Uma ambulância segue em alta velocidade por uma rodovia. Dentro do veículo, além do motorista, estão uma senhora com câncer, deitada em uma maca hospitalar, e a filha dela, que a acompanha na parte de trás. De repente, as portas se abrem deixando a paciente e a passageira vulneráveis, sem nada mais que as impeça de cair no asfalto. O condutor não para, nem faz nada para resolver a situação.
O caso, registrado em vídeo e compartilhado no Facebook, aconteceu nesta semana em Uberlândia, no Triângulo Mineiro. A idosa era transportada para o Hospital das Clínicas da cidade.
“Gente, olha só a situação da ambulância que estava levando a minha mãe para o hospital. Isso é uma falta de respeito. O motorista falou que não tinha como ele fazer nada”, reclama na rede social Cinara Silva, umas das filhas da paciente.
Em nota, o Hospital das Clínicas, que pertence à Universidade Federal de Uberlândia (UFU), “lamenta o ocorrido e comunica que está apurando os fatos para tomar as providências cabíveis junto aos responsáveis”.
A instituição, no entanto, não explicou se o motorista que dirigia o veículo já foi identificado, o que ele alegou diante do caso, qual o defeito nas portas, se o problema já era de conhecimento da universidade e se o veículo fez todo o percurso com as portas abertas.
Especialista comenta caso
Segundo a educadora de trânsito do Centro de Ensino Técnico (Centec), Lilian Milane Oliveira, o motorista da ambulância deveria ter reduzido a velocidade do veículo imediatamente ao perceber que as portas estavam abertas. Como ele estava em uma rodovia, deveria ter se deslocado para a faixa mais à direita e procurado um local seguro para parar.
“Como as portas se abriram numa via de maior velocidade operacional, pensando na segurança da paciente e também dele, deveria reduzir a velocidade e só parar num lugar adequado. Se ele parasse no meio da rodovia, a chance de um acidente seria maior”, comenta a educadora.
Lilian, que dá aulas em Belo Horizonte para condutores em um curso especializado para transporte de veículos de emergência, credenciado pelo Departamento de Trânsito de Minas Gerais (Detran-MG), explica que os motoristas de ambulâncias são treinados e capacitados para seguirem uma série de procedimentos de segurança, entre eles fazer a checagem das portas e da correta fixação da maca antes do deslocamento.
“O Código de Trânsito Brasileiro e uma resolução do Conselho Federal de Medicina especificam que o motorista do veículo de emergência é responsável pela seguança do paciente em todo o trajeto. Ele tinha a obrigação de checar as portas antes de partir”, salienta.
“É claro que para afirmar se houve negligência ou imprudência do motorista, é preciso primeiro apurar de maneira criteriosa o que aconteceu. Mas se as portas foram bem fechadas por ele, só temos uma outra situação: elas não estavam em boas condições. Nesse caso o veículo jamais poderia circular”, completa.
Repercussão
O vídeo “viralizou” na internet e até a manhã desta sexta-feira já tinha mais de 61 mil compartilhamentos e centenas de comentários de pessoas indignadas. “Isso é uma falta de respeito com o cidadão brasileiro. Tinham que parar esse veículo e multar o motorista”, comenta um homem. “Que falta de amor ao semelhante. Autoridades tomem uma providência. Isso é uma vergonha, misericórdia”, desabafa uma mulher.
Outros usuários da rede social também ficaram indignados com a filha da idosa, que ao invés de segurar a maca com as duas mãos, usou um celular para registrar a situação em vídeo. “Pior que o motorista é você, que viu sua mãe em perigo e não fez nada para corrigir”, disse um rapaz.
Multa e retenção
O Código de Trânsito Brasileiro diz que o motorista que dirigir veículo em mau estado de conservação, comprometendo a segurança, comete uma infração grave. Se for flagrado, o condutor vai ser multado em R$ 195,35 e terá o veículo retido até que seja feita a regularização.
Assista ao vídeo:
Atualizada às 15h44.