O músico João Bosco, autor da música “O Bêbado e a Equilibrista” ao lado de Aldir Blanc, publicou no Facebook nesta quinta-feira (7) uma nota de repúdio contra a Polícia Federal (PF), que conduziu coercivamente oito pessoas – entre elas o reitor da UFMG, Jaime Ramírez – em Belo Horizonte, nessa quarta (6), para depor na operação “Esperança Equilibrista”, que apura um suposto desvio de cerca de R$ 4 milhões em recursos públicos na construção do Memorial da Anistia Política do Brasil, projeto financiado pelo Ministério da Justiça e executado pela instituição de ensino.
O nome da operação da PF faz uma alusão à música de João Bosco, que ficou conhecida como o hino contra a ditadura. “Como vem se tornando regra no Brasil, além da coerção desnecessária (ao que consta, não houve pedido prévio, cuja desobediência justificasse a medida), consta ainda que os acusados e seus advogados foram impedidos de ter acesso ao próprio processo, e alguns deles nem sequer sabiam se eram levados como testemunha ou suspeitos. O conjunto dessas medidas fere os princípios elementares do devido processo legal. É uma violência à cidadania”, disse João Bosco.
“Isso seria motivo suficiente para minha indignação. Mas a operação da PF me toca de modo mais direto, pois foi batizada de “Esperança equilibrista”, em alusão à canção que Aldir Blanc e eu fizemos em honra a todos os que lutaram contra a ditadura brasileira. Essa canção foi e permanece sendo, na memória coletiva do país, um hino à liberdade e à luta pela retomada do processo democrático. Não autorizo, politicamente, o uso dessa canção por quem trai seu desejo fundamental”, completa.
Membros da CUT de Minas Gerais e do Sindicato dos Trabalhadores das Instituições Federais de Ensino (Sindifes) afirmam que a operação teve cunho político, em represália ao posicionamento da universidade nos últimos anos. A presidente da CUT no Estado, Beatriz Siqueira. criticou o modo de atuação da PF que cumpriu sete mandados de operação coercitiva, e 11 de busca e apreensão.
Dentre os conduzidos estavam o reitor da UFMG, Jaime Rodriguez, a vice-reitora Sandra Goulart, que foi eleita para o cargo de reitora a partir de março de 2018 e o presidente da Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep), Alfredo Gontijo.
“A UFMG está sofrendo um processo semelhante ao que aconteceu em Santa Catarina. Você criminaliza a instituição, cria a falsa ideia de desvio e condena primeiro e destrói moralmente a imagem da universidade. Não somos contra investigações, mas o que está acontecendo é um show midiático. As pessoas foram conduzidas sem ao menos informar o motivo da condução”, ressaltou Beatriz.