A esperada denúncia contra o presidente Michel Temer por corrupção passiva provocou uma reunião de emergência no Palácio do Planalto. Tão logo a acusação se confirmou, Temer chamou para o gabinete a advogada-geral da União, Grace Mendonça, além de ministros mais próximos, os assessores de comunicação e o porta-voz, Alexandre Parola. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, denunciou criminalmente Michel Temer por corrupção passiva no caso JBS e atribui crime ao presidente a partir do inquérito da Operação Patmos — investigação desencadeada com base nas delações dos executivos do grupo J&F, que controla as empresas dos irmãos Joesley e Wesley Batista.
Ao longo do dia, o presidente demonstrou disposição de partir para o enfrentamento. Pela manhã, durante cerimônia de sanção da lei que legaliza a diferenciação de preços entre meios de pagamento — à vista ou a crédito —, o peemedebista deu ênfase às pretensões de permanecer no cargo. “Não me canso de falar que o Brasil está nos trilhos e na rota da superação. Portanto, meus amigos, ninguém duvide que nossa agenda de modernização é a mais ambiciosa em muito tempo. Tem sido implementada com tenacidade. Não há plano B. Há que seguir adiante. Portanto, nada nos destruirá. Nem a mim nem a nossos ministros”, declarou.
Nos bastidores, o governo tenta se defender das denúncias do ponto de vista político e jurídico. Como o processo contra ele só pode ser aberto após autorização de dois terços dos deputados, o presidente tenta afagar a base aliada e os partidos que o apoiam. Já acelerou a liberação de R$ 1 bilhão em emendas parlamentares, além de sinalizar com um Refis para pagamentos de dívidas, desburocratização de linhas de financiamento do BNDES para governadores e prefeitos, além de renegociação de débitos de estados e municípios.
A estratégia adotada pelo procurador Rodrigo Janot de fatiar as denúncias contra o presidente, para dificultar a ação do governo junto à base, irritou o Planalto. “Isso só mostra que as denúncias são frágeis e que o procurador-geral está agindo politicamente”, reclamou um interlocutor do presidente. Temer também demonstrou contrariedade com outro gesto de Janot, desta vez ao Congresso.
O procurador-geral sinaliza que poderá estabelecer uma diferenciação de punição, no âmbito das investigações da Lava-Jato, entre os políticos que receberam propinas e aqueles que praticaram caixa dois. Para Temer, isso seria uma tentativa de “comprar a simpatia dos parlamentares” e pressioná-los a favor da abertura do processo contra o presidente.
Ainda assim, os aliados do presidente tentam manter o discurso otimista. A defesa do peemedebista vai mostrar que ele não praticou os crimes dos quais é acusado. Lembraram que a ação do agora ex-deputado Rodrigo Rocha Loures de pegar o dinheiro de propina com os representantes da J&F foi realizada quando ele era deputado federal e, não mais, assessor especial da Presidência. “Além disso, o próprio advogado de Loures disse que seu cliente agiu de maneira pessoal”, declarou um aliado.
Em relação às demais acusações contra o presidente, auxiliares do governo lembraram que não há como acusar o Executivo de corrupção porque a J&F, que fez as denúncias, não levou qualquer vantagem na atual gestão, diferentemente do que aconteceu nos anos de administração petista. No caso da obstrução de Justiça, os aliados do presidente afirmam que, além do diálogo com Joesley não ser explícito, tanto o doleiro Lúcio Funaro quanto o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha negaram qualquer tentativa de Temer de comprar o silêncio deles.
Paulo de Tarso Lyra, Rodolfo Costa /Correio Braziliense