Capinópolis, Minas Gerais. O prefeito de Capinópolis, Cleidimar Zanotto, vestido à caráter, sancionou a lei 1703/21, que institui o Dia do Nordestino em Capinópolis. A lei foi sancionada na tarde da última quinta-feira (19.ago.2021), na sala de reuniões da Prefeitura Municipal de Capinópolis e contou com a presença de personalidades da região nordeste.
O projeto de lei é de autoria do vereador Edward Sales Moreira (PSDB). Cabe ressaltar que não será feriado municipal.
“Capinópolis através de lei municipal, já reconhece a importância do povo migrante nordestino que, em Capinópolis, radicou-se para viver, formar suas famílias e criar seus filhos. A lei é um ato de homenagear este povo de cultura, de hábito e modo tão ricos e de afirmar que o progresso de Capinópolis se deve muito à garra, à disposição, à determinação e à força nordestina. A lei institui o Dia Nordestino e Nordestina como ato de reverenciá-los, comemorar sua chegada e continuidade em nossa terra e de principalmente resgatar a dívida social com os mesmos e mesmas, em especial da maciça vinda na década de 50 e 60, que buscaram com grandes sacrifícios em Capinópolis, melhorias para suas vidas. Ressaltando aqui as referências comunitárias nordestinas do Srs. “Zé Bezerra”, “Mané Gardino” e in memoria “Mané Benino”. Hoje a realidade é outra com nossa CRV, que de maneira digna, dá todo apoio numa terceira fase de migração”, destacou Edward Sales, conhecido Edwardão.
O Prefeito Cleidimar Zanotto fez suas considerações, enalteceu os nordestinos e anunciou a criação da Lei Municipal que institui e inclui no calendário oficial de eventos de Capinópolis.
O evento contou com a presença de Paulo Fernando Cavalcanti de Morais Filho, diretor da usina CRV Industrial — vindo do Estado da Paraíba e José Bezerra, empresário aposentado. O evento também contou com a presença da Secretária de Educação e Cultura de Capinópolis, Iracilda Duarte, além de vereadores da base governista.
Com a palavra franqueada aos presentes, todos falaram sobre a cultura do nordeste, da importância dos que vieram de lá e, radicados em terras triangulinas, ajudaram a região a se desenvolver.
Em 2021, Capinópolis viu partir duas personalidades nordestinas importantes na geração de renda e de empregos locais. Paulo Fernando (pai), fundador da Usina CRV Industrial, que faleceu em 09 de março e o ex-usineiro João Lyra, fundador da antiga usina Vale do Paranaíba, que faleceu em 12 de agosto.
Nordestinos na construção de Capinópolis
Em 2005, há exatos 16 anos, a historiadora Marina Braga desenvolveu um trabalho acadêmico focado na migração do povo nordestino. A historiadora reuniu entrevistas feitas com pessoas que viveram a fome e grandes limitações na região nordeste, enfrentando dias de viagem até desembarcarem em terras capinopolenses.
Sonhando com o novo ‘Eldorado’, promovido pelo ciclo virtuoso do arroz na região, milhares de pessoas migraram-se de vários estados do nordeste rumo à Capinópolis.
“Os que tinham alguma condição financeira, vinham em jardineiras, mas a grande maioria viajava nos ‘paus-de-arara’. O trajeto durava dias e sofrimento era grande”, disse Marina Braga.
“Capinópolis tem grande porcentagem de sua população constituída por homens e mulheres oriundos da região nordeste do Brasil, praticamente do Rio grande do Norte. Fugindo da seca e da falta de alimentos, buscando um sonho de viver melhor, partiam para o sul do Brasil. A rádio Platina anunciavam diariamente a viagem de trabalhadores. A saga de viagens na década de 40, 50, e meados de 60 eram enormes. Viajaram de forma desumana em paus de arara, e o ponto final era a pensão do “Chico Binha” em Ituiutaba, ou algum ponto em Itumbiara, no estado goiano. Dai continuava a luta de trabalho em troca de alimentos escassos e moradia precária. Foi muito sofrimento para os antecessores dessa geração. Nós valorizamos e reconhecemos essa luta. Tenho enorme admiração e me emociono em saber que toda região teve suas lavouras abertas pelos braços desses homens e mulheres que arriscaram viver num “paraíso” onde enfrentaram descriminação preconceitos e crimes. Aos poucos Guerreiros anônimos, sem voz, deixo meu reconhecimento”, completou a historiadora.
Ainda segundo Marina Braga, muitos trabalhadores eram vendidos como mercadorias ao chegarem em Capinópolis e viviam em condições degradantes. As situações foram relatadas à historiadora por meio de depoimentos.
À época, a historiadora entrevistou o senhor Antônio Custódio, conhecido como “Tonhão”, que esclareceu como que o aumento da produção provocou a vinda dos nordestinos para trabalhar na lavoura, “Tinha muito meeiro que plantava a terra só cum recurso da natureza, mas aí é que vem a intervenção do nordestino, num sei se ocê sabe, tinha fazendeiro que tocava lavoura grande, e eles tinha até 50, 60 nordestino pra trabaiá pra ele”, diz o relato registrado como lê — o Tudo Em Dia manteve a grafia original do trabalho, que representa a fala dos entrevistados. O senhor Antônio Custódio já faleceu.
O senhor Antônio Pereira, conhecido como Antônio Kilim, nasceu em Coronel Ezequiel (RN), e mudou-se para Capinópolis em 1957, relatou à Marina Braga em 2005 como os nordestinos ficavam informados sobre a região do Pontal do Triângulo Mineiro: “A gente ficava sabendo de boca em boca mesmo. Porque naquele tempo num tinha assim os veículos de comunicação, rádio, era de pessoas que vinham, iam e falavam. Influenciava muito porque na realidade aqui era mais fácil de ganha dinheiro mesmo. Porque lá no nordeste, mesmo tendo vontade de trabaiá num tem, as pessoas não tem como pagar, não tem dinheiro”, disse Antônio Kilim à época.
Antônio Kilim chegou a ser eleito vereador em Capinópolis em 2000, ocupando ainda, a presidência do Legislativo.
Dinair Maria Pereira Isaac, nordestina, foi prefeita de Capinópolis de 2009 à 2016.
Em 2019 o Tudo Em Dia homenageou o nordestino Manoel Galdino (Mané Gardino) com um episódio do Minha História em Dia
Fã do cangaceiro Lampião, Manoel Galdino anda pelas ruas de Capinópolis fantasiado com roupas semelhantes ao do personagem.
Quando o grupo de Lampião foi eliminado do sertão nordestino em 1938, Manoel Galdino tinha apenas 2 anos de idade. Filho de Pedro Galdino e Tereza Matias.
Cresceu na vida dura do sertão nordestino e acabou se acostumando com muito pouco ou quase nada. A alegria e a força de vontade eram as únicas farturas da vida de Manoel Galdino. Em 1971, vem para a região do Sudeste em um pau de arara.
O cangaceiro confirmou que nunca teve uma festa de aniversário. Aos 83 anos, Manoel Galdino ganhou sua primeira festa.