O programa Caminhos da Reportagem mostra, a partir das 20h, deste domingo na TV Brasil, o país que o brasileiro vai encontrar nas Olimpíadas, remarcadas para julho de 2021. A pandemia da covid-19 mudou os planos dos japoneses e do mundo, mas não o estilo de vida de quem nasceu na ilha de 126 milhões de habitantes.
As diferenças no cotidiano entre lá e aqui são imensas, mesmo para os descendentes de japoneses no Brasil. Para começar ninguém diz bom dia ou tchau com aperto de mão, abraços ou beijinhos no rosto. O cumprimento com a inclinação do corpo para frente pode acontecer em ocasiões inesperadas até pra quem é filho de imigrantes como o professor de Relações Internacionais Alexandre Uehara.
“Na minha primeira ida ao Japão, quando abria uma conta no banco, o funcionário soube que eu estava lá para estudar com uma bolsa do governo japonês, ele se levantou e se inclinou para mim, mostrando reverência pela posição que eu estava chegando lá”, disse Uehara.
Sobrevivente da bomba em Hiroshima, Junko Watanabe, de 73 de idade, em visitas à família, enfrentou críticas pelo uso de jeans e tênis, roupas consideradas inadequadas para mulheres de sua faixa etária.
Em um país onde a mulher com diploma universitário não tem o direito de trabalhar mais do que 20 horas por semana, a dona de casa Niko Aoka, deu aulas de inglês quando era jovem, mas parou para criar os filhos. Hoje em dia, ela vai ao parque com as amigas em busca de inspiração para aprender Haiku, a poesia japonesa. Hábito cultivado pelas japonesas a partir de 60 anos, que a sra Junko aqui no Brasil, dispensa: “eu não quero ficar em casa fazendo Haiku”.
Ao contrário dos brasileiros, os japoneses dificilmente abrem a porta de casa para quem não é parente ou amigo. O designer gráfico e músico Juta Sugai, 73, nascido e criado em Tóquio, é uma exceção. Partiu dele o convite para a reportagem conhecer o lugar onde mora com direito a um chá: “não existe o melhor ou pior lugar pra viver; eu morei 13 anos nos Estados Unidos, gosto de entrar e contato com culturas diferentes”.
Mas o estrangeiro que vive no Japão, mesmo casado e falando o idioma com fluência, segundo a fotógrafa Tanja Houwerzijl, radicada no Japão há mais de dez anos, sempre se sentirá como um forasteiro. Para seus amigos na capital japonesa “não importa se você está casado há 40, 50 anos, você nunca será aceito completamente pela sociedade”.
No Brasil, os jovens descendentes só querem se livrar das piadas sobre “olhos puxados” e deixarem de ser alvo do chamado preconceito amarelo – as agressões contra asiáticos, intensificadas durante a pandemia. A atriz Beatriz Diaféria e Kiko Morente, um dos criadores do canal Yo Ban Boo, explicam como pode ser libertador representar as cenas de constrangimentos, em vídeos no You Tube. A comunidade de jovens asiáticos se fortalece quando percebe que o incômodo com piadas pode ser enfrentado com a palavra.
O programa especial sobre o Japão também conversa com Larissa Uehara e Hitomi Matsuda, duas jovens que nasceram no Brasil mas tomaram caminhos distintos: Larissa demorou pra conhecer a terra de seus antepassados e diz que não se acostumaria ao modo como a mulher se submete aos rígidos padrões japoneses. Depois de estudar dez anos no Japão, Hitomi não se acostumou a viver no Brasil e voltou para Tóquio onde se sente mais ajustada com sua própria imagem, como sempre foi vista, “uma japonesa”.
Portas e corações se abriram para a reportagem em Tóquio, a capital e Sapporo, no norte do país. As cenas mostram a convivência entre o que é moderno e conservador, lento e veloz, numa cultura que hoje, em tempos de coronavírus, não abre mão de suas máscaras.
Reportagem
Bianca Vasconcellos
Produção
Bianca Vasconcellos
Deise Machado
Pollyane Marques
Éverton Siqueira (estagiário)
Maria Clara Pereira (estagiária)
Imagens
Bianca Vasconcellos (Japão)
Jefferson Pastori
Auxílio técnico
Ivan Meira
Videografismo
Lucas de Souza Pinto
Edição de imagens e finalização
Maikon Matuyama
Roteiro e direção
Bianca Vasconcellos