Mais uma vez, a internet se mostra terreno fértil para a aplicação de golpes contra os consumidores. Dessa vez, estelionatários estão usando plataformas de compra e venda para praticar os crimes. Basicamente, o golpista entra em contato com um vendedor que tenha um anúncio no Mercado Livre, demonstra interesse na compra e pergunta se o produto está disponível também em outro site de vendas. Caso a resposta seja afirmativa, o golpista entra no outro site e pede que a vítima mande um link da oferta do produto disponível no Mercado Livre.
De posse das informações, o estelionatário cria um e-mail falso do Mercado Livre e o envia para o vendedor, comunicando que o “comprador” já efetuou o pagamento via cartão de crédito. Imediatamente, o golpista manda outra mensagem com o endereço para entrega. O vendedor, então, envia o produto para o local indicado. Passados alguns dias, ele descobre que o pagamento não foi feito.
Quase sempre, os moradores dos endereços indicados não têm noção de que participaram, involuntariamente, de um golpe. Segundo eles, o estelionatário paga uma pequena taxa pelo “favor”, alegando, por exemplo, que o local onde mora não é atendido pelo Sedex.
“O que impressiona é a semelhança do e-mail falso com o verdadeiro do Mercado Livre, que não pode ser culpado por isso”, diz o advogado Matheus Costa de Melo Moreira, especialista em direito digital e do consumidor. Apenas na semana passada, ele recebeu pelo menos 15 ligações de pessoas que caíram no golpe, com prejuízos entre R$ 500 e R$ 2.000.
“Nesses casos, é fundamental que a vítima arquive todos os e-mails recebidos e procure o mais rápido possível uma delegacia especializada em crimes virtuais, ou uma outra qualquer, para registrar queixa. Dessa forma, poderemos entrar com uma ação na Justiça pedindo a quebra do sigilo cadastral do responsável pelo IP e pelos e-mails falsos”, explica Moreira.
Comuns. O delegado chefe da Divisão Especializada em Investigação de Fraudes da Polícia Civil, Rodrigo Bustamente, admite que os golpes envolvendo sites de compra e venda são “corriqueiros”, e afirma que várias queixas já foram registradas na unidade policial.
“Há várias investigações em andamento apurando esse tipo de crime, envolvendo páginas copiadas do Mercado Livre e de outros sites. Porém, é preciso deixar claro que as empresas, a princípio, não podem ser responsabilizadas, já que os autores do golpe obtém as informações através de fontes abertas, disponíveis para todos. Por isso, não nos parece falta de segurança dos sites”, diz ele.
Babá desempregada perdeu notebook que valia R$ 1.800
Entre as vítimas que procuraram o escritório do advogado Matheus Costa de Melo Moreira está uma babá desempregada, de 43 anos, que pediu para não ser identificada. Ela conta que o suposto “comprador” viu em um site de compras o anúncio de um notebook que ela estava vendendo por R$ 1.800, para pagar as contas que estavam atrasadas.
“Ele me mandou um e-mail e perguntou se o produto estava sendo anunciado também no Mercado Livre. Eu falei que sim e ele pediu que eu enviasse um link com as informações do anúncio. Logo depois, recebi um e-mail, que parecia ser do Mercado Livre, confirmando o pagamento e informando o endereço de entrega, em São Paulo. Aparentemente estava tudo certo, e eu despachei o produto. Uma semana depois, o dinheiro não estava na minha conta e eu descobri que havia caído num golpe. No fim, tive um prejuízo de quase R$ 2.000, incluindo o preço do notebook e o do Sedex”, lamenta ela, que não conseguiu mais contato com o “comprador”.
Enganada
“Aparentemente estava tudo certo, e eu despachei o produto. Uma semana depois, o dinheiro não estava na minha conta e eu descobri que havia caído num golpe. Tive um prejuízo de quase R$ 2.000, incluindo o preço do notebook e o do Sedex.”
Vítima do golpe
Site de vendas diz que tem orientado os seus clientes
Procurado pela reportagem, o site Mercado Livre não disponibilizou nenhuma fonte para comentar o assunto. Por meio de nota, afirmou que “devido à crescente incidência de e-mails falsos no comércio eletrônico em geral, tem informado constantemente seus clientes que o local seguro para verificar as movimentações de suas vendas e/ou compras é a área ‘Minha conta’, disponível ao usuário logado no site”.
Nesse sentido, diz o texto, “o cliente não deve considerar nenhuma mensagem sem checar as informações de sua conta e a existência de crédito. Somente nesse local o usuário pode confirmar as movimentações e as mudanças em seu saldo de Mercado Pago, tais como os pagamentos recebidos”.
Ainda segundo a nota, “somente após essa confirmação é que o vendedor deve enviar seu produto”. A empresa também tem recomendado que dados de contato (endereço de e-mail, por exemplo) não sejam informados no campo de perguntas dos anúncios.
De acordo com ela, “todas essas recomendações estão disponíveis na página de Termos & Condições de Uso do site. Por meio dessa página, segundo o Mercado Livre, o usuário também pode denunciar um e-mail falso.
“Depois de avaliado pela equipe do Mercado Livre, se comprovado que o comprador ou o vendedor utilizou o nome do Mercado Livre indiscriminadamente, o mesmo terá sua conta inabilitada na plataforma”, conclui a nota.
Fonte: O TEMPO