A estudante Gesiane Vieira, de 28 anos, e a operadora de caixa Rafaela Silva, de 25 anos, são mães de primeira viagem e vão comemorar o Dia das Mães pela primeira vez. Mas as duas têm outro motivo em comum para celebrar: os filhos nasceram prematuros e tiveram que ficar meses internados em UTI Neonatal. Elas contam os medos e como a experiência foi transformadora.
Gesiane é mãe de Sarah. A menina nasceu em 6 de fevereiro, prematura com sete meses (28 semanas e seis dias). Antes disso, no sexto mês de gestação, a mãe já precisou ficar internada porque começou a perder líquido amniótico, além de descobrir uma diabetes gestacional. A menina nasceu com 1,07kg, com problemas pulmonares.
Sarah precisou ficar dois meses e meio internada na UTI Neonatal do Hospital Márcio Cunha, administrado pela Fundação São Francisco Xavier, em Ipatinga, no Vale do Rio Doce. A mãe conta que uma psicóloga do hospital já havia conversado com ela sobre a possibilidade de internação do bebê.
“Ela me explicou e conversou bastante comigo. Mas, ainda assim, a gente não tem noção de como é lá. Não é fácil. Ali você convive com várias pessoas. Tem dias que seu filho está bem e você está alegre, mas tem dias que o filho de outras mães não está muito bem e você acaba se entristecendo por causa disso. Várias vezes, saía de lá chorando por causa de outros bebês que também estavam internados lá. A dor de uma mãe é a dor de todas’, desabafa.
Durante este período, a mãe, que mora em Vargem Alegre, precisou se mudar para a casa de uma tia, em Ipatinga. Ela passava o dia com a filha no hospital e só ia dormir na casa da tia. A estudante conta que pegou uma gripe e precisou ficar uma semana sem ver a filha. Nesse período, a equipe do hospital fazia videochamadas para a mãe ver como a bebê estava.
Volta para casa
Geisiane é casada há seis anos e tenta engravidar desde que o casamento completou um ano. As duas finalmente voltaram para casa em abril. Ela conta que sentiu um misto de alegria e medo. “Vivemos tantas coisas ali dentro e pensava se conseguiria dar conta de cuidar dela em casa. Não é um bebê que nasceu e foi direto para casa, teve que ficar aos cuidados médicos em uma UTI”, explica.
As duas não se desgrudam desde que saíram do hospital. “Ela dorme todos os dias colada comigo, se acostumou. Se eu coloco no berço, ela acorda.” Segundo a mãe, na UTI Neonatal, as crianças são colocadas junto ao corpo delas, para poderem escutar o coração. “Agora ela só dorme assim, ouvindo meu coração.”
O primeiro Dia das Mães com a filha será motivo de muita comemoração. "Minha filha foi um milagre de Deus. Ela foi guerreira demais. Nasceu bem pequena e muito frágil e hoje está muito saudável. Ser mãe é um presente de Deus, é um amor incondicional.”
A data também será cercada de cuidados e restrita aos pais, já que a menina ainda não pode receber visitas. “Só eu e meu marido temos contato com ela. Ela só sai para tomar vacina, ir ao pediatra e mais nada.”
Experiência para vida
Rafaela é mãe de Ravi. O menino nasceu em 29 de janeiro, também prematuro com sete meses (29 semanas e seis dias), pensando 1,428 kg e ficou 37 dias na mesma UTI Neonatal que Sarah. Durante este período o bebê teve uma anemia.
“Eu ia às 7h e, no início, saía de lá às 18h. Com o tempo, a gente vai ficando cansada, então saía às 15h. Mas ia todos os dias.”
Ela diz que, mesmo sabendo da possibilidade de internação do filho, a notícia foi um baque. “Já sabia que um bebê prematuro precisa ficar na UTI. Mas, ver ele lá, tão pequenininho, com a sonda. Aquela cena, bateu uma tristeza. Com o tempo, a gente vai se acostumando, vendo o bebê crescer, os cuidados das enfermeiras. É uma experiência que vou levar para o resto da vida”, afirma.
Rafaela destaca que a convivência com as outras mães na UTI criou laços que permanecem após a alta. Ela acabou ficando amiga de algumas, elas conversam e trocam experiências.
“Ali dentro acabamos virando uma família. As mães que convivem na Sala de leite. Passávamos muito tempo juntas ali, tirando leite, conversando.” Outras pessoas importantes no período da internação eram as enfermeiras. "Chegava lá, às vezes, desanimada. Elas davam apoio, colocavam um sorriso no nosso rosto, falavam que estava tudo bem com meu filho, que ele estava crescendo. Aquilo me fazia ter ânimo pra continuar porque não é fácil”, lembra.
A mãe diz que ficou feliz quando soube que Ravi ia receber alta. “Nem acreditei, fiquei tão feliz.” Ela também relata que deixar o hospital com o filho provocou um misto de felicidade e apreensão. “Dá insegurança. Aqueles aparelhos mexem muito com a gente. Ficava com medo dele ter alguma coisa em casa, até chegar no hospital de novo. A gente surta. Aos poucos o medo foi passando”, desabafa.
O primeiro Dia das Mães com o filho em casa vai ser de muita comemoração. “Vai ser maravilhoso, com um presentão. Eu não esperava passar o Dia das Mães com meu filho nos braços.” Ela conta que ainda não se planejou, mas deve passar a data na casa da mãe, com a família toda reunida. “Estou empolgada, é uma felicidade tão grande.”
Suporte durante a internação
Maiara Fagundes de Almeida é psicóloga da UTI neonatal do Hospital Márcio Cunha. É ela que acompanha as mães desde a internação – já que muitas precisam se internar por risco de parto prematuro, como no caso de Gesiane – até a alta. A psicóloga explica que as gestantes precisam de um suporte psicológico de vários profissionais.
"É um momento muito delicado na vida dessa mãe e de toda a família. Ela tem toda a idealização de uma maternidade e isso se frustra quando o bebê precisa ficar internado em uma UTI. Sai do que foi planejado, toda a família sofre. Por isso é tão importante atuar com recursos de enfrentamento e com técnicas de humanização”, ressalta.
A psicóloga lembra ainda que há uma quebra de expectativas. Por isso, é tão importante a mãe receber um suporte emocional e o profissional fazer uma interlocução entre a família e a equipe médica.
“Hoje na UTI neonatal do hospital, fazemos essa interlocução com a família, damos todo o suporte para a mãe ficar o dia inteiro ao lado do seu filho.”
Na unidade, as mães recebem alimentação, há um local de descanso e os avós podem visitar os bebês duas vezes por semana. Mãe e bebê também podem receber videochamada dos irmãos mais velhos para estreitar os laços e permitir uma interação da família.