“Vestida de azul e branco/ Trazendo um sorriso franco/ Num rostinho encantador/ Minha linda normalista/ Rapidamente conquista/ Meu coração sem amor…” A professora Cristina Marques emociona-se ao falar do Instituto de Educação de Minas Gerais (IEMG), onde trabalha como assistente técnica de educação básica, e solta a voz cantando “A Normalista”, samba de Benedito Lacerda e David Nasser, de 1949. Mas, para Cristina, a música considerada o hino de louvor à normalista – “menina-moça que só poderia se casar depois de se formar” – não poderia mais servir de trilha sonora para a antiga Escola Normal de Belo Horizonte – uma das mais tradicionais escolas públicas da capital e a maior do Estado, com 4.900 alunos.
O prédio, que é de 1898, está caindo aos pedaços por falta de manutenção. Várias salas e o auditório estão interditados desde março pela Defesa Civil. Há vidraças quebradas, pichações, e os banheiros estão em péssimo estado de conservação. Quando chove, o prédio fica alagado, e o telhado e o reboco das paredes ameaçam desabar sobre alunos e funcionários.
A professora de inglês Roseli Veiga conta que já chegou a dar aulas debaixo de guarda-chuva por causa das goteiras. “Não só eu, mas vários outros professores. A gente se protege da chuva até para passar de uma ala para outra. Tem goteiras horríveis. A secretaria da escola, a secretaria de aluno, a escadaria, tudo fica alagado”, reclama ela.
“O descaso com a educação é muito grande. A verba não chega, e a escola precisa de reformas urgentes. Temos muitas salas interditadas, e já dei aulas com a sombrinha aberta, pois chove dentro das salas de aula e escorre água pelos corredores”, denuncia a professora, que lamenta a interdição do auditório. “O telhado pode desabar na cabeça de qualquer um”, alerta Roseli, que foi aluna e se formou professora no instituto.
Outro que lamenta é o professor de história Antônio Amaro. “A gente fica com medo e torce muito para não chover, pois temos alunos de manhã, à tarde e à noite. Várias repartições públicas usavam o nosso auditório, e ele está fechado”, diz.
História. O prédio do IEMG começou a ser construído em 1897 e foi inaugurado no ano seguinte para abrigar o Fórum da Justiça. Em 1909, o espaço passou a ser utilizado pela Escola Normal Modelo.
Campanha para arrecadar verba
Além da falta de manutenção do prédio, o Instituto de Educação de Minas Gerais (IEMG) também sofre com a falta de materiais básicos, reclama o estudante Igor Gabriel Cristo dos Santos, 18, do Grêmio Estudantil.
“A escola está sem verba para quase tudo, tanto é que, por diversas vezes, o Grêmio fez campanhas para arrecadação de papel e produtos de limpeza que não temos na escola”, aponta Igor. Ele lembra que houve várias manifestações dos alunos no início do ano pela recuperação do prédio.
“A maioria das salas do ensino médio, no andar de cima, está interditada”, lamenta. E continua: “Estamos com dificuldade de fazer apresentações por falta de auditório, que é um lugar histórico, muito bonito. Estudo aqui há 14 anos e nunca vi uma situação tão precária. As aulas de educação física também são suspensas quando chove, pois a quadra fica alagada”.
Quem também se emociona ao falar do Instituto é Mateus Máximo Braga, 17. “O piso daqui está cheio de buracos. Eu comecei minha vida aqui e é muito triste essa situação da minha escola”.
Minientrevista
Maria Ignez
Professora de português e diretora geral de 1972 a 1995
Qual a importância do Instituto de Educação para Minas?
Ele sempre foi inovador. Podemos falar que o lado pedagógico de Minas nasceu dentro do Instituto de Educação. Ele vem de orientações dos maiores pensadores do mundo em termos de educação. Tinha a particularidade de trabalhar com todos os idiomas, desde a língua portuguesa, o latim, o francês, o inglês e partia também para o lado musical. Os professores tinham que passar por provas que eram muito apertadas, com notas muito altas, senão nunca seriam professores lá.
O abandono de hoje entristece a senhora?
Na minha época, eu lutei pela reforma do prédio do instituto. O assunto era tratado até na sala do governador. O Instituto tinha tudo. As quadras eram fantásticas, todas as salas funcionavam muitíssimo bem. Hoje, não gosto muito de passar ali por perto. Ele me traz lembranças muito carinhosas. Vejo do lado de fora, às vezes, e isso me entristece muito. Toda vez que passo perto, meus olhos se enchem de lágrimas. Lutei muito por aquilo. Até o jardim do Instituto foi refeito na minha época dentro das origens daquele prédio. Aquele prédio nunca ficou como está hoje. Jamais!