Desaparecido há quase dois meses em Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira, Jonathan Almeida Estellai, de 16 anos, saiu de casa na manhã de 14 de fevereiro e não foi mais visto. Emocionada e com a voz embargada em muitos momentos da entrevista concedida ao Estado de Minas, a mãe do adolescente, Monique Barreiros de Almeida, de 36 anos, afirma viver um pesadelo. A 5ª Promotoria de Justiça no município está envolvida na apuração do caso.
A mãe – que tem mais dois filhos, de 5 e 13 anos, e mora no bairro Bandeirantes – admite à reportagem que o adolescente, quando desapareceu no bairro Vila Ideal, estava vendendo drogas, mas acredita que policiais militares possam ter envolvimento no desaparecimento.
“Ele saía cedo de casa todos os dias e ia para lá, mas sempre entre 22h e 23h já estava em casa. Meu filho não é de sair para festas ou virar a noite na rua. Dois garotos vieram aqui no dia seguinte procurá-lo, e um deles disse que a polícia chegou ao bairro [na noite do dia 14 de fevereiro] em um Celta branco dando tiro para o alto, e meu filho se assustou e correu em direção ao Rio Paraibuna”, conta.
Nesse sentido, segundo consta no boletim de ocorrência feito no dia seguinte ao desaparecimento, a mãe relatou ainda que, conforme esse jovem, “três indivíduos” estavam dentro do veículo de passeio quando chegaram ao bairro Vila Ideal.
Sindicância em curso
Também em entrevista ao Estado de Minas, o promotor Helvio Simões Vidal, da 5ª Promotoria de Justiça de Juiz de Fora, informou que está averiguando o caso – que ele atribui ser “gravíssimo”. O fato do adolescente ter desaparecido – supostamente no mesmo dia, local e horário em que a PM cumpria diligências – chamou a atenção do promotor, que foi procurado pela mãe em seu gabinete pedindo ajuda.
“São cinco policiais mencionados em um Reds [Registro de Eventos de Defesa Social] interno [da Polícia Militar]. Um deles teria feito um disparo contra o menor, mas não sabemos se atingiu Jonathan. Eles estão sendo ouvidos pelo Núcleo de Justiça e Disciplina (NJD) no 2º Batalhão de Polícia Militar ao qual estão vinculados. Trata-se de uma sindicância em caráter sigiloso para apurar as circunstâncias da ação policial”, explica o promotor.
Com o término do procedimento administrativo, o caso deve ser encaminhado à 5ª Promotoria de Justiça para apreciação. O promotor também pontua que as buscas pelo jovem já foram encerradas pelo Corpo de Bombeiros.
Entre a dor a esperança de achar Jonathan
Para dar vasão à dor da ausência e à falta de respostas, Monique diz que tem dividido seu tempo entre o trabalho autônomo com banho e tosa em cães e a esperança de ainda encontrar o filho vivo. “Choro muito e todo dia. Às vezes, chego a ficar trêmula e com uma sensação de mal estar. É até difícil explicar. Agora está passando um pouco, mas os primeiros dias foram os piores, pois não conseguia dormir”, revela.
O que diz o registro da PM
No Registro de Eventos de Defesa Social (Reds) simplificado ao qual a reportagem teve acesso, a PM alega que na noite do dia 14 de fevereiro, no bairro Vila Ideal, um “indivíduo suspeito” saiu correndo ao perceber a presença de viaturas policiais. Três militares desembarcaram e iniciaram a perseguição, que, segundo consta no documento, foi gravada. Jonathan, segundo a polícia, entrou no Rio Paraibuna e se recusou a sair, sendo acompanhado pelos policiais junto à margem. No entanto, ele foi “perdido de vista”.
A mãe, porém, contesta a versão da PM. “Meu filho não sabe nem nadar. Como que perderam ele dentro do rio? Não tenho como acusar, mas eu tenho medo de que a polícia tenha feito alguma covardia com ele.”
Procurada pelo Estado de Minas, a assessoria da Polícia Militar em Juiz de Fora não havia se pronunciado até o fechamento desta reportagem.
Já a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) confirmou em breve nota que o desaparecimento foi registrado em 15 de fevereiro. “Um procedimento investigativo está em tramitação com todas as diligências possíveis para sua localização. Quem tiver informações pode ligar para 0800 2828 197”, pontua a instituição policial, sem dar detalhes.