Mais de 1,64 milhão de mineiros podem estar com o esquema vacinal atrasado por não terem retornado ao posto de saúde na data prevista para tomar a segunda dose de Coronavac, AstraZeneca ou Pfizer. A informação é da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), a partir de dados do SUS, do dia 10 de setembro, que revelam quantos registros de D2 ainda não haviam sido lançados de maneira oficial.
Embora existam casos de demora na atualização ou no lançamento de dados pelos municípios, que podem distorcer a realidade do ritmo na imunização, o dado é bastante relevante. O contingente de 1,64 milhão de mineiros corresponde a aproximadamente 18% das mais de 9 milhões de pessoas que poderiam receber a segunda aplicação até o momento no Estado. “Importante enfatizar que a inserção de dados não ocorre na mesma velocidade da vacinação, ou seja, os dados ainda podem ser notificados e lançados”, frisa a SES. Até o momento, segundo o Vacinômetro da SES, 36,97% da população total do Estado está completamente imunizada com duas doses ou com a vacina da Janssen.
Convocação é um desafio
O Brasil se aproxima da conclusão da convocação de toda a população adulta para a vacinação, mas o encerramento do esquema vacinal permanece como um desafio para todos os Estados, já que as duas doses são fundamentais para garantir a imunidade da população, especialmente frente a novas mutações, como a delta e a mu. Em Minas, até o momento, foram detectados 415 casos de variante delta e sete da cepa encontrada primeiramente na Colômbia.
Para Claudia Murta, infectologista da Santa Casa de Belo Horizonte, o poder público deve investir na propagação de informações qualificadas, mostrando à população a importância da segunda dose para que haja uma imunização individual e coletiva em relação ao coronavírus.
“É preciso que haja uma disseminação de boa informação. As pessoas precisam ter acesso a informações boas e de qualidade. Precisam saber que a segunda dose aumenta a proteção já oferecida pela primeira e também permite que a pessoa fique imunizada por um tempo mais prolongado. A segunda dose faz com que os anticorpos durem por mais tempo”, explica a médica.
A SES-MG afirmou que recomenda às equipes de saúde das secretarias municipais o trabalho de busca ativa de faltosos na vacinação, especialmente pela Atenção Primária, por meio dos Agentes Comunitários de Saúde, que realizam um contato direto com cada pessoa vacinada.
De acordo com a epidemiologista Carla Domingues, essa foi a primeira vez em que o país adquiriu dados completos dos usuários do SUS durante uma campanha de vacinação. Isso permite uma melhor busca ativa pela segunda dose. “Os agentes podem ligar para algumas pessoas que não retornaram aos postos e saber por que elas não voltaram. Assim é possível fazer um diagnóstico sobre os grupos que estão com adesão mais baixa”, explica.
Belo Horizonte não divulga número de atrasados
A Prefeitura de Belo Horizonte não informou quantas pessoas estão com esquema vacinal atrasado na capital, como já tinha feito antes. A Secretaria Municipal de Saúde afirmou que, como o comprovante de residência não costuma ser obrigatório na aplicação da segunda dose, muitas pessoas podem ter recebido a primeira etapa na capital e encerrado o esquema vacinal em outro município.
Cerca de 19% das pessoas vacinadas em Belo Horizonte residem em outras cidades – caso de parte dos profissionais da saúde, educação, limpeza, transporte, entre outros grupos prioritários. “Para a atualização do número de pessoas que ainda não concluíram o esquema vacinal será necessário acesso à base de dados do SIPNI, sistema do Ministério da Saúde, para cruzamento do registro nominal dos vacinados em Belo Horizonte e em outros municípios”, explica a secretaria, ao justificar a dificuldade em se mapear quantas pessoas na cidade ainda não haviam voltado ao posto de saúde.
A pasta esclarece ainda que o comprovante de residência passou a ser exigido para a aplicação de segunda dose para o público de 54 e 53 anos por causa da falta de AstraZeneca em outros municípios. A secretaria garantiu ainda que há doses do imunizante britânico para a aplicação da segunda dose do público de 45 a 48 anos na semana que vem.
“Para garantir que as pessoas completem o esquema vacinal, as equipes de saúde, durante as visitas domiciliares, conferem a situação vacinal e também reforçam a importância da vacinação. Esta ação também é realizada durante os atendimentos nos Centros de Saúde da Atenção Primária e ainda por contato telefônico nos acompanhamentos de rotina”, afirma a secretaria.
Para quem está com o esquema vacinal atrasado, a prefeitura instalou postos de repescagem, separados por tipo de imunizante – Coronavac, AstraZeneca e Pfizer. A população conta com um posto por regional para a segunda dose atrasada. A lista com os endereços pode ser conferida no portal da prefeitura.