Um dos principais pontos turísticos de Belo Horizonte, a Lagoa da Pampulha voltou a ser alvo de preocupação para o risco de transmissão da febre maculosa, especialmente às vésperas do Festival Sensacional, que começa nesta sexta-feira (23/6). Depois de uma novela de oito anos para o manejo das capivaras, um dos hospedeiros do carrapato-estrela, não há registro de febre maculosa na cidade. Ainda assim, permanece o alerta para os visitantes adotarem medidas de proteção individual, como botas e roupas longas.
Em 2017, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) iniciou um processo para controlar a população de capivaras na Lagoa da Pampulha, restringindo a reprodução dos animais por meio da esterilização e microchipagem. "Os adultos não têm a doença, não transmitem. Com a esterilização, não houve mais multiplicação da doença", explica Leonardo Maciel, gerente de Defesa dos Animais da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMMA). A medida veio depois da morte de um menino de dez anos, em 2016, após um passeio na lagoa.
Os animais continuam sendo monitorados pela PBH. "Mesmo quando não houver capivaras, o monitoramento deve ser contínuo", afirma. De lá para cá, o número de capivaras no local diminuiu consideravelmente. A contagem pulou de cerca de 100 animais para 12, conforme levantamento feito no ano passado. Além da esterilização, outros fatores contribuem naturalmente para a redução das capivaras na Lagoa da Pampulha. "Houve mortes naturais e outras por disputa de território com outros animais da região", aponta Maciel.
A presença das capivaras traz um alerta para a doença, mas o gerente da Secretaria Municipal de Meio Ambiente ressalta que o animal não é o vilão. "Provamos cientificamente que o manejo ético das capivaras foi o que levou ao controle dos quadros clínicos. Uma doença não é culpa de ninguém. A capivara não merece ser atacada", destaca. A febre maculosa é transmitida pela picada do carrapato e é causada pela bactéria do gênero Rickettsia. A doença não passa diretamente entre pessoas pelo contato.
Apesar de Belo Horizonte não ter casos de febre maculosa há dois anos, a população deve se manter alerta e tomar cuidados ao visitar áreas de mata, não apenas a Lagoa da Pampulha. Parques e áreas de mata próximas a córregos, rios e lagos podem ser pontos de risco. Especialistas recomendam proteção individual a qualquer pessoa que tenha contato com áreas de mata. "Sempre depois de uma atividade ao ar livre, ver se não está com algum carrapato no corpo. Avisar o médico que esteve em local de mata, caso tenha algum sintoma", alerta o gerente da SMMA.
Febre maculosa em MG
Minas Gerais registrou, só neste ano, nove casos de febre maculosa e, desses, dois resultaram em morte, ambos registrados em Manhuaçu, na Zona da Mata mineira, conforme dados da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG). O índice de letalidade, em 22%, mostra o quanto a doença pode ser potencialmente fatal, e demanda atenção da população e do poder público.
A doença ocorre em todo o estado, com destaque para as macrorregiões de saúde Centro, Vale do Aço, Leste e Leste do Sul, aponta documento divulgado pela SES-MG. Embora os casos possam ocorrer durante todo o ano, trata-se de uma doença sazonal. "Verifica-se que a maior frequência de casos é registrada no período de seca, especialmente entre os meses de abril a outubro", diz o informativo.
De acordo com o documento, elaborado pela Coordenação de Zoonoses e Vigilância de Fatores de Risco Biológicos, entre 2018 e 2022 foram confirmados 190 casos da doença no estado e 62 óbitos, com taxa de letalidade média no período de 33%. As faixas etárias mais acometidas estão compreendidas entre 41 a 60 anos, com 72 casos confirmados no período de 2018 a 2022; na população infantil (faixa etária até 10 anos), foram registrados 28 casos confirmados.
Exames aumentam em Minas
Pelo menos 80% da demanda de exames para diagnóstico de febre maculosa na Fundação Ezequiel Dias (Funed) são de Minas Gerais, onde já foram registradas duas mortes pela doença neste ano. Somente entre 1º e 19 de junho, 160 amostras deram entrada na instituição com suspeita da doença, conforme divulgado nesta sexta-feira (23/6). Os outros 20% são do Ceará, Distrito Federal, Goiás, Pernambuco, Rio de Janeiro e Tocantins.
O diagnóstico tardio é um dos fatores que elevam a gravidade da doença, que se manifesta de forma repentina, e com sintomas semelhantes a outras infecções, como febre alta, dor na cabeça e no corpo, falta de apetite e desânimo. O quadro se agrava com náuseas e vômitos, diarreia e dor abdominal, dor muscular constante, inchaço e vermelhidão nas palmas das mãos e sola dos pés, gangrena nos dedos e orelhas. Nos casos mais graves, pode haver paralisia, começando nas pernas e subindo até os pulmões, o que pode causar parada respiratória.
A doença tem cura, desde que o tratamento com antibióticos específicos seja administrado nos primeiros dois ou três dias da infecção. De acordo com o Ministério da Saúde, mesmo sem diagnóstico confirmado, o medicamento deve começar a ser aplicado. Atrasos no diagnóstico e, consequentemente, no início do tratamento podem provocar complicações graves, como o comprometimento do sistema nervoso central, dos rins, dos pulmões e das lesões vasculares e levar ao óbito.