A Polícia Civil apresentou nesta quinta-feira (5), na Delegacia Regional de Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte, o pedreiro Ronaldo da Silva, de 39 anos, suspeito de estuprar a própria filha durante sete anos. Os abusos teriam começado em 2011, quando a vítima tinha onze anos de idade e só vieram a tona nesta semana, quando a jovem, finalmente, criou coragem para denunciar o homem.
De acordo com a delegada Ariadne Elloise Coelho, uma madrinha da menina percebeu que algo não estava certo há algum tempo devido as mudanças de comportamento da vítima, que andava sempre triste, regredindo nos estudos e chorando muito. “No feriado da Páscoa, depois de uma discussão com o pai, a vítima entrou em desespero e tentou tirar a própria a vida ingerindo medicamentos”, revela.
A jovem foi encaminhada ao hospital e tudo não passou de um susto, mas foi a partir daí que a madrinha insistiu para saber o que estava acontecendo. “Elas vieram até a Delegacia na última segunda-feira (2) e, em depoimento, a vítima relatou que sofria ameaças de morte e os abusos aconteciam com a frequência de três à quatro vezes por semana, sendo que o último ato teria sido há um mês, mais ou menos”.
Para a delegada, o que mais chamou atenção no caso é a relação que o suspeito tinha com a filha, que era bem diferente da maneira que ele tratava os outros dois filhos. “Ele é possessivo com ela. Não era uma relação de pai e filha e, sim, como se ela fosse esposa dele. O ciúme era tanto que ele nunca permitiu que ela brincasse na rua, fosse na casa dos colegas, tivesse um celular ou mesmo redes sociais”, ressalta.
Ainda de acordo com Coelho, Ronaldo foi chamado para depor no dia seguinte, na terça-feira (3). Ele teria confirmado que mantinha relações sexuais com a jovem, mas alegou que havia consentimento e nunca teria ameaçado a filha. “Em depoimento ele afirmou que a garota propôs a prática de relações em troca de dinheiro, presentes e roupas”, diz.
Porém, as investigações realizadas pelas Polícia Civil constatam que a versão do homem não procede. “As testemunhas, inclusive a própria mãe da jovem, afirmam que nunca viram ela chegar com nenhum presente ou dinheiro em casa. Além disso, o laudo de corpo delito confirmou a conjunção carnal e o rompimento do hímen justamente na época em que os abusos começaram”, pontua.
O homem vai responder por três crimes: estupro de vulnerável, estupro de menor de 18 anos e ameaça autônoma. A delegada acredita que, se condenado, Ronaldo deve pegar pelo menos 20 anos de prisão.
Versão suspeito
O suspeito nega que teria abusado da filha durante sete anos, mas afirma que teria tido relações sexuais com a jovem duas vezes. O homem disse que está se sentindo humilhado e que tudo não passa de uma armação da filha. “Ela avisou que faria isso comigo se eu não a deixasse namorar.
Aliviada
Tímida, com o olhar triste, porém serena, a jovem conta que, durante esses sete anos, tentou pedir ajuda da mãe algumas vezes, mas devido as ameaças nunca teve coragem para desabafar. “Ele dizia que me quebraria inteira e me mataria. Eu tentei falar com minha mãe, mas ele sempre dava um jeito de aparecer na hora e me ameaçava. Ela não imaginava nada disso, então não podia me ajudar”, pontua.
Ainda assustada, a menina afirma que só quer retomar os estudos e seguir em frente. “É bem triste essa situação, mas me sinto muito aliviada. As pessoas falam que eu preciso dar o perdão à ele, mas eu ainda não consigo”, lamenta.
Alerta
A madrinha da jovem, que teve papel fundamental para que a denúncia fosse feita, ressalta a importância da família e dos amigos estarem sempre atentos com o comportamento das crianças e dos adolescentes. “Agora que o caso veio à tona, várias pessoas estão comentando que já haviam percebido algo estranho no comportamento dela, mas por medo da exposição e por falta de provas todos ficaram calados. Precisamos pensar que ninguém sofre mais do que quem está passando pela situação, então temos o dever de tomar uma atitude e ajudar quem passa por isso”, alerta.
“Não queremos vingança. Só queremos que a justiça seja feita, que ele pague por tudo que fez e agora é dar apoio para que ela siga em frente. Ela é muito nova, precisa superar e isso e seguir em frente”, finaliza.