Cerca de 30 horas de angústia, desespero e solidão. Após ser encontrado à beira de uma lago em uma mata em Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte, por três homens, o pequeno Miguel Albino dos Santos de Jesus, de 2 anos, sentia muita sede e fome.
Ao ver os homens, Miguel – que, deitado na mata, esperava por um milagre – apenas chorou e pediu que matassem sua sede. Os lábios rachados e o corpo cheio de picadas de mosquitos, além de pequenos cortes, eram as marcas dos momentos que o menino loiro de olhos azuis passou entre o período em que desapareceu, na manhã de sexta-feira, até ser encontrado.
Miguel foi levado pelos três homens – os cunhados Raí Rodrigues da Silva, Jovânio Oliveira e Jonathas Aguiar Santana – para a delegacia de Betim. Ao se encontrar com a mãe, a diarista Elisângela de Oliveira, 39, todo sujo e comendo dois biscoitos, Miguel apenas disse que “estava com a barriguinha doendo”, enquanto a mãe, aliviada, abraçava o menino.
Para Ivan de Jesus e Elisângela, pais de Miguel, as cerca de 30 horas em que o menino ficou desaparecido foram de angústia, incertezas e orações. Enquanto viam a movimentação dos bombeiros – que, com cães farejadores, helicóptero e até drones, procuravam o menino na mata –, os pais, que são evangélicos, buscavam na fé o amparo para reencontrar o filho sumido.
Em entrevista à rádio Super Notícia FM antes do reencontro, a mãe de Miguel disse que acreditava que o menino havia sido levado por alguém e que retornaria ao local de onde desapareceu pelas mãos da mesma pessoa. “Creio em Deus e que Ele vai trazer meu filho de volta. Alguém pegou e vai trazer de volta”, enfatizou.
Já Ivan, que é pastor, procurava se livrar da culpa de ter perdido de vista o filho, enquanto saia para buscar lenha. “Eu me sinto culpado, eu falhei. Peço que o senhor Jesus me perdoe. Eu só queria continuar saindo do trabalho pegando meus filhos na creche e dando o Toddy para o Miguel, que ele tanto gosta”, lamentava o pai.
Polícia investigará
A Polícia Civil confirmou que vai investigar se algum crime foi cometido durante o período em que o menino Miguel Albino dos Santos de Jesus ficou desaparecido e as circunstâncias do sumiço.Em nota, a corporação confirmou que o garoto foi encontrado por populares que estavam no local do desaparecimento, no bairro Parque das Indústrias, em Betim.
Após ser levado por policiais militares até os pais, o menino foi encaminhado ao Instituto Médico Legal, em Betim, para passar por exames de corpo de delito. Em seguida, Miguel foi hospitalizado no Hospital Regional da cidade para tratar de uma desidratação. A unidade confirmou que o menino passa bem e que deve ter alta hoje.
O delegado responsável pelo caso, Leonardo Mota, passou o fim da tarde e o início da noite de ontem na delegacia de Betim colhendo depoimentos dos familiares de Miguel e de outras testemunhas. Os três homens que encontraram a criança também prestaram depoimento.
Homem não vai querer recompensa
Jovânio Oliveira, que junto com outros dois cunhados, encontrou Miguel após mais de uma hora de caminhada na mata, garantiu à reportagem de O TEMPO que não vai querer receber a recompensa de R$ 10 mil, oferecida pelo prefeito de Betim, o empresário Vittorio Medioli, a quem encontrasse a criança com vida. “Já perdi meu filho num shopping center e sei o que é esse sentimento. Apenas fui movido por ficar pensando em tudo que este menino passou durante esse tempo em que esteve longe dos pais.
Minientrevista com Jovânio Oliveira
De quem foi a ideia de tentar encontrar o menino?
Quando cheguei em casa, minha esposa disse que meu cunhado estava querendo ir procurar o menino. Ele disse que saiu de casa e deu um beijo no filho de 4 meses e avisou que não voltava para casa antes de encontrar o Miguel. Eu nem pensei duas vezes: saí com a roupa do trabalho para ir para as buscas.
E como foi o momento do encontro?
Nós saímos mata a dentro para procurar o menino. Caminhamos por mais de uma hora até que o achamos deitado. Ele estava muito assustado e com muita sede. Só pedia água e chamava pelo pai. Ele estava com os lábios rachados, o corpo todo cheio de mordidas de mosquito. Estava muito assustado e com fome.
Vocês foram movidos pela recompensa de R$ 10 mil?
Não teve nada disso. Somos pais e sentimos como se fosse com a gente. A vida de uma pessoa não tem preço.
Veja momento do reencontro de mãe e filho:
Mãe de garoto estava na delegacia aguardando para prestar depoimento quando recebeu informação de que o filho fora encontrado: