Ituiutaba, Minas Gerais. A Fazenda Palmeiras, escolhida para ser uma das quatro propriedades referência do projeto Redução da Marca a Fogo em bovinos, participa da substituição da técnica pela identificação dos animais por meio de brincos. Desde agosto de 2021, a propriedade deixou de fazer nove das 10 marcações nos animais.
A iniciativa é conduzida pela empresa BE.Animal, o grupo ETCO – Grupo de Estudos e Pesquisas em Etologia e Ecologia Animal, da Unesp – Jaboticabal e a Fazenda Orvalho das Flores, com o apoio das empresas MSD Saúde Animal – e sua marca Allflex – e JBS.
O proprietário, Antônio Campbell Penna, está à frente da fazenda há 30 anos e faz questão de acompanhar todo o trabalho realizado. Hoje ele conta com um rebanho de 1.350 cabeças de gado e grande parte ainda carrega a marcação a fogo em várias partes do corpo. Essa realidade começou a mudar há poucos meses, quando a forma de fazer a identificação dos animais passou a ser por meio de brincos coloridos e bottons visuais e eletrônicos.
Das 10 marcações a fogo que eram feitas no couro dos animais, apenas uma ficou mantida, que é a marca da fazenda. “Cada mês e ano de nascimento tem uma cor de brinco e é isso que identifica quando foi a chegada do animal na fazenda, e não mais pela marcação a fogo. Só mantivemos a marca da fazenda em uma das patas do bovino por segurança”, detalha Penna.
Segundo o professor da Unesp e co-fundador da BE.Animal, Mateus Paranhos, a marcação a fogo é um procedimento antigo, tradicional e que carrega uma cultura em torno da prática. No entanto, a técnica é desgastante para os funcionários responsáveis pelo serviço, além não estar de acordo com os preceitos de bem-estar animal.
“Identificar os animais com brincos ao invés da marca a fogo traz diversos benefícios, como a redução do estresse animal, valorização do couro do bovino, além de vantagens para os trabalhadores da fazenda, para o pecuarista e para a própria imagem de toda a cadeia produtiva da pecuária”, detalha Paranhos.
Maior segurança e valorização do couro
Na Fazenda das Palmeiras todos os animais são cadastrados no Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Bovinos e Bubalinos (SISBOV) e recebem o brinco assim que chegam à propriedade.
“O procedimento é importante porque dá ao fazendeiro uma segurança maior. Os funcionários sabem que o pecuarista tem esse controle nas mãos, diariamente, a qualquer momento. É fundamental também porque conseguimos registrar e acompanhar a evolução da cada animal”, comenta Penna.
Outro benefício da substituição da marca a fogo pelos brincos de identificação é o melhor aproveitamento do couro do animal. Mateus Paranhos explica que muitas das marcas eram colocadas na parte nobre do couro que engloba dorso, costado e anca, mesmo sendo proibida por lei (Lei nº 4.714, de 29 de junho de 1965). Com os brincos, há o menor risco de desvalorização do couro porque a aplicação não deixa cicatrizes na pele do animal.
Projeto busca orientar fazendas para que sejam referência na identificação animal
Além da Fazenda Palmeiras, o projeto Redução da Marca a Fogo vem sendo implantado em outras três propriedades brasileiras: Fazenda São Clemente, em São José dos Campos-SP, Fazenda Rio Corrente, em Coxim-MS, e Fazenda Cambury, em Araguaiana-MT.
De acordo comMateus Paranhos, essas quatro fazendas foram escolhidas para serem referência a outras propriedades que, no futuro, possam ter interesse em fazer a substituição de algumas marcas a fogo pelos brincos. “Já temos demanda por todo o Brasil. Do Rio Grande do Sul à Bahia, temos sido procurados por muitos proprietários ávidos em saber mais e interessados em adotar essa prática”, comenta Paranhos.
O diretor da unidade de negócios MSD Saúde Animal Intelligence, que atua com o portfólio da marca Allflex, Ivo Martins Alves Filho, explica que a identificação com brinco permite individualizar o rebanho e, atrelado a uma planilha ou software de gestão, otimiza o trabalho da propriedade e permite ao pecuarista fazer o gerenciamento de forma mais assertiva. “A identificação individual é uma importante ferramenta de gestão da atividade pecuária, além de contribuir para o bem-estar dos animais e das pessoas que atuam com eles”, destaca Martins.