O que o esporte uniu, o homem não separa. Blasfêmia? Nem um pouco. Numa época em que a saúde tornou-se prioridade para grande parte da população, não sobra muito espaço para maridos, mulheres ou namorados sedentários. E muitos casais têm descoberto que a prática de exercícios em conjunto pode uni-los ainda mais.
– O casamento é feito de momentos juntos. E quer melhor momento do que cuidar da saúde juntos? – resume Suzana Quinaud Jaenicke. Educadora física, ela está casada há 34 anos com Dalmo Jaenicke e a relação dos dois é baseada no esporte. – Nos conhecemos na faculdade e, desde que começamos a namorar, sempre trabalhamos juntos, nos mesmos horários, e também praticamos atividade física a dois – conta Dalmo, que tem a mesma profissão da mulher. Eles se conheceram quando os dois praticavam ginástica artística.
O marido chega a dizer que o casamento daria um bom estudo, devido ao tempo em que eles passam nas mesmas atividades. Porém, o esporte veio bem antes do amor.
– Comecei a praticar atividade física com 11 anos. Depois disso, nunca me vi um dia sem ela. Para mim, é uma questão de necessidade, algo que meu corpo pede. E sinto que tenho que me preocupar comigo mesmo – atesta Dalmo.
Não há dúvidas de que a atividade física traz benefícios à saúde. Entretanto, a correria diária quase sempre é usada como desculpa para postergar esse cuidado com o próprio corpo. Era o que acontecia com a empresária Simone Jabour. À frente de um bufê, ela e o marido, Celso Jabour, viram que o combo “tortas + doces + sedentarismo” poderia arruinar a silhueta de ambos. Tampouco era bom para a sua saúde.
– Cheguei ao ponto em que, se não tivesse uma vaga de estacionamento em frente à confeitaria, não parava. Ficava esperando dentro do carro até que ela surgisse. Hoje, gosto até de parar mais longe para ir caminhando – revela.
Em seis meses, com o acompanhamento de instrutor e nutricionista, a empresária saiu de uma vida sem exercício para sua primeira meia maratona. Celso apenas olhava. Cuidando dos negócios, lembrava dos esportes com uma nostalgia dos tempos de adolescente, mas começou a perceber que a mulher não só estava mais saudável, como mais bonita.
– Ela havia me pagado um ano de academia de presente. Não fui um dia. Depois foram mais seis meses. Também não fui. Quando percebi, tive que, literalmente, correr atrás para conseguir acompanhá-la. Agora, não concebo a ideia de alguém que não pratique alguma atividade – confessa Celso.
Hoje, marido e mulher, juntos há 26 anos, são praticantes tão assíduos de corrida que criaram um grupo, o Vmax, que agrega cerca de 70 corredores. Eles percorrem diversas cidades do país e do mundo, inscritos em maratonas e meia maratonas.
– Em março, estivemos em Portugal e, em maio, em Porto Alegre. Ainda vamos para o Rio de Janeiro, em julho, e, em outubro, participo da minha primeira maratona em Atenas, na Grécia – conta Simone.
Celso explica ainda que o encontro do grupo de corrida aos domingos sempre termina em confraternização, com boas comidas e bebidas.
– Agora, quando tomo alguma coisa, não acordo ruim no dia seguinte. Ao contrário, já acordo disposto. E a corrida é algo diário. Até mesmo nas minhas viagens, sempre levo um par de tênis e procuro logo saber onde fica o melhor local para me exercitar.
Para ele, a relação com Simone ficou ainda melhor após a adoção da prática física conjunta.
– Tudo o que você faz junto de quem ama é melhor. Nos envolvemos em um mesmo objetivo e isso nos dá prazer.
Simone completa:
– É bem melhor correr ao lado dele.
Malhar junto, sim. Depender do outro, não
Dependência não é algo saudável. Portanto, se um não pode se exercitar em um dia, o outro não deve abortar o esforço por esse motivo. A educadora física Suzana Quinaud Jaenicke, que pratica esporte com o marido, explica que o ritmo da atividade não deve ser baseado no parceiro.
– Você não deve ficar preso à companhia. Mas é bom ter alguém que estimule, dê forças para continuar o trabalho. Às vezes, quando estou cansada e vejo o Dalmo malhando, me animo e faço também.
A educadora acredita que os resultados podem ser mais rápidos quando se faz uma atividade em conjunto, já que também há o desejo de ficar mais bonita para o companheiro.
O casal mantém uma miniacademia em casa, com vários aparelhos aeróbicos. A dupla se dedica tanto ao esporte que se vale da própria experiência (e da vitalidade trazida por ela) para tentar convencer mais gente a praticar.
– Sempre procuro fazer um trabalho de convencimento com meus amigos. Quando eles tomam gosto pela coisa, deixo que continuem sem mim. Agora, todos os nossos amigos praticam alguma atividade – garante Dalmo.
A busca por uma melhor qualidade de vida não só traz vantagens ao corpo. A beleza física fica também em evidência e, com isso, o casamento se mantém como um namoro eterno.
– Namoramos até hoje. Vamos ao cinema, saímos para jantar, dançar, até mesmo podemos ir a um motel diferente. Sempre estamos como no começo do namoro – garante Dalmo.
Suzana explica que o exercício faz com que o corpo possa acompanhar a mente, garantindo que, independentemente da idade, os casais fiquem em sintonia em relação aos desejos.
– Se o corpo não acompanha a sua disposição, isso vai gerar uma frustração. É preciso que eles andem juntos. Por isso, cada um deve conscientizar o parceiro de que, se ele não estiver bem consigo mesmo, não estará bem no casamento.