Um marco na diplomacia global foi anunciado nesta sexta-feira (6), durante a cúpula do Mercosul em Montevidéu: o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia, que abrange 718 milhões de pessoas e um PIB conjunto de US$ 22 trilhões, finalmente foi fechado após 25 anos de negociações atravessando cinco presidências brasileiras. Apesar do avanço, a ratificação enfrenta resistências significativas, especialmente do lado europeu.
Os detalhes do acordo
O pacto promete eliminar barreiras tarifárias e ampliar o comércio de bens como etanol, açúcar e carnes para o Brasil, enquanto oferece maior acesso a bens industriais europeus, automóveis e vinho no Mercosul. Para além do comércio, o acordo inclui compromissos sobre sustentabilidade e proteção ambiental, exigindo que os investimentos respeitem o patrimônio natural do bloco sul-americano.
Segundo Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, o tratado é “um marco histórico” que reforça os laços entre os blocos e promove valores compartilhados. Para o presidente uruguaio Luis Lacalle Pou, o pacto é uma oportunidade, mas não uma solução mágica para a prosperidade.
Resistências internas na Europa
Apesar do tom otimista, o pacto enfrenta forte oposição na Europa, especialmente da França, Polônia, Holanda e Itália. Críticos apontam preocupações com o impacto ambiental e a competição com os produtos agrícolas do Mercosul. Emmanuel Macron, presidente francês, chamou o acordo de “inaceitável” em momentos anteriores e enfrenta pressão de agricultores e ambientalistas.
Na Irlanda, protestos de agricultores contra o pacto continuam. O Greenpeace alerta que o tratado pode intensificar o desmatamento na Amazônia e introduzir produtos poluentes no Mercosul, como agrotóxicos e motores a combustão.
O papel do Brasil e os ganhos estratégicos
Para o Brasil, o acordo representa um marco estratégico. O país conseguiu preservar áreas sensíveis, como licitações públicas no setor de saúde e políticas industriais, ao mesmo tempo em que ampliou o acesso ao mercado europeu. O Itamaraty destaca que o pacto abre oportunidades sem comprometer políticas públicas cruciais.
Sob a liderança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ajustes foram feitos para corrigir concessões consideradas excessivas do governo anterior, como a abertura irrestrita de mercados sensíveis.
Um recado político e geopolítico
O acordo também carrega uma mensagem simbólica contra o protecionismo e os nacionalismos crescentes. Von der Leyen declarou que o pacto é uma resposta clara a tendências de isolamento, enquanto busca posicionar Europa e Mercosul como contrapesos à influência da China e ao protecionismo dos EUA.
Próximos passos e incertezas
A ratificação do acordo exigirá a aprovação dos 27 países membros da União Europeia e do Parlamento Europeu, um processo que pode levar anos. Para negociadores do Mercosul, há um risco de que o pacto se torne refém de disputas internas e tensões políticas na Europa.
Enquanto isso, o Mercosul celebra o que pode ser a sua maior conquista diplomática em décadas, mas ciente de que os desafios para transformar o acordo em realidade são tão complexos quanto as negociações que levaram ao seu anúncio.