Segue internado no Hospital de Pronto-Socorro (HPS) João XXIII, em Belo Horizonte, o mecânico de motos Anderson Alves da Silva, de 44 anos, que é conhecido como Tequinho, que esteve em coma desde o último domingo (26) após ser agredido por um policial militar durante uma confusão em um bar de Lagoa da Prata, no Centro-Oeste mineiro. Na versão dos militares envolvidos, o homem teria tentado tomar a arma deles e, por isso, foi derrubado no chão, porém, vídeos feitos por testemunhas indicam que ele apenas se aproximou do policial quando foi agredido de repente.
O TEMPO conversou com um amigo da vítima, que não quis ser identificado por medo e que estava no bar no dia. Ele conta que outras pessoas, conhecidas de Tequinho, colocaram uma mesa em uma rotatória em frente ao bar e, por isso, a Polícia Militar (PM) foi acionada. “Eles chegaram para agredir, não para pedir que saíssem da rua. Já chegaram chutando, sendo que as pessoas que estavam fazendo farra já começaram a ir para a calçada assim que viram a chegada da viatura”, lembra.
Na versão das testemunhas, Tequinho sequer estava na rua, mas dentro do bar até quando viu os policiais agindo com truculência contra um amigo, chutando o homem que já estava algemado e no chão. “Ele saiu do bar para conversar com os policiais, falar que não precisava disso, pedindo calma. Mas assim que ele chegou perto já foi agredido e caiu desacordado após bater a cabeça com força no chão. O policial continuou pressionando ele no chão, tentando algemá-lo, e só parou quando todo mundo começou a gritar que ele estava desmaiado e sangrando muito. Tivemos medo até de chegar perto para ajudar ele, para socorrer, com medo de também sermos agredidos pelos PMs”, detalha a testemunha.
Apesar dos gritos desesperados de amigos da vítima e até funcionários do bar para que o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) fosse acionado, Tequinho foi deixado caído no chão enquanto perdia muito sangue. Após algum tempo, três amigos e um primo da vítima decidiram carregá-lo nos braços até o hospital, que estava a um quarteirão do local. Somente neste momento os militares pararam uma caminhonete, onde os amigos o colocaram sobre a tampa traseira e ele foi levado para a unidade de saúde.
Depois que o mecânico chegou ao hospital, ele foi rapidamente levado para dentro pelos médicos, porém, os policiais não deixaram que os amigos entrassem para obter informações. “Eles não queriam que a gente explicasse o motivo do ferimento e, por isso, nos deixaram do lado de fora. Ele é um cara do bem, nunca teve confusão com ninguém, pessoa muita querida em Lagoa da Prata e outras cidades da região. Queremos que as autoridades competentes analisem estas imagens, pois os policiais deram entrevista em vários locais falando que ele tentou tomar a arma, mas no vídeo dá para ver claramente que não é bem isso que aconteceu”, completa o amigo de Tequinho.
Confira o vídeo completo do momento da agressão:
Estado de saúde
Devido à gravidade do ferimento sofrido pela vítima, ele precisou ser transferido para o HPS João XXIII. A Fundação Hospitalar de Minas Gerais (Fhemig) não divulga o estado de saúde das vítimas, porém, segundo familiares e amigos de Tequinho, ele teve um traumatismo craniano e ficou em coma até esta quarta-feira (29), quando teria começado a recobrar a consciência. Um novo boletim de seu estado de saúde deverá ser divulgado aos familiares nesta tarde.
“Estamos todos orando por ele, pois é um cara de coração enorme. Ele vive com a mãe e faz tudo para ela, tem um filho também. Todo mundo gosta muito dele, pois nunca se vê ele com raiva, triste. É uma pessoa sempre brincalhona e alegre, que gosta de tocar umas modas de viola, compor umas músicas”, disse um amigo.
Nesta terça-feira (28), amigos e familiares fizeram uma grande manifestação em Lagoa da Prata pedindo que a agressão por parte dos militares seja devidamente investigada e os responsáveis punidos pela truculência. “Isso não pode passar em branco, todos queremos Justiça. Pois somos cidadãos de bem e não merecíamos passar por uma coisa dessas. A família do Tequinho está chocada, a mãe dele está sofrendo muito”, finaliza.
Outro vídeo mostra o desespero dos amigos ao verem a gravidade de Tequinho:
Outro lado
A reportagem tentou ouvir o comando da Polícia Militar (PM) na cidade, porém, a corporação divulgou apenas uma nota em que afirma que os policiais compareceram, por volta de 00h12 de segunda-feira (27) na rua Cirilo Maciel, onde uma solicitante relatou que ocorria perturbação de sossego em um bar por pessoas que colocaram mesas e cadeiras na rotatória da avenida Getúlio Vargas, onde “faziam uso de bebidas alcoólicas, promoviam algazarras e ouviam som alto, perturbando a tranquilidade”.
“No local, a guarnição policial deu ordem para que os indivíduos saíssem da via pública e, durante a retirada das mesas e cadeiras, o suspeito J. A. M. J. 29 anos, passou a desobedecer às ordens emanadas e resistir a prisão. Nesse momento o suspeito A. A. S., 44 anos, tentou subtrair a pistola cal .40 de um militar que reagiu fisicamente na tentativa de impedir que arma fosse levada, vindo o infrator a cair, batendo a cabeça ao solo”, argumentou a nota.
Ainda de acordo com a PM, o “suspeito” foi socorrido ao Pronto-Atendimento Municipal (PAM). O homem de 29 anos foi preso pela resistência.
“O comandante do 7º BPM – Tenente-Coronel PM Rodrigo Teixeira Coimbra – esclarece que a PMMG prima pela lisura e transparência de suas ações e que diante da situação, está sendo instaurado um Inquérito Policial Militar para investigar os fatos e qualquer prova contrária ao que foi registrado pelos militares será alvo responsabilização criminal e administrativa”, concluiu a nota.