O PSDB mineiro credita a derrota de Aécio Neves na eleição presidencial ao desempenho ruim no próprio quintal, Minas Gerais.
O sentimento entre tucanos no Estado é de decepção e incompreensão. Minas “falhou” com Aécio, avalia o PSDB local.
Para o presidente estadual do partido, Marcus Pestana, Minas foi o “calcanhar de Aquiles” da votação de Aécio e é preciso buscar entender o que ocorreu.
A incompreensão do PSDB se dá pelo fato de o partido ter governado Minas por 12 anos, sempre bem avaliado, e também porque Aécio, além de líder do partido no Estado que governou de 2003 a março de 2010, personifica esse processo.
Na pré-campanha, o PSDB estimava uma “votação histórica” de Aécio em Minas —uma vantagem acima de 3 milhões de votos.
No primeiro turno, contudo, Dilma venceu com 400 mil votos de frente. Já no segundo turno a diferença a favor da petista foi de 550 mil votos (52,4% a 47,5%).
Danilo de Castro, secretário de Governo de Aécio por 11 anos e responsável pela articulação política do Executivo, disse que os eleitores “falharam” com Aécio. “Minas realmente falhou com um grande estadista, com uma pessoa que fez um governo maravilhoso. Foi uma surpresa para ele e para todos nós”, afirmou.
Pestana, presidente do PSDB-MG, disse que o partido não contava com o resultado “nem no pior cenário” —Minas é o segundo colégio eleitoral do país (10,7% dos eleitores). “Eu estou muito triste. Nem na nossa pior projeção a gente pensaria em um resultado desse, depois de o Aécio sair [do governo] com 92% de aprovação e fazer o que fez em Minas.”
“Obviamente nós erramos, temos que descobrir esse erro, mas não é o momento”, completou.
QUESTÃO MINEIRA
A derrota do PSDB foi amplificada pela perda do poder no Estado para o PT, após três mandatos consecutivos. Fernando Pimentel (PT), ex-prefeito de Belo Horizonte e ex-ministro de Dilma, venceu Pimenta da Veiga (PSDB), candidato escolhido por Aécio, já no primeiro turno.
Para o cientista político Malcon Camargos, da PUC-MG, a questão mineira “fugiu às estratégias elaboradas” pelo PSDB e isso tem relação com o discurso de mudança “bem aproveitado” pelo PT estadual.
Para ele, o governo Dilma, também bem avaliado em Minas, enfrentou o “mesmo desejo de mudança”. “Mas se saiu melhor diante dessa dificuldade”, disse.
Camargos disse ainda acreditar que o simbolismo da vitória de Dilma em Minas no primeiro turno a tenha fortalecido para a segunda etapa no Estado —algo que também foi reforçado pelo marketing petista e o slogan anti-Aécio de “quem conhece não vota”.
VITORIOSO
Governador eleito, Pimentel (PT) afirmou ainda no domingo (26), em nota, que a eleição em Minas Gerais “foi decisiva” para a vitória de Dilma.
Ao longo da campanha, o petista já havia classificado como “arrogância” o fato de o PSDB projetar a “votação histórica” para Aécio no Estado.
Para o presidente do PT-MG, Odair Cunha, as vitórias mineiras do PT no Estado, para Dilma e Pimentel, se devem ao fato de a campanha do governador eleito ter abordado bem o legado dos 12 anos do PSDB em Minas.
“Os resultados que entregaram após 12 anos é acanhado para o que sempre propagandearam. A campanha do Pimentel soube mostrar isso, e a Dilma também se beneficiou”, disse ele, para quem o PSDB continua sendo uma força política importante no Estado.
A análise regional da votação de Dilma e Aécio neste segundo turno seguiu a mesma lógica do primeiro turno. Dilma venceu nas regiões mais pobres, mas venceu também no rico Triângulo Mineiro.
Aécio venceu em apenas 4 das 12 mesorregiões: o sul/sudoeste de Minas, que recebe grande influência de São Paulo, oeste, centro e região metropolitana de Belo Horizonte.