Após ter perdido o nariz, os lábios e parte do queixo por conta de um câncer na boca, o rosto do encarregado de obras Marcio Palhares, 56, foi reconstituído a partir de um método que utiliza impressora 3D, na UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora), em Juiz de Fora (278 km de Belo Horizonte), Minas Gerais. Antes da reconstituição, por causa do aspecto do rosto, Palhares não saía de casa. “Nem à missa eu ia. Fiquei quatro anos sem sair de casa. Não tinha coragem. Causava muita repulsa nas pessoas”, diz.
“Fiquei sem tomar água durante três anos. Recebia líquido por sonda. Não conversava direito, as pessoas não me entendiam. Agora, estou até aprendendo a mastigar”, acrescenta.
Morador de um apartamento de três quartos no bairro Caiçara, região noroeste de Belo Horizonte, casado, pai de dois filhos, Palhares foi diagnosticado com câncer há oito anos, fez os tratamentos necessários e começou a fazer sessões de radioterapia para combater a doença.
Segundo o encarregado de obras, diversos cirurgiões em Belo Horizonte não recomendavam a cirurgia de reconstrução da face porque a irradiação do tratamento de radioterapia havia comprometido seus ossos.
“As cirurgias iniciais curam o corpo, mas só a prótese garante a reabilitação estética e psicológica para a pessoa que sofreu algum tipo de mutilação facial”, diz a cirurgiã-dentista Elizabeth Rodrigues Alfenas.
A especialista diz que não há dados oficiais e levantamentos sobre a incidência da mutilação facial no país. “Ninguém conhece o problema porque a pessoa com mutilação facial não sai de casa. É invisível. Ninguém as vê”, afirma.
A técnica da cirurgia de reconstrução da face consiste num exame de tomografia computadorizada, com o crânio ou parte dele sendo recriado tridimensionalmente por meio de programas de computador, o que possibilita o planejamento da cirurgia. Após isso, é confeccionada a impressão em 3D em gesso, que mostra a extensão do dano e o volume ósseo da área.
Segundo Alfenas, com esses parâmetros em mãos, o cirurgião intervém sabendo como serão os implantes das barras metálicas que sustentarão a prótese facial, moldada em silicone que pode receber pigmentações para chegar a uma coloração da pele próxima da que a pessoa tem.
Alfenas transferiu a técnica desenvolvida durante três décadas na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) para a UFJF, em dezembro de 2013, quando iniciou o programa que já atendeu nove pacientes, além de Palhares, que tiveram reconstituídas face, olho, nariz e orelha. O atendimento cirúrgico é gratuito.