Em dados divulgados nesta semana pela Atlas da Mata Atlântica, Minas Gerais, infelizmente, lidera o ranking de desmatamento do bioma, com 7.456 mil hectares derrubados em um ano, equivalente a mais de dez mil campos de futebol.
Os dados correspondem aos meses de outubro de 2021 e 2022. A Mata Atlântica é um patrimônio nacional protegido por lei, que abrange grande parte do Brasil, da costa leste, nordeste, sudeste e sul.
O levantamento é da Fundação SOS Mata Atlântica e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e apontou que dos dez municípios com maiores áreas desmatadas no Brasil, cinco pertencem a Minas.
1. São João do Paraíso/Norte de Minas – 544 hectares
2. Araçuaí/Vale do Jequitinhonha – 470 hectares
3. Francisco Sá/Norte de Minas – 402 hectares
4. Capitão Enéas/Norte de Minas – 302 hectares
5. Gameleiras/Norte de Minas – 296 hectares
Luís Fernando Guedes Pinto, diretor-executivo da SOS Mata Atlântica e coordenador do Atlas, aponta as causas principais para o grande desmatamento encontrado em Minas Gerais, expondo que eles se assemelham entre os municípios mineiros, onde há um padrão visto, já que se localizam próximas. “É a fronteira agrícola, a expansão da agropecuária. A gente está derrubando mata para pasto, grãos e silvicultura para plantação de eucalipto” informa.
Ranking nacional
Os dados finais mostraram que o desflorestamento total foi de 20.075 hectares do bioma. Como resultado, foram lançados 9,6 milhões de toneladas de CO2 equivalente na atmosfera.
Além de Minas Gerais, mais quatro estados apresentaram um desmatamento elevado, entre eles:
- Bahia – 5.719 hectares
- Paraná – 2.883 hectares
- Mato Grosso do Sul – 1.115 hectares
- Santa Catarina – 1.041 hectares
Três cidades encabeçam a lista de desmatamento, todas baianas:
- Wanderlei/BA – 1.254 hectares
- Cotegipe/BA – 907 hectares
- Baianópolis/BA – 848 hectares
Oito estados registraram aumento (Alagoas, Bahia, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Sergipe), e nove mostraram redução (Ceará, Goiânia, Mato Grosso, Pernambuco, Piauí, Paraná, Rio Grande do Norte, Santa Catarina e São Paulo).
Apenas 0,9% das perdas se deram em áreas protegidas, enquanto 73% ocorreram em terras privadas, reforçando que as florestas vêm sendo destruídas sobretudo para dar lugar a pastagens e culturas agrícolas.
Mata Atlântica corre risco
Embora esse número represente uma redução de 7% em relação ao detectado em 2020/2021 (21.642 hectares), a área desmatada é a segunda maior dos últimos 6 anos e está 76% acima do valor mais baixo já registrado na série histórica, de 11.399 hectares, entre 2017 e 2018.
Luís Fernando compartilha que os dados mostram um quadro de desmatamento estável, porém inaceitável para um bioma fortemente ameaçado. E ainda ele diz que estão em alertas, ainda mais que ontem (24/5), ele diz que foi aprovada pela Câmara uma medida provisória que pode aumentar o desmatamento na Mata Atlântica.
"O bioma é lar de quase 70% da população e responde por cerca de 80% da economia do Brasil, além de produzir 50% dos alimentos consumidos no país. Se, por um momento, pareceu que havíamos virado o jogo, agora o desmatamento está novamente vencendo. E o mundo inteiro sai perdendo", diz Luís.
O diretor compartilha as soluções para acabar com o desmatamento. "Primeiro é uma fiscalização rigorosa, com aplicação da lei da Mata Atlântica, uma lei federal especial, que tem sido desrespeitada. Depois a gente tem que cortar o crédito de produtoras que estejam desmatando ilegalmente. Também temos que suspender o cadastro ambiental rural de quem está devastando e as empresas que compram matérias primas da Mata Atlântica que tem que parar de comprar produtos de regiões que estão desmatando”, indica.
Cenário ruim mas futuro promissor
De acordo com o Atlas, a situação vai à contramão de estudos internacionais que, tendo em vista sua contribuição para a conservação da biodiversidade e a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas, apontam a Mata Atlântica como um dos biomas mais importantes para o futuro do planeta.
"A esta altura, o desmatamento já precisava ter sido abolido, e as ações de reflorestamento deveriam ser uma prioridade em todos os estados da Mata Atlântica. A realidade, infelizmente, é muito diferente", lamenta o diretor.
Porém o diretor tem esperança no futuro. "Se a gente olhar a longo prazo o Brasil tem compromisso de acabar com o desmatamento e aumentar a sua restauração. A expectatiava é que o desmatamento acabe nós próximos anos", projeta.