O cantor e compositor cearense Belchior morreu durante a madrugada deste domingo (30) em Santa Cruz do Sul, Rio Grande do Sul, aos 70 anos. Segundo o delegado Luciano Menezes, responsável pela investigação, a causa da morte foi uma dissecção da aorta, rasgo da parede da principal artéria do corpo humano, causando grande perda de sangue.
Familiares do artista comunicaram o governo do Ceará, que, em nota, decretou luto oficial de três dias no Estado.
O corpo de Belchior será transferido para Cachoeira do Sul (a cerca de 200 km de Porto Alegre) e depois irá para a cidade de Venâncio Aires. Só então será encaminhado para Porto Alegre, de onde partirá rumo a Fortaleza. O velório deve acontecer na capital cearense.
Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes, conhecido como Belchior, despontou nos anos 1970 com álbuns como “Alucinação” (1976), que trazia os clássicos “Apenas um Rapaz Latino-Americano”, “Velha Roupa Colorida” e “Como Nossos Pais” —que ficou conhecida na voz da cantora Elis Regina.
Nascido em Sobral, no Ceará, em 26 de outubro de 1946, Belchior estudou medicina em Fortaleza, mas abandonou o curso antes de se formar para se dedicar a vida de músico.
Entre 1965 e 1970, tocou em festivais de música no Nordeste e, em 1971, venceu o IV Festival Universitário da MPB com a canção “Na Hora do Almoço”, cantada por Jorge Melo e Jorge Teles.
Em 1972, Elis Regina gravou a faixa “Mucuripe”, parceria de Belchior e Fagner, o que deu grande impulso à carreira do compositor, que já estava morando no Rio. Lá, ligou-se a um grupo de jovens compositores e músicos, como Fagner e Ednardo, entre outros, conhecidos como o Pessoal do Ceará.
Foi nos anos 1970 que o compositor consolidou sua discografia, sempre com letras que se aproximam das artes, da filosofia e da literatura. “Mote e Glosa” (1974), seu disco de estreia, é o cartão de visitas do projeto musical de Belchior. O trabalho contém canções como a que dá título ao álbum, além de “A Palo Seco” e “Todo Sujo de Batom”.
Dois anos depois, ele lança “Alucinação”, álbum que marca a sua carreira e que o firmou como grande revelação da MPB. Nele, estão clássicos como “Apenas um Rapaz Latino Americano”, “Como Nossos Pais”, “Velha Roupa Colorida” e “Sujeito de Sorte”.
Sucesso popular e de crítica, o músico chegou a lançar mais álbuns, entre eles “Coração Selvagem” (1977), “Era Uma Vez um Homem e o Seu Tempo” (1979), “Cenas do Próximo Capítulo” (1984), “Elogio da Loucura” (1988) e “Baihuno” (1993), que consolida as principais ideias que o músico teve em sua carreira.
Em agosto de 2009, parentes e amigos do músico relataram ao “Fantástico” não ter notícias sobre o Belchior há cerca de dois anos. O sumiço pegou muitos de surpresa e repercutiu internacionalmente, tendo destaque em jornais como o britânico “The Guardian”.
Apesar do burburinho provocado pelas possíveis motivações de seu afastamento, o próprio Belchior, que desde 2006 cortara laços com empresários, produtores e a família, declarou que tinha se isolado em uma pousada de um povoado remoto no Uruguai para finalizar o trabalho de tradução para o português da “Divina Comédia”, de Dante Alighieri.
O autoexílio evidenciou a forte presença do tema da evasão da sociedade em sua obra, do primeiro ao último disco autoral, já indicando ao público um percurso de fuga que ele próprio pudesse vir a seguir.
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Leia a nota divulgada pelo governo do Ceará.
“O Governo do Ceará lamenta profundamente o falecimento do cantor e compositor cearense, Belchior, aos 70 anos, na noite deste sábado, 29, na cidade de Santa Cruz, no Rio Grande do Sul. E informa que está prestando todo o apoio à família, inclusive providenciando o traslado do corpo para Sobral, sua cidade natal. O governador Camilo Santana está decretando luto oficial de três dias.
Belchior é dono de uma trajetória artística da mais absoluta importância para a cultura do Estado. Sua carreira o levou ao patamar de um dos maiores ícones da Música Popular Brasileira, promovendo o nome do Ceará em todo o Brasil e no mundo.”