Na manhã do dia 5 de maio os moradores das comunidades de Barra Feliz, São Bento e Brumal, em Santa Bárbara, na região central de Minas, perceberam que as águas do rio Conceição estavam com uma coloração e cheiro muito diferentes do habitual, no trecho seguinte a duas minas da AngloGold. No local a mineradora possui a planta industrial da mina de Córrego do Sítio, com dois pontos de extração de ouro.
A funcionária pública Roseni Aparecida Ambrosio, 42, mora próximo ao rio e foi chamada por moradores da região para presenciar o que estava acontecendo. “Quando cheguei vi que a água estava com uma coloração e densidade bem diferente do normal nesta parte do ano. As pessoas filmaram e tiraram fotos porque não era algo comum. Só de chegar perto os olhos e o nariz ficavam irritados com o cheiro da água”, relata.
Ela conta que as primeiras pessoas a denunciarem a situação perceberam a mudança no rio por volta das 7h, mas só na parte da tarde é que a empresa informou que havia tido um problema no local. “Não sabíamos do que se tratava e a empresa não dá transparência com as comunidades. Todo mundo estava preocupado porque não dava para saber se aquilo era perigoso ou não para a saúde das pessoas e para os animais e plantações. Muita gente depende do rio e ficou sem saber o que era aquilo”, relembra.
A lentidão e a falta de clareza por parte da empresa incomoda os moradores. “Nosso medo é que aconteça algo que ameace nossas vidas e só depois vão soltar uma nota de pesar. Isso faz com que a gente pare de confiar neles”, afirma Roseni.
“A empresa simplesmente não diz o conteúdo do material, faz como se fosse um simples vazamento de água ou qualquer coisa. É uma grande falta de respeito, já que os resíduos que ela produz são altamente contaminantes, cumulativos e perigosos”, conta a médica veterinária e produtora rural Sarah Helena Neves Xavier, 38.
Sarah descreve que a empresa não oferece informações suficientes sobre os rejeitos que podem ter chegado ao rio. “O que se sabe é que na exploração se usa o cianeto e que a rocha de onde se extrai o ouro é rica em arsênio , que quando chove pode ocasionar drenagem ácida e só isso já é suficiente para contaminar a água, mas eles negam”.
Luiz Paulo Siqueira, 31, é biólogo e coordenador do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM) e afirma que os danos causados pelo uso de metais pesados para o beneficiamento do ouro trazem grandes problemas para a cidade e região. “Existem várias pesquisas acadêmicas de diferentes universidades que mostram a alta concentração de metais tóxicos. Existe uma série de doenças registradas na região, que se dão devido a estes materiais. Existe muito desleixo da AngloGold e temos que cobrar para que ela pague pelo estrago causado nas comunidades e no meio ambiente. Lembrando que ela faturou mais de R$ 750 milhões com a exploração de ouro em Santa Bárbara só no ano passado”, afirma.
A AngloGold informou por meio de nota que o material que chegou ao rio faz parte de um efluente industrial da Planta da mina Córrego do Sítio e que o material não tem cianeto e é classificado como não-perigoso. A empresa também destacou que lamenta o ocorrido e reforça seu compromisso com o meio ambiente e a mineração sustentável”.
A Polícia Militar de Minas Gerais, por meio do Batalhaõ de Polícia Miltitar do Meio Ambiente informou que foi ao local após tomar conhecimento do fato e “tomou todas as medidas cabíveis ao fato”, mas não descreveu quais foram as ações e medidas tomadas, nem o conteúdo da ocorrência registrada.
Respotas dadas pelos órgãos acionados pela reportagem
Promotoria de Justiça de Santa Bárbara
A Promotoria de Justiça de Santa Bárbara recebeu notícia sobre vazamento de substância acinzentada no Rio Conceição, ocorrido no dia 5 deste mês,
proveniente das atividades de mineração da Anglogold Ashanti.
Foi lavrado Reds pela Polícia Militar, que esteve na empresa, onde foi informada de que o rejeito que é transportado para a barragem nas canaletas transbordou,
caiu sobre a calha de água e carreou para o Rio Conceição.
Os Militares informaram, ainda, que os fatos foram noticiados ao Núcleo de Emergência Ambiental (NEA) e à Secretaria de Meio Ambiente de Santa Bárbara
visando à formação de equipe para contenção, limpeza dos rejeitos e acompanhamento dos possíveis danos ambientais, com coletas de água no local
para análise comparativa a jusante e a montante do local dos fatos.
Resposta da Fundação Estadual do Meio Ambiente
A Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam) foi acionada, no dia 5 de maio, por meio de seu Núcleo de Emergência Ambiental (NEA), para atendimento à demanda no empreendimento da Anglo Gold no distrito de Barra Feliz, município de Santa Bárbara. Uma equipe técnica do NEA esteve no local, acompanhada pela Polícia Militar de Meio Ambiente. No local, foi informada a ocorrência de um transbordamento de rejeitos de mineração da canaleta de rejeitos, que atingiu a canaleta de água tratada da planta. As duas seguem uma do lado da outra, em paralelo.
Segundo informações da empresa, o vazamento aconteceu durante a paralisação preventiva da planta. Durante a paralisação, teria ocorrido a drenagem dos equipamentos, gerando um fluxo maior de rejeitos na canaleta, quando ocorreu o transbordamento.
O vazamento acabou atingindo o Rio Conceição. Nos dias 5 e 7 de maio, a empresa realizou a coleta de amostras de água superficial do rio para análise em laboratório. A estimativa é que tenha vazado 30 metros cúbicos de rejeito, sendo que parte dele ficou retino na própria canaleta. A empresa acionou uma empresa especializada de autoatendimento, que está responsável pelos procedimentos de limpeza e remediação da área afetada.
O NEA realizou fiscalizações no local da ocorrência e áreas atingidas no entorno onde foi possível verificar que as medidas imediatas estavam sendo tomadas pela empresa contratada.
O NEA solicitou à empresa as seguintes medidas:
– coleta de amostras de sedimentos de fundo ao longo do Rio Conceição, para análise em laboratório;
– coleta de amostras da água superficial do Rio Conceição, sucessivamente, a cada três dias, com continuidade de coleta de amostras e apresentação de resultados até que os trabalhos de limpeza e remediação estejam concluídos;
– Encamihamento dos resultados das três últimas análises do efluente tratado da planta;
– Encaminhamento de Plano de Ação, seguido de cronograma físico de implantação das medidas que serão tomadas pela AngloGold, de forma que um novo acidente nessas circuntâncias não venha a ocorrer novamente.
Os resultados relativos à água superficial, apresentados até o momento, estão dentro dos parâmetros permitidos pela legislação ambiental vigente. Os laudos sobre as amostras de sedimentos do fundo do rio ficarão prontros em cerca de 40 dias. Com relação ao cronograma, a empresa apresentou um plano de ação com medidas que se encerram em 10 de agosto de 2021.
O NEA está apurando os danos decorrentes do acidente para verificar as atenuantes e agravantes e, posteriormente, elaborar auto de infração à empresa.
Nota da AngloGold Ashanti sobre as reclamações dos moradores
No dia 5 de maio, comunicamos para as autoridades e para comunidade sobre o transbordo de parte de um efluente industrial da Planta da mina Córrego do Sítio, em Santa Bárbara (MG), que atingiu o Rio Conceição. Na mesma data, o vazamento foi estancado.
Assim, ao contrário do que algumas publicações nas redes sociais estão divulgando, este material não tem cianeto e é classificado como não-perigoso conforme as normas ambientais.
Os órgãos públicos responsáveis, como Núcleo de Emergência Ambiental (NEA) da Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEAM) e a Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Santa Bárbara, foram comunicados e acompanham nossa atuação no caso.
A AngloGold Ashanti lamenta o ocorrido e reforça seu compromisso com o meio ambiente e a mineração sustentável.