O assassinato do juiz italiano Giovanni Falcone –personagem que inspira Sergio Moro– completa 25 anos nesta terça-feira (23).
O juiz foi um dos grandes responsáveis da “Maxi Processo”, operação que teve seu auge na segunda metade da década de 1980 ao colocar na cadeia cerca de 350 mafiosos.
O sucesso das investigações se deu principalmente pela colaboração de Tommaso Buscetta (1928-2000), mafioso italiano que foi extraditado pelo Brasil em 1984.
Também conhecido como “Don Masino”, Buscetta, ex-integrante da Cosa Nostra, foi o primeiro a quebrar a omertá –o código de silêncio dos criminosos italianos– ao entregar rivais, antigos parceiros e políticos a Falcone.
A morte do juiz se deu em um momento de grande crise política na Itália.
Deflagrada em fevereiro de 1992, a Operação Mãos Limpas revelou um esquema de corrupção envolvendo partidos e empresas, que culminou no fim do sistema partidário existente até então naquele país.
Considerada uma das maiores operações anticorrupção já realizadas na Europa, a investigação levou ao menos 3.000 pessoas à cadeia e investigou empresários, seis ministros e cerca de 500 parlamentares.
Outra vertente das investigações apontou ligações de políticos com a máfia, como no caso do então primeiro-ministro Giulio Andreotti (1919-2013), líder do partido Democrata-Cristão (PDC), relacionado diversas vezes à Cosa Nostra –ele foi absolvido de todas as acusações.
Falcone foi morto aos 53 anos, em 23 de maio de 1992, na explosão de uma bomba colocada em uma estrada nas proximidades de Palermo (Itália). Sua mulher, Francesca Morvillo, e três seguranças também morreram no atentado.
Cerca de dois meses depois, o também juiz Paolo Borsellino, seu colega de “Maxi Processo”, foi morto em outro ataque com explosivos.
Os assassinatos fizeram com que o cerco contra a máfia italiana se intensificasse. Para chegar aos criminosos, a Justiça da Itália contou com a colaboração de mafiosos “arrependidos”, assim como no caso de Buscetta, em 1984.
Com as delações, prenderam em janeiro de 1993 Salvatore “Totò” Riina, o “chefe dos chefes” da Cosa Nostra, foragido havia 23 anos, acusado de ter ordenado o atentado contra Falcone.
Com o mandante preso, faltava ir atrás do executor. Em maio de 1996, a polícia prendeu na Sicília Giovanni Brusca, outro alto chefe da máfia. O mafioso confessou ter apertado o botão do dispositivo que explodiu os mais de 400 quilos de TNT escondidos sob a estrada.
No dia 26 de setembro de 1997, a Justiça italiana condenou 30 criminosos pelo assassinato de Falcone. Dos sentenciados, 24 receberam prisão perpétua –entre eles Riina, o chefão. Os outros seis receberam penas de 15 a 26 anos.
Brusca, que detonou a bomba contra Falcone e havia sido delatado por um dos “arrependidos” por ter estrangulado um garoto de 11 anos e dissolvido seu corpo em uma banheira com ácido, colaborou com as investigações e foi um dos condenados a 26 anos.