Se a falta de oportunidades no mercado de trabalho e a baixa qualidade de vida nas cidades aparentam ser uma porta fechada na vida dos jovens brasileiros, uma nova janela pode se abrir. E o melhor: com vista para a França. É que o governo francês lançou, nesta quinta-feira (1º), o programa Férias-Trabalho para o Brasil. Por meio dele, pessoas que têm entre 18 e 30 anos podem morar e trabalhar por até um ano no país europeu, sem nem mesmo precisar saber falar o idioma local.
Além da idade, o único pré-requisito é uma comprovação financeira de 2,5 mil euros (ou seja, que você tenha cerca de R$ 9,8 mil guardados), mais o necessário para comprar as passagens de ida e volta. Apesar de não ser exigido, o conhecimento da língua francesa é recomendado. Se atender às primeiras exigências, o candidato deve entrar no site da Embaixada, preencher um formulário e agendar a entrevista presencial, para a qual deve ir levando estes documentos. O visto deve ser solicitado com uma antecedência máxima de dois meses em relação à data desejada para a viagem.
Alexandra Mias, porta-voz da Embaixada da França no Brasil, explica que o objetivo do programa é possibilitar que os jovens brasileiros possam descobrir o país e conhecer melhor a cultura francófona. “Para eles, a facilidade dos trâmites administrativos é muito interessante, além da experiência cultural do intercâmbio com as pessoas do país, seja no contexto pessoal ou profissional. Muitas vezes, representa também uma primeira experiência profissional no exterior, que pode ser valorizada na volta”, avalia.
O programa ficará aberto por tempo indeterminado e a ideia é que o número de vagas cresça progressivamente ao longo dos anos, conforme o número de interessados. A Embaixada não precisou um número, mas disse esperar que a procura seja alta, “levando em consideração a influência da cultura, modernidade e civilização francesas no Brasil.” A representação destacou ainda que o programa, que começa a valer agora para os brasileiros, já existe há 20 anos e funciona em outros países, como Argentina, Chile, Colômbia, México e Uruguai.
O acordo é bilateral. O que significa que jovens franceses também poderão trabalhar no Brasil. A Embaixada crê que o programa será um sucesso também na outra mão desta via. “De maneira geral, os franceses são apaixonados pelo Brasil e sua rica cultura, pela qual têm uma fascinação profunda há muito tempo”, conclui Mias.
Tire suas dúvidas sobre o programa
É fácil conseguir um emprego na França?
De acordo com alguns brasileiros que já foram em busca de uma vaga, sim. A mineira Larissa Miranda enfrentou esse desafio em maio de 2016, bem antes de o programa entrar em vigor. Inicialmente, ela trabalhou como babá. Depois, com a ajuda da indicação de uma amiga, conseguiu uma vaga de garçonete em um restaurante. Larissa afirma que vagas como essa podem ser encontradas sem grandes dificuldades. “Seja em loja ou em restaurante, estão sempre contratando, e falar português é um bônus. Mas tem que falar francês bem né? É essencial”, pondera.
Outro brasileiro que também partiu para a Europa em busca de trabalho foi Heitor Garcia, 25 anos. Para ele, todo o processo foi facilitado pelo fato de já ter estudado e se formado na França. Na avaliação do paulista, o programa recém-lançado pode ajudar outros jovens a terem as mesmas chances que ele. “É uma ótima oportunidade pra quem quer conhecer o país e adquirir uma experiência internacional, podendo se bancar e deixar um pouco mais barato. Pra quem não estuda, abre muitas portas e agiliza demais para empresas que possam estar interessadas, porque uma das grandes barreiras é justamente a obtenção do visto de trabalho, que além de longa é bastante complicada na administração francesa”, justifica.
Quanto eu gastaria para participar do programa?
Em relação aos custos de uma empreitada como essa, o diretor de vendas da agência de intercâmbios e viagens Student Travel Bureau (STB), Rui Pimenta, estima que, além das passagens, os jovens brasileiros gastarão, em média, 900 euros (R$ 3,5 mil) mensais com moradia, alimentação e transporte na capital francesa. Na avaliação dele, o programa é uma boa opção para quem quer aprender o idioma francês e, posteriormente, retornar ao país para fazer uma pós-graduação, por exemplo.
“O programa vai contribuir, principalmente por que a França tem um perfil acadêmico e muitos jovens desejam ir para lá para fazer uma pós com um custo benefício bom”, diz. “A gente entende que os jovens querem, sim, viajar. Mas a maior parte está de olho na área acadêmica”, acrescenta.
Consegui um emprego. Posso ficar mais de um ano?
Não. O visto de Férias-Trabalho não pode ser prorrogado. Segundo a Embaixada da França, se um brasileiro tiver um projeto que ultrapasse os 12 meses, ele deve voltar ao Brasil e pedir um outro visto que se adeque à situação (trabalho, estudos, etc), justificando a necessidade dessa nova autorização.
Fonte: Estado de Minas