Morreu nesta terça-feira (8), em São Paulo, o deputado Plínio de Arruda Sampaio, 83.
Ele foi candidato a presidente da República em 2010, pelo PSOL, e ficou em quarto lugar, com 886 mil votos.
Plínio estava internado havia mais de um mês para tratar um câncer nos ossos e morreu por volta das 15h, no hospital Sírio-Libanês. No dia 26 de julho, Plínio completaria 84 anos de idade.
Filho do deputado, Francisco de Azevedo Arruda Sampaio, 58, disse que o político teve uma broncopneumonia que provocou a falência de múltiplos órgãos e sistemas.
“Foi uma luta intensa, um processo de hospitalização longo. Ele não aguentou ainda mais pelo fato dele estar bem velho e frágil. Não foi uma coisa inesperada. Entristece todos nós”, afirmou.
Segundo Francisco, o velório ocorrerá nesta quarta-feira (9), às 8h, na igreja São Domingos, em Perdizes, zona oeste de São Paulo, com uma missa às 11h30. O enterro será no Cemitério do Araçá, também na zona oeste, às 15h.
Ícone da esquerda católica, Plínio mantinha boas relações com políticos de partidos antagônicos, como PT e PSDB, e era um dos poucos remanescentes da política pré-ditadura militar.
Em 1964, quando o golpe derrubou o presidente João Goulart, era deputado pelo antigo PDC (Partido Democrata Cristão) e relator da Comissão Especial de Reforma Agrária.
Teve os direitos políticos cassados pelo AI-1 (Ato Institucional) e foi obrigado a se exilar no Chile. Depois fez mestrado em Cornell, nos EUA. Voltou ao Brasil em 1976.
Em 1981, Plínio se filiou ao PT, do qual passou a ser um dos mais importantes formuladores. Voltou à Câmara em 1985, como suplente de Eduardo Suplicy, e se reelegeu no ano seguinte para a Assembleia Constituinte, no mandato entre os anos 1987 e 1990.
Participou da coordenação da primeira campanha de Lula à Presidência, em 1989. No ano seguinte, disputou o governo de São Paulo pelo PT e ficou em quarto lugar.
Plínio deixou o PT em 2005, desiludido com o escândalo do mensalão. Ajudou a fundar o PSOL e disputou o governo de São Paulo no ano seguinte.
Em 2010, aos 80 anos, lançou-se em uma espécie de anticandidatura à Presidência pelo PSOL.
Com tiradas bem-humoradas, virou atração dos debates presidenciais, mas não conseguiu se aproximar de Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV) nas pesquisas.
Com a saúde debilitada, ele acompanhou de longe a desistência de Randolfe Rodrigues e a escolha de Luciana Genro como nova candidata do PSOL ao Planalto.
INTERNAÇÃO
Abalado, o filho Francisco Sampaio disse não se lembrar exatamente das últimas palavras do deputado.
“Mas nem falamos de política. Ele só queria relembrar os melhores momentos com a família. As boas lembranças. Ele disse que o que mais enchia ele de alegria era ter criado bem os seis filhos. Isso para ele era só alegria”.
O filho de Plínio lamentou que ele não tenha conseguido concluir a tradução de “A People’s History of The World”, de Chris Harman. “Ele queria muito terminar essa tradução. Mas vou coletar as últimas notas que ele escreveu e publicar”.
De acordo com Francisco, o mais velho dentre os seis filhos, Plínio pediu para que o filho trouxesse o livro quando estava na UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) do hospital.
“O livro fala sobre a história da humanidade do ponto de vista do povo. Ele queria muito terminar essa tradução, mas por conta das dores não conseguiu achar posição na cama para escrever”, disse Francisco. Em 2001, Plínio teve um câncer no estômago, do qual se recuperou, mas perdeu muitos quilos e desde então estava pesando por volta de 51 kg.
“Já cumpri o que eu tinha que cumprir”, disse o político em entrevista em março à coluna da “Mônica Bergamo”. “E seria muito ruim ir para Brasília e deixar a Marietta sozinha aqui em São Paulo”, citando a companheira há 60 anos.
Advogado, Plínio chegou a ser presidente da Abra (Associação Brasileira de Reforma Agrária), diretor do “Correio da Cidadania” e consultor da FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação).
Defensor do trabalho do STF (Supremo Tribunal Federal), disse que o julgamento do mensalão foi “íntegro”, mas que ficou “triste” ao ver ex-companheiros presos, como José Dirceu (“ele roubou mesmo”) e José Genoino (“vivia com dificuldade, pegou para o partido”).
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