Por Paulo Braga
O Ministro da Justiça, Sérgio Moro, pediu demissão do cargo na manhã desta sexta-feira (24.abr.2020). Ao anunciar sua demissão, Moro criticou a “insistência” do presidente Jair Bolsonaro para a troca do comando da Polícia Federal. Ainda segundo o ex-ministro, Bolsonaro não apresentou causas que fossem aceitáveis.
No início do discurso, Moro ressaltou que a Polícia Federal teve autonomia nos governos do PT — partido amplamente investigado por corrupção.
O ex-juiz revelou um pedido que havia feito antes de aceitar a proposta de Bolsonaro para o cargo de ministro. “Se algo me acontecesse, uma pensão para a família.” No cargo, Moro cuidava também da segurança pública.
“Houve violação de uma promessa que me foi feita inicialmente de que eu teria uma carta branca”.
“Presidente, eu não tenho nenhum problema em troca do diretor, mas eu preciso de uma causa, [como, por exemplo], um erro grave”, disse Moro.
O presidente Jair Bolsonaro, em mais um dos devaneios diários, resolveu exonerar o diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo. A exoneração de Valeixo está no Diário Oficial da União desta sexta-feira (24.abr.2020).
Durante pronunciamento, Sérgio Moro fez revelações que deixaram Bolsonaro em uma situação delicada. O ex-ministro disse que não assinou a exoneração de Valeixo. Moro também afirmou que o ex-diretor-geral da Polícia Federal não pediu exoneração, como citado no Diário Oficial da União.
Eleito com o mote de combater a corrupção, Bolsonaro dá uma guinada contrária em busca de proteger os filhos — investigados— e deputados do ‘centrão’.
Na última quinta-feira (23.abr.2020), o jornal Folha de S.Paulo revelou que Sérgio Moro pediu demissão a Bolsonaro quando foi informado pelo presidente da decisão de trocar Valeixo. Após uma tarde conturbada, o governo tratou de dissimular a informação.
O governo federal republicou no Diário Oficial da União no início da noite desta sexta-feira a exoneração de Maurício Valeixo do cargo de diretor-geral da Polícia Federal retirando a assinatura do ministro Sergio Moro, que afirmou não ter sido informado sobre a medida.
A partir deste trecho, este artigo pode conter a opinião do redator
Em meio a maior crise sanitária e econômica do Brasil moderno, Bolsonaro não deixa de ser o grande contratempo do país. Com embates constantes, ‘a rainha louca’, como já é conhecido nos bastidores do poder, Bolsonaro tem a latente necessidade de ter um inimigo diário.
Luiz Henrique Mandetta, ex-ministro da saúde, respeitado e bem avaliado, havia sido a última vítima da versão moderna de D. Maria I.
O que está por trás da decisão? Questão I
A manifestação antidemocrática endossada pelo presidente, é alvo de investigação. De acordo com a Constituição Federal de 1988, o ato é tido como traição da pátria. Durante tal manifestação, com um patrocinador ainda oculto, cartazes e palavras de ordem faziam a defesa do fechamento do Congresso, do Supremo e a edição de um novo AI-5. “Intervenção militar com Bolsonaro no Poder”, dizia um dos cartazes com ideologia golpista.
No último dia 20 de abril, Bolsonaro chegou a dizer — “A Constituição sou eu.”
Questão II
Dizendo que não negocia o chamado ‘toma-lá-dá-cá’, termo do vocabulário popular do presidente, Bolsonaro está sim, negociando com o chamado ‘centrão’. A grande questão é que os deputados do ‘centrão’ são investigados por crimes diversos e pedem a exoneração do diretor-geral da Polícia Federal.
Questão III — proteção do clã
Investigações da Polícia Federal chegam cada vez mais próximo da família Bolsonaro. Ronnie Lessa, assassino da vereadora Marielle Franco, era vizinho de Bolsonaro. A filha de Lessa chegou a namorar o filho mais novo de Bolsonaro.
O senador Flávio Bolsonaro é investigado pela prática conhecida como “rachadinha” na época em que era deputado estadual do Rio de Janeiro.
Desde o início das investigações, a família Bolsonaro tem criticado o juiz Itabaiana Nicolau, que já autorizou 24 mandados de busca e apreensão, quatro quebras de sigilo bancário e 28 quebras de sigilo telefônico ao longo do curso das investigações.
Em dezembro de 2018, Fabrício Queiroz, então motorista e assessor do deputado Flávio Bolsonaro, foi convocado pelo Ministério Público do Rio de janeiro para prestar depoimento sobre movimentações bancárias suspeitas no valor de R$ 1,2 milhão.
Eduardo Bolsonaro, outro filho do presidente, usou dinheiro do fundo partidário para pagar a sua viagem de lua de mel com a coach e psicóloga Heloísa Wolf. A negociação teria sido feita pela advogada do PSL, Karina Kufa. Relatos obtidos pela reportagem da IstoÉ mostram que Kufa, contratada pelo partido a pedido de Eduardo e conhecida por cumprir diversos favores ao deputado, teria sido a responsável por acertar os detalhes da viagem de lua de mel.
Em setembro de 2019, Carlos Bolsonaro virou alvo de investigação do Ministério Público (MP) do estado do Rio de Janeiro por denúncias de colocar ao menos sete parentes como funcionários fantasmas em seu gabinete. Os familiares seriam contratados para a prática da “rachadinha”, deixando parte dos salários com o filho de Jair.
Herói humilhado
Sérgio Moro deixou a carreira de juiz federal após condensar a notoriedade de combatente da corrupção do governo petista. Em 2018, Moro, sem cerimônia, aceitou o convite do recém-eleito presidente, Jair Bolsonaro, para ocupar o cargo de Ministro da Justiça.
Com status de ‘super ministro’, Sérgio Moro assumiu a vaga. Entretanto, o ministro viu seu trabalho ser minado pelo egocentrismo desequilibrado de Bolsonaro.