma, para análises físico-químicas e microbiológicas. (Com agências)
Frigoríficos demitem 280
Alvos da Operação Carne Fraca, dois frigoríficos da Região Metropolitana de Curitiba, do grupo Central de Carnes Paranaense, suspenderam ontem suas atividades, segundo o site de notícias G1. Com o fechamento das unidades, 280 pessoas teriam sido demitidas.
Ainda segundo o G1, o frigorífico Master Carne já enfrentava problemas econômicos antes de deflagrada a operação da PF. As investigações teriam complicado as vendas. A empresa é investigada por suposta prática de corrupção e injeção de produtos cárneos (da cor de carne).
O frigorífico Souza Ramos é investigado, de acordo com o site de notícias, porque teria fornecido salsichas fora do padrão para escolas do Paraná. Teria havido substituição de carne de peru por frango. A empresa informou que o estabelecimento foi adquirido após ocorridas as supostas irregularidades.
Ao comentar as repercussões do caso, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, disse, ontem, que o novo posicionamento da Polícia Federal (PF), admitindo que os problemas encontrados na investigação são pontuais, é um fator importante para a retomada das vendas de proteína animal. Para o ministro, “a população confia muito na PF”.
Fazendo coro às palavras de Maggi, o presidente do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais Federais Agropecuários (Anffa Sindical), Maurício Porto, afirmou que o déficit desses profissionais no Ministério da Agricultura é da ordem de 850 funcionários. Na terça-feira Maggi havia dito que a quantidade de fiscais está aquém das necessidades.
EM.