Agradecidos pelo trabalho ou em busca de um ofício que traga sustento, dezenas de trabalhadores se reuniram para a 47ª Missa do Trabalhador, neste feriado de 1º de Maio, Dia de São José Operário, na Praça da Cemig, em Contagem, na Grande BH.
"É um momento de alegria voltar para a praça, voltar para o povo. A missa do trabalhador e para São José Operário foi interrompida apenas na pandemia, em 2020. Retornamos à paróquia da Região de Nossa Senhora Aparecida em 2021 e 2022 e agora voltamos à praça para esse contato com os trabalhadores e fiéis da paróquia", disse Dom Nivaldo dos Santos Ferreira, bispo auxiliar de BH e que atua na Região Episcopal de Nossa Senhora Aparecida.
Ponto alto da celebração, durante a eucaristia, o bispo consagrou as hóstias e também carteiras de trabalho dos fiéis, simbolizando a bênção ao trabalhador no dia do pai de Jesus Cristo, que lhe ensinou o ofício de carpinteiro.
Muitos fiéis compareceram para agradecer. Como o casal de aposentados Maria Imaculada de Oliveira, de 67 anos, e o marido dela, Alcino Miguel de Oliveira, de 88 anos, moradores do Bairro Funcionários, em Contagem. "Agradecemos porque a família que temos, que o nosso trabalho nos abençoou a ter é a coisa mais importante. Tivemos três filhos e três netos, com a graça de São José Operário".
Homenagem
Dez estandartes com roupas tingidas pela lama rica em minério de ferro penduradas lembraram a dor dos trabalhadores que morreram ou foram atingidos pela atividade mineradora, sobretudo após os rompimentos das barragens de Mariana (2015) e de Brumadinho (2019). "As peças são minhas obras de arte que fiz para lembrar dos acidentes-crimes da mineração para que nunca mais os trabalhadores sejam atingidos e percam suas vidas na luta pelo sustento. É uma luta também sócio-ambiental", disse o artista plástico Severino Iabá, do Coletivo Lambuzados. Os objetos serão posteriormente alvo de uma exposição.
O superintendente do trabalho de Minas Gerais, Carlos Calazans, destacou a importância da missa como mensagem de esperança a todos os trabalhadores. "Vivemos em uma época de grande importância, quando o salário pela primeira vez chegou a um nível real após anos de defasagem. Vamos dialogar com todos os setores para procurar agora ampliar as vagas de emprego para o trabalhador. Por isso temos muita esperança", disse.
Uma das figuras centrais na luta por justiça depois da Chacina de Unaí que vitimou, em 2004, os quatro representantes do Ministério do Trabalho que fiscalizavam fazendas, Calazans destacou a importância da missa. "Foi fundamental que a Prefeitura de Contagem e a Câmara reconhecessem a missa do trabalhador como uma expressão do patrimônio cultural. Pois é uma expressão da comunidade e dos trabalhadores. Me lembro de anos atrás, em 1979, quando aqui falei como um jovem missionário pelo trabalho. A celebração começou na ditadura e atravessou todo o período democrático até hoje", disse.
Dom Nivaldo dos Santos Ferreira lembrou ainda de chagas atuais para a luta do trabalhador, que é o trabalho análogo à escravidão. "Não devemos pensar no trabalhador como um escravo, pois o trabalho dignifica a sua luta pelo sustento", disse.
"Essa é uma celebração significativa, pois nasce das manifestações populares. Os trabalhadores estão representados e os membros de movimentos pastorais das paróquias da nossa região, neste que é um espaço para partilhar esperança e a fé", destacou o bispo.