São Paulo — Além da JBS e BRF, várias empresas entre escritórios de advocacia, frigoríficos e empresas de logística foram citadas na decisão da Operação Carne Fraca, deflagrada nesta manhã.
O pedido de prisão preventiva emitido pela Polícia Federal não detalha as acusações atribuídas a cada empresa. Elas teriam pago propina a fiscais para obter aprovações irregulares.
O documento cita, genericamente, que foram encontrados casos de companhias usavam, em suas operações, carnes podres com ácido ascórbico para disfarçar o gosto, frango com papelão, pedaços de cabeça e carnes estragadas empregadas como recheio de salsichas e linguiças, além de produtos vencidos que foram reembalados para venda.
Frigorífico Peccin vendia até carne estragada, diz PF
São Paulo – Um dos frigoríficos que foram alvos, hoje, da Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, o Peccin, do Paraná, é acusado de ter usado carne estragada em seus produtos.
A informação foi dada por Joyce Igarashi Camilo. Ela era a veterinária responsável pelo frigorífico Peccin, em 2014, e afirmou que a empresa “também comprava notas fiscais falsas de produtos com SIF (Serviço de Inspeção Federal) para justificar as compras de carne podre, e utilizava ácido ascórbico para maquiar as carnes estragadas” (essa empresa, Peccin Agroindustrial S.A., não tem relação com a Peccin S.A., fabricante de doces e chocolates de origem gaúcha).
Normélio Peccin Filho e Idair Antônio Piccin, sócios do frigorífico, têm algumas de suas declarações mencionadas na decisão da PF, que deixam claro o aval para práticas ilícitas dentro das normas de vigilância sanitária alimentícia.
Em uma delas, autoriza o uso de presunto podre “sem cheiro” para a produção alimentícia. Em outra, Idair manda uma funcionária comprar 2.000 quilos de carne de cabeça para a fabricação de linguiça. Este é um trecho de gravação divulgado pela Polícia Federal:
IDAIR – Você ligou?
NAIR – Eu, sim eu liguei. Sabe aquele de cima lá, de Xanxerê?
IDAIR – É.
NAIR – Ele quer te mandar 2.000 quilos de carne de cabeça. Conhece carne de cabeça?
IDAIR – É de cabeça de porco, sei o que que é. E daí?
NAIR – Ele vendia a 5, mas daí ele deixa a 4,80 para você conhecer, para fechar carga.
IDAIR – Tá bom, mas vamos usar no que?
NAIR – Não sei.
IDAIR – Aí que vem a pergunta né? Vamo usar na calabresa, mas aí, é massa fina é? A
calabresa já está saturada de massa fina, é pura massa fina.
NAIR – Tá.
IDAIR – Vamos botar no que?
NAIR – Não vamos pegar então?
IDAIR – Ah, manda vir 2.000 quilos e botamos na linguiça ali, frescal, moída fina.
NAIR – Na linguiça?
IDAIR – Mas é proibido usar carne de cabeça na linguiça…
NAIR – Tá, seria só 2.000 quilos para fechar a carga. Depois da outra vez dá para pegar um
pouco de toucinho, mas por enquanto ainda tem toucinho (ininteligível).
IDAIR – O toucinho, primeira coisa, tem que ver que tipo de toucinho que ele tem.
Outras empresas
A lista de empresas investigadas pela PF na operação Carne Fraca inclui JBS e BRF, duas das cinco maiores exportadoras do país, reconhecidas como as maiores empresas de carne do mundo. Além delas, aparecem na decisão outros frigoríficos grandes e pequenos.
Essas empresas são acusadas de participar de um esquema de corrupção no Ministério da Agricultura. No entanto, exceto em alguns casos, como o da Peccin, a Polícia Federal não detalhou as acusações correspondentes a cada empresa.
A PF apenas diz, genericamente, que foram encontrados casos de companhias que usavam, em suas operações, carnes podres com ácido ascórbico para disfarçar o gosto, frango com papelão, pedaços de cabeça e carnes estragadas empregadas como recheio de salsichas e linguiças.
Trata-se da maior operação já realizada na história da PF, segundo a instituição, com mais de 1.100 policiais mobilizados em seis Estados (Paraná, São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Goiás) e no Distrito Federal.
Entre os presos, executivos das companhias e fiscais do Ministério da Agricultura. A investigação aponta que os frigoríficos tinham influência para escolher os servidores que iriam efetuar as fiscalizações na empresa, por meio de pagamento de propina.
Roney Nogueira dos Santos, gerente de relações institucionais e governamentais da BRF, e o vice-presidente José Roberto Pernomian Rodrigues (que já havia se envolvido em um escândalo anterior, na Cisco) estão na lista.
As ordens foram expedidas pela 14ª Vara da Justiça Federal de Curitiba (PR) e orientam 38 de prisão (27 preventivas e 11 temporárias), 77 de condução coercitiva e 194 de busca e apreensão locais supostamente ligados ao grupo criminoso.
O que diz a JBS
A JBS, por meio de sua assessoria de imprensa, enviou esta declaração a EXAME.com:
“Em relação à operação realizada pela Polícia Federal na manhã de hoje, a JBS esclarece que não há nenhuma medida judicial contra os seus executivos. A empresa informa ainda que sua sede não foi alvo dessa operação.
A ação deflagrada hoje em diversas empresas localizadas em várias regiões do país ocorreu também em três unidades produtivas da Companhia, sendo duas delas no Paraná e uma em Goiás. Na unidade da Lapa (PR) houve uma medida judicial expedida contra um médico veterinário, funcionário da Companhia, cedido ao Ministério da Agricultura.
A JBS e suas subsidiárias atuam em absoluto cumprimento de todas as normas regulatórias em relação à produção e a comercialização de alimentos no país e no exterior e apoia as ações que visam punir o descumprimento de tais normas.
A JBS no Brasil e no mundo adota rigorosos padrões de qualidade, com sistemas, processos e controles que garantem a segurança alimentar e a qualidade de seus produtos. A Companhia destaca ainda que possui diversas certificações emitidas por reconhecidas entidades em todo o mundo que comprovam as boas práticas adotadas na fabricação de seus produtos.
A Companhia repudia veementemente qualquer adoção de práticas relacionadas à adulteração de produtos – seja na produção e/ou comercialização – e se mantém à disposição das autoridades com o melhor interesse em contribuir com o esclarecimento dos fatos.“
O que diz a BRF
A BRF também se manifestou por meio de sua assessoria de imprensa, que enviou esta declaração a EXAME.com:
“Em sua página de relações com investidores, a BRF publicou o seguinte a seguir, assinado pelo diretor presidente global, Pedro de Andrade Faria.
A BRF, nos termos da Instrução CVM nº358, de 3 de janeiro de 2002, comunica aos seus acionistas e ao mercado em geral que, em relação à operação da Polícia Federal realizada na manhã desta sexta-feira, está colaborando com as autoridades para esclarecimento dos fatos.
A companhia reitera que cumpre as normas e regulamentos referentes à produção e comercialização de seus produtos, possui rigorosos processos e controles e não compactua com práticas ilícitas.
A BRF assegura a qualidade e a segurança de seus produtos e garante que não há nenhum risco para seus consumidores, seja no Brasil ou nos mais de 150 países em que atua.“
Alvo da Carne Fraca lavava dinheiro em franquia do Subway, diz PF
São Paulo — Juarez José de Santana é chefe da Unidade Técnica Regional de Agricultura de Londrina, no Paraná, e alvo de mandado de prisão preventiva na operação Carne Fraca, da Polícia Federal.
Segundo o relatório da da PF, Juarez é dono de uma franquia do Subway, que está em nome de familiares e é usada para lavar dinheiro do esquema de corrupção.
Formalmente, a franquia está em nome das filhas de Juarez, mas, segundo a PF, uma delas mora em São Paulo e a outra, em Guiné-Bissau.
A PF acusa Juarez de chefiar uma organização criminosa instalada na Regional de Londrina. Os grampos telefônicos registram que ele marcou encontros, organizou a coleta de propinas e solicitou produtos alimentícios e armazenamento às empresas.
Em ligações interceptadas, Juarez combina encontros com outros denunciados na própria franquia, para, segundo a PF, tratar de propinas e assuntos ilegais longe dos escritórios do governo.
A Polícia Federal também afirma que ele supervisionou a redação da defesa de uma empresa autuada por irregularidades sanitárias.
Por meio de nota, a assessoria de imprensa da Subway diz que “não é alvo de uma investigação da Polícia Federal, em conexão com a alegada lavagem de dinheiro. A rede, que há tempos tem estabelecido políticas na condução dos seus negócios de forma íntegra, jamais toleraria qualquer tipo de corrupção. Informa ainda que colaborou com a Polícia Federal em sua investigação e continuará a fazê-lo, se solicitado. Juarez José Santana, preso hoje durante a ação policial, não é operador ou proprietário de uma franquia da rede“.
A rede de franquias diz ainda que “é criteriosa na seleção de franqueados e fornecedores e avalia regularmente o desempenho dos proprietários. Além disso, realiza auditorias constantes na cadeia de abastecimento para ajudar a garantir a qualidade dos produtos, alimentos e serviços aos clientes“.
Operação Carne Fraca
A maior operação da Polícia Federal foi deflagrada hoje para investigar fraudes em regionais do Ministério da Agricultura.
Mais de 1.100 policiais foram mobilizados em seis estados (Paraná, São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Goiás) e no Distrito Federal.
Segundo a PF, as empresas investigadas (entre elas, a BRF e a JBS) pagavam propina a fiscais. Em alguns casos, o objetivo era obter a liberação de alimentos em desacordo com as normas sanitárias. Com poucas exceções, a PF não especificou quais acusações são atribuídas a cada empresa.
Mas era Friboi? Tony Ramos fica surpreso após “Carne Fraca”
São Paulo – Mas é Friboi?
Esse bordão ficou famoso na voz do ator Tony Ramos, que estrelou diversos comerciais da marca Friboi em anos recentes.
De acordo com a campanha, perguntar se a carne tinha procedência Friboi era sinônimo de atestar a qualidade do produto.
Muitos consumidores lembraram dessas campanhas hoje (17), após a deflagração da operação “Carne Fraca” pela Polícia Federal.
A investigação apura um complexo esquema de corrupção envolvendo dezenas de marcas, empresas e frigoríficos, inclusive a JBS (que detém a marca Friboi, além de Seara e Swift, entre outras).
Segundo o site Ego, Tony Ramos se manifestou sobre o ocorrido.
“Estou surpreso com essa notícia. Eu sou apenas contratado pela empresa de publicidade, não tenho nenhum contato com JBS”, disse.
Segundo o site, Ramos ainda acredita na boa qualidade dos produtos e diz que tem carne deles em seu freezer. Diz usar as carnes nos churrascos do fim de semana.
“Não sou técnico no assunto que a Polícia Federal está fazendo a ação, mas existe um controle em todas as embalagens, existe um código de barras que as pessoas podem acompanhar a qualidade e a validade”, disse.
O ator revelou que vai entrar em contato com a JBS para saber detalhes do caso.
“Não sei se faria novamente [comerciais da Friboi], se eles forem inocentados dos erros que estão sendo acusados, eu faria. Eu vou checar essa informação imediatamente”, afirmou.
Fonte: Exame.com