O ex-ministro da Cultura, Sergio Paulo Rouanet morreu hoje (3) no Rio, aos 88 anos. Ele foi o autor da Lei de Incentivo à Cultura e, juntamente com sua mulher, a filósofa de origem alemã Barbara Freitag, fundou o Instituto Rouanet.
A morte foi comunicada pelo instituto, em nota: “É com muito pesar e muita tristeza que informamos o falecimento do embaixador e intelectual Sergio Paulo Rouanet, na manhã do dia 3 de julho. Rouanet batalhava contra o Parkinson’s, mas se dedicou até o fim da vida à defesa da cultura, da liberdade de expressão, da razão, e dos direitos humanos. O instituto carregará e ampliará seu grande legado para futuras gerações”.
A Lei Rouanet, como ficou conhecida, permite que pessoas físicas e jurídicas destinem parte dos recursos que iriam para o pagamento do Imposto de Renda ao financiamento de obras artísticas.
Iluminista
Sergio Rouanet ocupava, há cerca de 30 anos, a Cadeira 13 da Academia Brasileira de Letras (ABL). Na avaliação do ex-presidente da ABL, o professor e poeta Marco Lucchesi, Rouanet foi um dos grandes pensadores do Brasil. “Era um homem de fato de múltiplos talentos. Um grande filósofo, um grande ensaísta, atento às questões da cultura, da política, da poética, atento ao diálogo entre os povos. Podia voar tranquilamente de Kant a Zeca Pagodinho, por exemplo, de cujas músicas gostava”, disse Lucchesi à Agência Brasil.
Segundo Lucchesi, o imortal Sergio Rouanet tinha sensibilidade musical importante, que ficava um pouco esquecida, dentro de obra tão vasta e variada como a dele. “Gostava da ópera de Mozart, de música popular brasileira (MPB). Uma figura, sob qualquer aspecto, admirável, não só sob o ponto de vista intelectual, stricto sensu (em sentido limitado), mas da grande humanidade. Realmente, uma adesão profunda à razão, à humanidade, ele que vinha de estudos iluministas muito importantes, que contribuíram para ampliar o alcance da filosofia no Brasil.
O ex-presidente da ABL disse que, se pudesse resumir a importância de Sergio Rouanet em uma única frase, pegaria o início de uma ária da ópera A Flauta Mágica, de Mozart, que “ele amava, e que diz tudo a respeito dele: “Os raios de sol expulsam a noite”. “Acho que essa é a grande metáfora da obra de Mozart que explica o trabalho de Rouanet: a iluminação, a vontade de clarear, fazer uma nova abertura de processo, de compreensão. Uma saudade imensa de Sergio Paulo. Imensa”, concluiu Lucchesi.
Nascido no Rio de Janeiro, em 23 de fevereiro de 1934, Rouanet foi eleito para a ABL em 23 de abril de 1992, na sucessão de Francisco de Assis Barbosa.
Ainda não há informações sobre velório. O acadêmico deixa a esposa e três filhos: Marcelo, Luiz Paulo e Adriana.
NOTA OFICIAL DO INSTITUTO ROUANET
A família de Sergio Paulo Rouanet e os integrantes do Instituto Rouanet informam com pesar o falecimento do embaixador e filósofo na manhã deste domingo (3 de julho de 2022) em sua residência no Rio de Janeiro. Rouanet, que lutava contra a Doença de Parkinson, dedicou sua vida à defesa dos valores iluministas, à cultura, à liberdade de expressão, à razão e aos direitos humanos.
Sergio Paulo Rouanet nasceu no Rio de Janeiro em 23 de fevereiro de 1934. Com apenas 20 anos, já participava do cenário intelectual ao escrever semanalmente para o Suplemento Literário, do Jornal do Brasil. Tornou-se bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito da PUC do Rio em 1955 e dois anos depois formou-se no curso de preparação à carreira de diplomata do Instituto Rio Branco.
Foi embaixador do Brasil na Dinamarca e na República Tcheca, cônsul-geral em Zurique e em Berlim, onde criou o Instituto Cultural Brasileiro, e serviu como titular da Secretaria de Cultura da Presidência da República, cargo equivalente ao de ministro de Estado, entre 1991 e 1992. Como secretário de Cultura, empenhou-se na aprovação do Programa Nacional de Financiamento da Cultura (Pronac), o que seria concretizado com a edição da Lei de Incentivo à Cultura (Lei nº 8.313), em 23/12/1991.
Em 1992, Rouanet assumiu a cadeira número 13 da Academia Brasileira de Letras (ABL), antecedido por Francisco de Assis Barbosa. Ao longo de toda sua trajetória intelectual, publicou mais de 15 livros sobre filosofia, literatura e psicanálise, além de ensaios e traduções. Rouanet deixa esposa, a socióloga alemã Barbara Freitag, três filhos e cinco netos. O velório ocorrerá nesta terça-feira (5), a partir das 14h, no Crematório do Caju (São Francisco Xavier), no Rio de Janeiro.