O Roda Viva desta segunda-feira (24/6) recebeu o ex-governador de São Paulo José Serra. As manifestações que tomaram as ruas do País foi assunto em pauta no programa. Ele, que Participou de movimentos estudantis e presidiu a União Nacional dos Estudantes (UNE), acredita que o país chega neste momento ao fim de um ciclo: “Começou com o plano real e foi até a abonança externa do governo Lula com o consumo turbinado. Esse ciclo está esgotado”.
Para o ex-governador de São Paulo, há um ar de insatisfação com a política e com o Brasil. Um dos motivos é o que ele denomina de Instaflação (instabilidade + inflação), fenômeno que vem refletindo no dia a dia dos cidadãos.
Em decorrência dos protestos realizados nas últimas semanas em todo o país, a presidente Dilma Rousseff anunciou nesta segunda-feira, 24, pactos com o povo, dentre eles o de propor a convocação de um plebiscito que autorize uma Constituinte para fazer a reforma política. Serra diz que essa não seria a melhor, nem mais ágil atitude do governo. “Propor um plebiscito para ver se convoca uma constituinte é um absurdo. Eu acho que a presidente se sente acuada. Plebiscito tem que marcar data, com horário eleitoral, eleger membros da constituinte, tudo isso leva pelo menos 6 meses”.
O ex-governador ressalta que é preciso definir questões como: Reforma de quê? Qual será a reforma política? Segundo ele, o ideal e mais ágil seria a própria presidente propor a reforma e pedir urgência constitucional. “Não há nada que ela não possa adotar e mandar para o congresso”.
Ainda avaliando os pactos do governo com o povo, Serra afirma que essa é uma estratégia para driblar a população: “Levanta-se palanques de ilusões, como esses que vimos hoje”. Um exemplo citado pelo ex-governador é o financiamento de R$ 50 milhões para obras de mobilidade urbana, que ele ressalta que o governo tem de onde tirar. “O governo disse que vai investir R$ 50 milhões, mas poderia ter feito isso há 10 anos. Esse dinheiro não existe. Eu desconheço”. Serra ressalta que recomendaria o redirecionamento do financiamento do trem-bala para o metrô para potencializar a mobilidade nas grandes cidades.
Em entrevista, o membro do PSDB afirmou também que o surgimento desses movimentos, com a proporção que tomou, não favorece nenhum partido político. “Fernando Henrique Cardoso falou em uma entrevista que ninguém vai faturar na política e eu concordo. Quando eu era líder estudantil também não havia ligação dos movimentos com partidos. Esse tipo de preconceito é normal nos movimentos, mas o problema é como isso vai refletir”, observa.
Sobre José Serra
Um dos principais nomes do PSDB, Serra governou o estado de São Paulo entre 2007 e 2010, foi prefeito da capital paulista, ministro da Saúde, senador, ministro do planejamento e deputado federal. Estudou engenharia civil na USP, fez mestrado na Universidade do Chile e doutorado na Universidade de Cornell, nos Estados Unidos. Em sua última disputa política, em 2012, na qual concorreu ao cargo de prefeito de São Paulo, foi derrotado no segundo turno pelo petista Fernando Haddad, do PT.