Encontrar um parque ou uma praça com problemas estruturais é comum em Belo Horizonte. Reclamar e se indignar com isso também. Mas a reação tem que ir além. Não adianta parar de frequentar e simplesmente buscar outra área de lazer, mais arrumadinha. A dica de especialistas é ocupar, se apropriar do problema, cobrar mudanças e pensar em alternativas que não dependam exclusivamente do poder público.
Prova disso foi o que aconteceu no Parque Ecológico Renato Azeredo, no bairro Palmares, na região Nordeste de Belo Horizonte. Um grupo de mães que frequentam o espaço com seus filhos não se conformou com a situação do parquinho, que estava com vários brinquedos quebrados. “O local não passava por manutenção havia muito tempo. Elas, então, iniciaram uma mobilização e entraram em contato com a Fundação de Parques Municipais Zoobotânica (FPMZ) para ver o que poderia ser feito”, conta o presidente da Associação Viver Palmares, Vinícius Durães.
A reclamação foi feita em março do ano passado, e, no mês seguinte, o grupo de mães conseguiu se reunir com o presidente da FPMZ, Sérgio Augusto Domingues. Nos meses seguintes, foram feitos pequenos reparos, como recomposição áreas de britas, e, no início deste ano, foi realizada uma reforma completa dos brinquedos.
Mas a preocupação dos moradores não parou por aí. Uma das mulheres do grupo sugeriu que uma escola adotasse o parquinho para fazer a manutenção. O Colégio Maximus – unidade Palmares – se inscreveu no programa Adote o Verde e foi aprovado. A partir de agora, a conservação do espaço também está garantida. “As pessoas geralmente ficam esperando que a prefeitura resolva tudo, mas, dessa vez, a solução partiu da própria comunidade. É uma coisa em que todo mundo ganha”, completou Durães.
Outro exemplo de mobilização ocorreu na praça das Crianças, no Belvedere, que foi adotada pela associação de moradores e é considerada uma das mais bonitas de Belo Horizonte.
Assembleia. A falta de manutenção é um problema que pode comprometer reformas mais completas. A praça da Assembleia, no bairro Santo Agostinho, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, é um exemplo.
“Antigamente, ela não tinha parquinho configurado. Eram inúmeras as reclamações. O local passou por reestruturação e foi reinaugurado. Ficou algo encantador, a população não estava acostumada com um parquinho como aquele. Hoje, a manutenção é precária, vários brinquedos já estão quebrados por utilização inadequada. É preciso conscientizar a população também”, ressaltou Flávia Pellegrini, do movimento Na Pracinha.
Saiba mais
Site. No endereço eletrônico www.napracinha.com.br é possível encontrar uma vasta seleção de parques e praças da cidade, além da agenda com eventos gratuitos que ocorrem nesses espaços ao ar livre.
Livro. O “Beagá para Brincar”, do movimento Na Pracinha, selecionou mais de cem praças, parques, museus, bibliotecas e espaços culturais para que crianças e adultos possam vivenciar a cidade. Funciona como um guia, com descrição sobre os locais e dicas de atividades. O exemplar custa R$ 35 e pode ser adquirido pelo site.
Minientrevista
Sérgio Domingues
Presidente da Fundação de Parques Municipais e Zoobotânica
Como o senhor avalia os parques de Belo Horizonte?
Nós fizemos um diagnóstico no ano passado, e só 15% da infraestrutura em equipamentos estava em bom estado. A nossa gestão se deparou com uma situação de deterioração e depredação. Conseguimos avançar um pouco e fechamos 2017 com 20%. Temos a meta de passar de 20% para 80% até o fim do mandato. Então, é uma situação extremamente dura e difícil de ser enfrentada. Só com a fundação de parques é impossível. Por isso, a parceria precisa acontecer com as secretarias de Meio Ambiente, de Obras Públicas, com a Guarda Municipal. E todos esses órgãos têm atuado juntos. É claro que estamos apagando incêndio. A população quer o banheiro e o mato cortado, mas ele cresceu muito porque tem chovido bastante. A manutenção tem que ser imediata, e estamos fazendo isso por meio de mutirão.
Como o senhor busca melhorar a qualidade dos parques?
nosso principal desafio é buscar recursos que não eram aproveitados de forma eficiente, como medidas ambientais compensatórias, procurar parcerias comunitárias, o programa Adote o Verde, modelagens de concessões. As soluções são múltiplas. Belo Horizonte precisa valorizar mais essas áreas.
A capital terá novos parques?
Não está na nossa meta criar mais parques. A quantidade (que existe hoje) é boa. Claro que queremos criar mais, o prefeito já manifestou áreas de interesse, como a mata do Planalto. Mas, antes de mais nada, precisamos melhorar e fazer funcionar o que tem.
Quais são as prioridades?
Temos vários parques que estão em área com maior vulnerabilidade social e estamos mais imbuídos dessas áreas. Estamos elaborando também planos de manejo para tornar mais eficiente a gestão das unidades.
Quais são os benefícios dos parques para a cidade?
Eles ajudam na drenagem da água da chuva, impedem que as enchentes fiquem mais volumosas e retêm poeira e poluição. Quando arrumamos um parque, criamos condições para reduzir a criminalidade, diminuir o estresse, melhorar as condições de saúde. Os benefícios são para a saúde, educação, cultura, por isso que não vamos medir esforços para que os parques tenham as condições que a população merece.
O que já foi feito até agora?
Avançamos com pequenos reparos em brinquedos, conserto de banheiros, reforma em cercamento e ajustes em sistemas elétricos e hidráulicos.
Quanto custará a recuperação dos parques?
Muitas vezes, eles tinham grandes projetos de revitalização que custavam milhões de reais. Temos exemplos de unidades que tiveram essas revitalizações, mas, sem comprometimento e engajamento na ocupação do espaço, não adianta. Um espaço revitalizado, sem ocupação, acaba rapidamente sendo degradado. É importante que a melhoria venha com engajamento da comunidade. Precisamos trabalhar com educação ambiental.