Ele diz que já matou 70 rivais em Belo Horizonte, todos traficantes de drogas. Jura para a polícia que nunca tentou tirar a vida de um trabalhador ou pai de família. O “exterminador de gentalhas” é o bandido Kiko, de 34 anos. Um criminoso que é velho conhecido das autoridades de Minas por assalto a bancos e outros delitos.
O homem já foi condenado pela Justiça a 29 anos de prisão por um homicídio, dois roubos e porte ilegal de armas, mas, desde abril do ano passado, usufruía do benefício de progressão do regime. No semiaberto, ele voltou a vender drogas e armas na região do Barreiro e travou uma nova guerra com outros bandidos na disputa por território.
Rotina entre a cadeia e o tráfico
Kiko foi preso novamente na última quarta-feira, no bairro Santa Helena, na região do Barreiro. Ele estava em um carro, com 30 Kg de cocaína e duas pistolas, estacionado ao lado do imóvel onde passava as manhãs refinando drogas e de lá voltava à noite para o Complexo Penitenciário Público-Privado (CPPP), em Ribeirão das Neves.
A prisão foi resultado de uma investigação do Departamento de Crimes Contra o Patrimônio (Depatri), da Polícia Civil, que apurava a origem de armamentos de uso restrito do Exército encontrados ao longo dos últimos meses nas mãos de criminosos em BH e Contagem. De acordo com a corporação, Kiko era o responsável pela venda dessas armas, oriundas de outros países.
“Durante as investigações de crimes contra o patrimônio na capital e na região metropolitana, nós identificamos que os criminosos estão com um forte material bélico. Armas importadas, de calibre restrito. Temos a certeza de que elas vieram de fora do país. Então tentamos localizar de onde essas armas vinham para BH e chegamos a um antigo assaltante de bancos, o Kiko, que se encontrava em regime semiaberto e vinha praticando o tráfico e fomentando esse comércio do armamento bélico”, afirma o delegado João Prata, responsável pela operação.
Matou 70 ou não?
Conforme o Depatri, agora caberá à Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), também da Polícia Civil, apurar se as 70 mortes que o criminoso diz ter cometido em BH realmente ocorreram ou se isso é apenas uma tentativa dele para aumentar sua reputação entre os rivais.
“Ao conversamos com ele (Kiko), identificamos que é um homicida contumaz. Já vamos entrar em contato com o DHPP para constatar a veracidade dessa quantidade de homicídios que ele mesmo narra que praticou em conflito com outros traficantes. Ele diz que cometeu o primeiro assassinato aos 12 anos. E desde que saiu do semiaberto matou vários outros, eram quatro ou cinco por conflito com os outros criminosos”, ressalta o delegado.
O que diz a Seap e a Justiça
A reportagem de O TEMPO questionou a Secretaria de Estado de Administração Prisional (Seap) se Kiko era monitorado diariamente quando deixava o CPPP, por quanto tempo ele permanecia na penitenciária, e quais atividades ele alegava praticar, como trabalho ou estudo, para usufruir do regime semiaberto. A reportagem aguarda um posicionamento da pasta.
Da mesma forma, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) também foi procurado para responder às mesma questões.
Segundo a assessoria do órgão, Kiko teve a progressão do regime fechado para o semi-aberto no dia 10 de abril de 20017. Ele recebeu autorização para trabalhar em uma empresa no centro de Belo Horizonte, mas não era monitorado por tornozeleira eletrônica.
Ainda conforme o TJMG, o detento só podia sair do CPPP de segunda a sexta entre 6h e 20h e aos sábado de 6h às 14h. A autorização de saída dele era apenas para o trabalho, sem poder frequentar qualquer outro local.
Além disso a Justiça informou que ele vai retornar para o regime fechado.