O ano de 2018 já passou da metade e a promessa do crescimento econômico e da melhora do mercado de trabalho foi confirmada como um grande engodo. As expectativas alvissareiras do governo não mudaram a realidade e a conta chegou, muito cara e pesada para os trabalhadores, as empresas e toda a sociedade.
O crescimento econômico, que beiraria os 4%, mirrou. Agora as estimativas oficiais mais otimistas indicam que o PIB deve crescer apenas 1,6% em 2018. No mercado de trabalho, os 1 milhão de empregos formais que seriam gerados neste ano tornaram-se algo em torno de 200 mil. Nessa dinâmica, serão necessários 15 “breves” anos para repor as vagas fechadas pelo projeto da ponte para o futuro.
A população brasileira em idade de trabalhar é de 170 milhões de pessoas (Pnad Contínua, IBGE, junho 2018), das quais cerca de 104 milhões formam a força de trabalho. Desse último número, 91 milhões são ocupadas e 13 milhões, desocupadas. O semestre foi encerrado com uma taxa de desemprego de 13%, segundo o IBGE. Em dezembro de 2016, estava em 6,4% e foi aumentando até atingir 13,6%, em 2017.
As desigualdades que perpassam a estrutura social brasileira também estão presentes no mercado de trabalho. Por exemplo:
- no Nordeste, a taxa de desemprego é de 16%, o dobro daquela observada no Sul (8,4%);
- entre os homens, é de 13,6% e, entre as mulheres, de 15%;
- entre os jovens de 18 e 24 anos, o desemprego chega a 28%;
- entre os jovens de 14 e 17 anos, a 44%;
- entre os brancos, fica em 10,5%;
- entre os pardos, em 15,1%;
- entre os negros representa 16%.
A ponte para o futuro preserva e aumenta essas desigualdades. A complicada situação econômica leva ao aumento da subutilização da força de trabalho, que já atinge 27,7 milhões de pessoas. Além dos 13 milhões de desempregados, são 4,6 milhões de trabalhadores que desistiram de procurar emprego, devido ao desalento, e 10,1, milhões de subocupados.
Os assalariados do setor privado são 37% da força de trabalho e os ocupados no setor público, 12%, totalizando cerca de 44,6 milhões de trabalhadores. Os assalariados sem carteira são 12%, os trabalhadores domésticos, 7%, os por conta própria, 25%, e os que atuam em negócios familiares, sem receber remuneração (trabalhador familiar auxiliar), chegam a 2%. Nesse universo de 43 milhões de trabalhadores, crescem a informalidade, a precariedade e a insegurança.
O nível de ocupação e o tamanho da força de trabalho ficaram estáveis no semestre porque 774 mil pessoas saíram do mercado. Entre 2017 e 2018, cresceram a ocupação precária dos conta própria e os assalariados sem carteira de trabalho, inclusive no emprego doméstico.
No futuro, trabalhadores que, no momento, desistiram de buscar uma vaga e os que têm se virado na precariedade voltarão a pressionar o mercado de trabalho, querendo emprego.
Tudo indica que o segundo semestre continuará com mais do mesmo. O país andando de lado, anêmico economicamente, resultado de uma terapia de alquimistas interessados em entregar o país aos interesses internacionais. A ponte já cedeu terra, minérios, água, florestas, empresas estatais, serviços públicos, empresas privadas.
Quem compra: (a) reestrutura, demite e coloca tecnologia no lugar do trabalhador ou; (b) transforma o que comprou em maquiladora do produto ou serviço importado, com postos de auxiliar e ajudante ou; (c) fecha a empresa, demite e ocupa o mercado com produtos importados.
Ganhando muito, os investidores ficam felizes com a ampliação das graúdas remessas de lucros. Nessa dinâmica, a economia continuará a patinar, o emprego minguará ainda mais e o mercado interno de consumo, formado pelo poder de compra das famílias, também. O Estado austero corta gasto e investimento. Com essas escolhas, o emprego acabará como peça de museu ou promessa para um futuro inexequível.
Para quem está empregado resta a reforma trabalhista. Para ilustrar, a Fiesp, primeiro, com pato e, agora, sapo, entrega a pauta aos sindicatos dos metalúrgicos para dar início às negociações do segundo semestre. De uma convenção coletiva de 64 itens, a entidade patronal propõe alterar 55, 38 ou qualquer outra quantidade de cláusulas, a depender do grupo setorial, rebaixando as condições de trabalho.
É preciso serenidade, pois a nova vida para a qual o Brasil foi conduzido via “ponte para o futuro” só está começando. E a ponte não é uma pinguela, muito pelo contrário. É uma espetacular forma de entregar o país e de desmontar os instrumentos soberanos de desenvolvimento econômico e social.
O resto do ano de 2018 ainda reserva momentos de emoção com o processo eleitoral. Tomara que a sociedade faça uma escolha que permita que o país mude o rumo e deixe a tragédia para trás. Se isso ocorrer, ainda haverá pela frente a mais dura e severa tarefa do período pós-redemocratização: reparar os grandes estragos gerados pelas inúmeras fraturas que foram expostas. Em muitos casos, o conserto terá que ser realizado sem anestesia. Os empregos e todos os seus atributos de qualidade e proteção devem ser prioridade absoluta.