José Adilson Rodrigues dos Santos, mais conhecido como Maguila, morreu aos 66 anos, conforme informou a família nesta quinta-feira (24/10). Nascido em Aracaju (SE), Maguila foi um dos maiores nomes do boxe brasileiro, conquistando títulos nacionais, sul-americanos e chegando ao título mundial na categoria peso-pesado, pela Federação Mundial de Boxe, em 1995.
Maguila se destacou nos ringues, encantando o público com sua força e determinação, mas enfrentou ao longo da vida uma batalha silenciosa fora das arenas. O ex-pugilista convivia há anos com encefalopatia traumática crônica, uma condição degenerativa também conhecida como “demência pugilística”. Essa condição, que tem afetado atletas de esportes de contato, surge após pancadas repetidas na cabeça, e atinge, além dos boxeadores, jogadores de futebol e outros atletas que estão expostos a impactos na região.
Em entrevista recente à TV Record, Irani Pinheiro, viúva de Maguila, revelou que o ex-pugilista conviveu por 18 anos com a condição e que, no último mês, foi identificado um nódulo em seu pulmão. No entanto, devido ao quadro de saúde, não foi possível realizar a biópsia.
Maguila deixa um legado importante no esporte brasileiro e será lembrado não apenas pelos títulos, mas também pela sua trajetória de superação e carisma que inspirou milhares de fãs e futuros atletas.
Cérebro em desalinho
Mas o que acontece na cabeça logo após a pancada?
Para entender esse mecanismo, é preciso conhecer antes uma proteína chamada TAU.
“Ela ajuda a manter a estrutura dos neurônios e auxilia no transporte de nutrientes entre uma célula e outra”, resume Rodriguez.
Só que as pancadas repetidas parecem alterar um pouco desse balanço neuronal.
Quando ocorre o choque de cabeça, essa proteína se rompe e ocorre uma inflamação.
E aí entra o aspecto crônico das batidas.
“Se outra pancada acontece logo depois, o cérebro não consegue se recuperar da primeira e aquela proteína começa a se depositar ali”, diz a neurologista.
“Com o passar do tempo, esses agregados anormais de proteína TAU começam a prejudicar a passagem de informações e nutrientes nos neurônios”, complementa.
E isso, ao longo de várias décadas, pode culminar em grandes dificuldades para o funcionamento adequado do cérebro.
Vale mencionar que esses mesmos emaranhados de proteína TAU são observados em outras enfermidades neurológicas, como o próprio Alzheimer.
Na encefalopatia traumática crônica, porém, é possível identificar um fator que está por trás do acúmulo dessa substância: as pancadas repetidas na cabeça.
Rodriguez conta que a USP possui um grande banco de cérebros, que são conservados para pesquisas científicas.
“Num estudo, eu avaliei 1.157 desses órgãos que pertenceram a pessoas que não tinham um histórico de atleta profissional.”
“Desses, só encontramos a encefalopatia traumática crônica em sete homens”, continua.
“Depois, consegui conversar com a família de um deles e descobri que o indivíduo era goleiro de um time amador, pelo qual disputava jogos no final de semana”, revela.
*Esse texto usou como base uma matéria de 2022 da BBC News Brasil sobre a encefalopatia traumática crônica e foi atualizada com o contexto atual