O advogado da família da psicóloga Marilda Matias Ferreira dos Santos, de 37 anos, que foi encontrada morta dentro do porta-malas de seu próprio carro em agosto deste ano em Pouso Alegre, no Sul de Minas, acredita que o caso pode não se tratar de um homicídio, mas sim de suicídio.
Fábio Costa teve acesso nesta semana ao inquérito da Polícia Civil que investiga o caso e, a princípio, não vê indícios de homicídio. No entanto, o inquérito ainda não foi concluído e alguns laudos ainda são aguardados. “Pelo que eu pude analisar, o inquérito não tem nenhuma linha de investigação no que tange a chegar a uma outra pessoa” disse o criminalista.
Ele também explicou que, inicialmente, o marido da vítima figurou como o principal suspeito de um possível homicídio. “Num primeiro momento, a suspeita recaiu sobre o marido. Ele foi conduzido à delegacia, interrogado por um longo período, e ele sempre se mostrou muito calmo, sempre disse onde estava e com quem estava, nos horários onde estava. E o fato de ele ter comparecido à delegacia com um advogado é perfeitamente entendível diante da situação, mas ele a todo momento se mostrou solícito e disponível a colaborar”, disse. Relatou ainda que foram ratificados todos os álibis e nada suspeito foi encontrado.
Além disso, em uma tese de homicídio, o marido era o único suspeito, e como até agora não há indícios de crime, essa possibilidade perde força. “Se vier como um homicídio (o inquérito final), ele certamente ficará com uma autoria desconhecida porque, no inquérito, não há admissão alguma de outra pessoa, pelo menos até hoje”, explicou.
Suicídio
Nesse caso, a principal suspeita passa a ser a de que Marilda tenha cometido suicídio e, nessa hipótese, o advogado da família destaca vários trechos do inquérito que reforçam essa possibilidade. No entanto, ainda são aguardados o laudo do corpo para saber a causa da morte da psicóloga e a conclusão da perícia no computador e celular dela.
Um deles é o que analisa algumas mensagens enviadas pela vítima e que foram analisadas pela Polícia Civil. Essas mensagens, segundo o advogado, demonstraram que Marilda relatava estar sendo perseguida na rua mas, no momento em que as mensagens foram enviadas, ela estaria dentro de casa. Além disso, no dia do crime, ela teria desmarcado uma consulta – algo que não era comum – e também teria estacionado o carro de ré, de modo que pudesse entrar no porta-malas.
Outro ponto destacado pelo defensor é de que a vítima não apresentava lesões no corpo, além de escoriações nos pulsos e tornozelos, provavelmente, causadas pelo fato de que ela foi encontrada amarrada. Mas, ainda assim, Fábio acredita que as amarrações possam ter sido feitas pela própria Marilda.
“Juntando todos esses elementos com o corpo que não tem sinal de violência. Tem algumas escoriações no tornozelo e pulso, mas muito superficial. É mais por conta da amarração que ela mesmo pode ter feito e ter ficado ali por algum período, do que propriamente pelo aperto da amarração. Os pés amarrados, ela conseguiria fazer com as mãos, e o das mãos, talvez com a boca. É preciso esperar o laudo para poder concluir, mas essas amarrações não são nada que uma pessoa não conseguiria fazer sozinha”, disse.
Caso anterior
Além disso, Fábio Costa relata que Marilda já apresentava sinais de depressão e que, no inquérito policial, consta a informação de que a psicóloga já tinha tentado tirar a própria vida em outra ocasião. “Eu tive acesso ao material na quarta-feira e o inquérito que chegou completo para mim e está bem intenso, tem 265 folhas, e muitas dessas folhas são laudos de internações passadas dela, de um outro evento em que ela também tentou suicídio, mas foi socorrida e não obteve êxito”, explicou.
O caso aconteceu em janeiro deste ano e, conforme relatou o criminalista, o inquérito detalha que Marilda teria tomado dois copos de gin com comprimidos de Zolpidem, medicamento utilizado para insônia mas que pode provocar também hipnose e está associado a relatos de apagão. Esse é o mesmo medicamento tomado pela deputada federal Joice Hasselmann (PSL), que sofreu uma queda em julho deste ano, sofreu várias fraturas e ficou desacordada, suspeitando de uma agressão que foi descartada.
Na ocasião, ela foi encontrada desacordada pelo marido e socorrida a um hospital da cidade, onde permaneceu na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) por algum tempo. Também foi ele quem relatou aos médicos, conforme constam nos documentos da internação, que a esposa teria ingerido bebida alcoólica e que ele encontrou a cartela de Zolpidem faltando três comprimidos.
Entenda o caso
Marilda Matias Ferreira dos Santos, de 37 anos, foi encontrada morta no dia 22 de agosto deste ano dentro do porta-malas de seu próprio carro, no bairro Fátima II, em Pouso Alegre, no Sul do Estado.
De acordo com as investigações, o corpo da vítima foi achado pelo marido, de 62 anos, dentro da garagem da residência do casal. Ela tinha os pés e mãos amarrados.
A mulher trabalhava como psicóloga em uma Unidade Básica de Saúde de Pouso Alegre.
Informações: O Tempo