Difícil encontrar alguém que não tenha ouvido falar nos crimes cometidos por Adolf Hitler. Mas o que poucos sabem é que enquanto não estava assassinando e torturando judeus, negros e homossexuais, o líder nazista se acabava usando drogas como cocaína, heroína e até uma super metanfetamina que bota no chinelo a famosa “azulzinha” (99% pura) de Heisemberg da série “Breaking Bad”. É o que afirma o jornalista alemão Norman Ohler, com requinte de detalhes em “High Hitler” (editora Planeta). O autor chega ao país neste fim de semana para participar de eventos de lançamento do livro.
A premiada série americana aparece, aliás, no título do primeiro capítulo do livro: “Breaking Bad: a cozinha de drogas da capital do Reich”, que relata uma visita a uma antiga fábrica de drogas do nazista, na periferia de Berlim. Lá, um dos “cozinheiros chefes”, o dr. Fritz Hauschild, entre 1937 e 1941, criou “uma metanfetamina com uma qualidade que nem mesmo Walter White conseguiu alcançar em seus melhores momentos”, relata Ohler.
Para trazer à luz a vida drogada de Hitler e de seu bando sórdido, o jornalista, colaborador do The New York Times, passou cinco anos revirando arquivos na Alemanha e nos Estados Unidos, além de entrevistar uma penca de médicos, historiadores e militares.
A investigação começou meio por acaso, quando um amigo contou a Ohler que o führer e seus comandados usavam e abusavam de drogas e lhe perguntou se a história não renderia um filme. Por ora, virou um livro.
O que Ohler não imaginava é que em sua apuração iria descobrir relatórios do médico particular de Hitler, Theodor Morell, com revelam detalhes de como o nazista detonou o cabeção com mais de 70 tipos de drogas, de injeções de esteroides a similares de heroína.
Revisão históricaAs histórias reveladas no livro trazem ainda a possibilidade de uma revisão importante sobre as motivações por trás da Segunda Guerra Mundial, e também do que acabou com ela.
O autor conta em “High Hitler” que, além do comandante nazista, os soldados alemães recebiam doses generosas de metanfetamina para ficarem mais ligadões, dispostos e imbuídos de um sentimento de euforia e invencibilidade.
Segundo Ohler, o recurso teria sido fundamental por exemplo nas invasões vitoriosas da França e da Polônia.
Mas o grande mérito desse livro, na opinião do historiador alemão Hans Mommsen, está na revelação da relação entre Hitler e seu médico Theodor Morell, que escancara “como acontecimentos mundiais podem ser conduzidos por trivialidades medicinais”, afirma Morell no posfácio que encerra o livro.
War on drugs nazista
Mas a esbórnia nazista não valia para todos. O livro relata que Hitler em nome de seu projeto de higienizar as raças mandou muito usuário de drogas para campos de concentração.
A “war on drugs” do terceiro reich começou “em novembro de 1933, quando o Reichstag (prédio onde o funciona o parlamento federal da Alemanha), ocupado pelos nazistas, aprovou uma lei que possibilitava o internamento compulsório de viciados por até dois anos em sanatórios fechados e a permanência podia ser prolongada de forma ilimitada, por decisão judicial”, relata Ohler.
Com isso, ao mesmo tempo que por debaixo dos panos se drogava compulsivamente, Hitler plantava na mente da sociedade alemã a imagem de “inimigo das drogas”. Segundo Ohler, um mito que se fixou tanto na opinião pública como entre pensadores e críticos, e que ecoa até hoje. “Um mito que precisa ser derrubado”, afirma o jornalista.