Para muitos recém-graduados, o diploma é apenas um papel. Não se vê mais a ansiedade dos novos profissionais em pregar na parede ou exibir por aí o documento que atesta anos de estudo e sacrifício – seja financeiro, seja intelectual. Em três instituições de ensino superior consultadas pela reportagem – Centro Universitário UNA, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC) e Universidade Federal de Uberlândia (UFU) –, há ao menos 10.466 diplomas à espera de seus donos. E o desinteresse pode trazer muita dor de cabeça. Em algumas empresas e concursos públicos, a vaga só é preenchida com a apresentação do diploma.
“Eu já presenciei muitos casos de alunos desesperados. Eles chegam e falam: ‘Eu preciso apresentar amanhã (o diploma) para a empresa’”, relata a coordenadora de cursos da UNA, Elaine Santos. A própria universidade já deixou de contratar uma professora porque ela não tinha o documento em mãos. Segundo Elaine, esses pedidos “desesperados” são difíceis de atender, já que o prazo para que o documento fique pronto é de 90 dias. Na PUC, são exigidos 45 dias úteis, ou dois meses, para a confecção do diploma. É importante alertar que, nessas duas instituições de ensino, o aluno precisa fazer uma solicitação para que o diploma seja produzido. Já na UFU, o documento é confeccionado automaticamente após a formatura, e o prazo para a retirada é de seis meses.
O maior desânimo dos estudantes tem relação com a burocracia de fazer a requisição do documento. Esse é o caso do jornalista Pedro Nogueira, 30, que fez graduação e mestrado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “É normal amigos que ficam um ano, até dois, esperando após a solicitação do diploma. Eu nem fiz o pedido. Imagina o tempo que vou esperar. Aí continuo procrastinando”, confessa. Muitos estudantes não buscam o diploma porque algumas empresas aceitam um documento mais simples, feito pelo colegiado do curso, que comprova a graduação.
Já o publicitário formado na UNA Wanderson Marksuel de Medeiros, 24, concluiu o curso no ano passado, fez o pedido do documento – que já está pronto –, mas não pegou. No emprego, o papel não foi solicitado, mas, para os próximos passos da carreira, o diploma pode ser essencial. “Tenho o projeto de fazer uma pós-graduação no meio do ano e preciso do documento. Já estou até olhando o mestrado também. O pessoal daqui (emprego) participou de minha colação. Por isso, não precisei”, revela.
Empregadores podem achar que candidato é desorganizado
A ausência do diploma que comprova a graduação ou a pós-graduação pode estampar em um candidato a emprego o selo de desorganização. O empregador até aceita o certificado emitido pelos colegiados, mas a primeira impressão sobre a pessoa pode não ser a melhor na opinião da coordenadora de cursos da UNA, Elaine Santos. “Pode deixar uma impressão não muito positiva com o futuro empregador”, considera.
Segundo a especialista, o entrevistador entende, nesses casos, que o candidato ainda tem algumas habilidades para desenvolver. “Em termos de atitude, ele precisa ser mais organizado, comprometido e engajado com sua carreira”, complementa.
Comodismo
“Não busquei (o diploma) na época porque arrumei um emprego na área mesmo, e nunca me pediram para comprovar minha graduação. Não busquei o documento por comodismo mesmo.”
Emanuela Santos, 35
Relações-Públicas
Outra área
“Primeiramente, não busquei o diploma porque nunca precisei. Não trabalho exatamente na área, e nunca me exigiram. Depois, por causa dessas burocracias. Só pretendo buscar se um dia eu precisar, talvez para a pós-graduação.”
Flávia Sá Bertolacini, 31
administradora
Minientrevista
Elaine Santos
Coordenadora de cursos da Una
Por que as pessoas não buscam os diplomas?
Em geral, o que a gente percebe é que, enquanto a pessoa não precisa, ela não busca. O aluno, às vezes, entende que gera um pouco de burocracia, já que ele tem que abrir uma solicitação, e há um prazo para ser respondido. De repente, porém, aparece uma oportunidade (de emprego), e ele precisa comprovar que tem a graduação ou a pós-graduação a partir do documento.
Como o aluno pode requerer o diploma na UNA?
O aluno faz uma solicitação pelo sistema (on-line). O protocolo gera um número de registro, e ele acompanha o andamento. O prazo é de 90 dias, porque esse diploma precisa ser confeccionado, assinado pelas pessoas responsáveis e enviado para o centro de atendimento ao aluno. O estudante busca na unidade em que estudou.
Há relação com o perfil dos estudantes?
Há uma vertente que é a cultura dos brasileiros de deixar as questões para a última hora, e isso prevalece tanto na vida profissional quanto na pessoal. Em vez de antecipar, ele (aluno) vai deixando para o último minuto. Se ele não perde uma oportunidade, no mínimo, deixa uma impressão não muito positiva (de desorganização) para seu futuro empregador.