A Região do Triângulo, em Minas Gerais, conhecida como a “Terra dos dinossauros”, reforça sua importância paleontológica e se destaca nacionalmente como uma área-chave para descobertas científicas de alta relevância.
Durante as obras no Trevão, o entroncamento das rodovias BR-365 e BR-153, localizado em Monte Alegre de Minas, a 601 quilômetros de Belo Horizonte, foi encontrado um fóssil inédito. O fóssil consiste em uma ninhada de dois ovos inteiros e outros fragmentados.
A descoberta foi feita pelo paleontólogo Paulo Macedo, da empresa Geopac Consultoria Ambiental, especializada em paleontologia e espeleologia. A empresa foi contratada pela Ecovias do Cerrado, concessionária responsável pela conservação e duplicação da rodovia BR-365, entre Uberlândia (MG) e Jataí (GO), como parte do Programa Ambiental de Paleontologia.
Paulo Macedo expressou sua satisfação com a conservação da ninhada, afirmando que é um achado raro e bem preservado. Um dos ovos poderia ter eclodido para permitir que o filhote emergisse.
Nesta segunda-feira (22), a ninhada foi apresentada no câmpus da Universidade Estadual de Minas Gerais (Uemg).
CARACTERÍSTICAS As primeiras análises indicam que os ovos podem ser de crocodiliformes, embora não se descarte a possibilidade de pertencerem a dinossauros carnívoros de pequeno porte e até mesmo aves, datados de 80 milhões de anos.
Uma das características que chamaram a atenção da equipe de especialistas da empresa foi o excepcional grau de conservação, “por serem muito delicados e com cascas com menos de 1 milímetro de espessura”, conforme divulgou a empresa.
O ninho estava imerso em rochas sedimentares denominadas arenitos relacionados à formação geológica de nome Vale do Rio do Peixe, que mostra um dado de relevância: há 80 milhões de anos, a área apresentava um ambiente totalmente distinto do cerrado de hoje.
“Antes de estudos científicos detalhados, é difícil afirmar se esses ovos pertencem a crocodiliformes ou ao outros dois grupos mencionados. A presença de três ovos inteiros abrem a possibilidade de conterem embriões em seus interiores”, informam os especialistas.
Os ovos têm formas parcialmente semelhantes a ovos de galinha, embora bem mais alongados, contendo no seu comprimento maior cerca de 5,5 centímetro a 6 cm. A descoberta ocorreu em outubro de 2022 pelo especialista em paleontologia Paulo Macedo da empresa GEOPAC Consultoria Ambiental.
Em conformidade com a Agência Nacional de Mineração (ANM), a Ecovias do Cerrado levou o fóssil ao Laboratório de Paleontologia da Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG), câmpus Ituiutaba, que manterá a guarda e estudos científicos para publicação.
PRESERVAÇÃO A descoberta da ninhada próxima ao Trevão se soma a diversas outras em Uberaba (MG), com destaque para o “Uberabatitan ribeiroi”, o maior dinossauro do Brasil, com 28 metros de comprimento por 10m de altura, localizado, em 2004, durante obras da duplicação da rodovia BR050. Os achados podem ser interpretados como um grande alerta para a conservação do patrimônio paleontológico nacional.
Em 2016 e 2017, houve o achado de centenas de fósseis importantes de dinossauros carnívoros e herbívoros, na pedreira do Calcário Triângulo, próximo das margens da rodovia BR-050, entre Uberaba e Uberlândia. Assim, avisam os especialistas, é preciso aumentar ainda mais a preocupação em poder salvaguardar os fósseis, que são “patrimônios da nação” e devem ser vistos como elementos- chave para pesquisa, educação e até turismo regional.
MEMÓRIA
Em março do ano passado, uma descoberta científica mostrou que Uberaba, no Triângulo Mineiro, é mais do que a “terra dos dinossauros” reconhecida internacionalmente, mas sim um berçário: no Bairro Ponte Alta, a 30 quilômetros do Centro da cidade, foi encontrado um “sítio de nidificação”, ninho com 20 ovos de dinossauro. Conforme divulgou, na época, a Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), trata-se do primeiro sítio de nidificação de dinossauros encontrado no Brasil.
A pesquisa foi publicada na revista internacional Scientific Reports, do Grupo Nature. A partir de características das cascas e das associações de ovos, de aproximadamente 12 centímetros de diâmetro, os pesquisadores puderam comparar a fósseis de outros locais do mundo, principalmente da Argentina.
Assim, foi possível identificar que os dinos que botaram esses ovos pertencem ao grupo dos titanossauros. Estiveram diretamente envolvidos nas pesquisas do achado o geólogo da UFTM, Luiz Carlos Borges Ribeiro, e o professor do Instituto de Ciências Exatas, Naturais e Educação (Icene/UFTM), Thiago da Silva Marinho, e outros.