Quando um senhor de meia idade chegou entusiasmado para fazer uma visita pela primeira vez aos estúdios de uma rádio de Juiz de Fora, na Zona da Mata, ele parecia apenas mais um ouvinte assíduo que se dizia encantando pela voz bonita de uma locutora.
O que seria mais um caso de admiração profissional, como o de tantos outros fãs, com o passar do tempo revelou-se um amor platônico. A idealização do homem pela famosa radialista da cidade resultou num verdadeiro calvário para ela.
Foram dois anos sofrendo perseguições, constrangimentos públicos – inclusive nas redes sociais –, ameaças e até uma agressão ao ser golpeada pelo ouvinte com um soco na cara, em maio deste ano, em pleno centro da cidade. Mas a tormenta da apresentadora, que começou em 2016, finalmente teve um fim nessa quarta-feira (6), quando a Polícia Civil conseguiu prender o homem de 60 anos, nos arredores do prédio onde ela mora. Ele costumava esperá-la escondido, quase todos os dias, para segui-la até a porta do trabalho.
A delegada responsável pelo caso da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam), Ione Barbosa, explica que a radialista só procurou a corporação em janeiro deste ano, ao perceber que o ouvinte, obstinado, não iria parar de atormentá-la, mesmo depois que ela mudou de apartamento – dias depois da mudança, ele descobriu o novo endereço.
Além disso, a mãe dela e o filho de 15 anos também começaram a ser ameaçados. Para piorar a situação, o homem escrevia em seu perfil no Facebook que era namorado da apresentadora.
“A vítima estava submetida a uma situação de constante de pavor, temendo pela própria vida, assim como a de sua família. Não conseguia mais sair de casa. Virou refém do medo. Mas ela teve paciência no início. Achou que ele ia parar sozinho. Por isso demorou para nos procurar”, afirma Ione.
Justiça falha e mulher é agredida
A delegada conta que logo na primeira vez que a radialista procurou a polícia, em janeiro, ela abriu um inquérito para investigar o homem que a perseguia. No entanto, o ouvinte continuou no encalço da mulher porque a Justiça não acatou um pedido de medida protetiva solicitado por Ione.
“Ao ouvir os relatos dela, eu prontamente fiz o pedido de medida protetiva em desfavor desse homem. Mas a Justiça indeferiu porque a Lei Maria da Penha, infelizmente, só protege a mulher que tem alguma relação com o agressor. No caso da locutora, ela não tinha nenhuma relação profissional e muito menos amorosa com o agressor”, lamenta.
Em maio, durante uma das perseguições do homem à mulher pelo centro de Juiz de Fora, a radialista, saturada das importunações do ouvinte, pediu mais uma vez para que ele parasse com as abordagens. “Quando ela foi mais ríspida com ele, já não aguentando mais aquela situação, o homem se revoltou e deu um soco no rosto dela em plena luz do dia. Ela voltou à delegacia e então, mais do que nunca, não restou outra solução: pedimos a prisão preventiva”, relembra Ione.
Na semana passada, a Justiça acatou o pedido de prisão feito pela delegada, mas a Polícia Civil não conseguiu encontrar o homem na cidade até a manhã dessaquarta-feira, quando ele foi visto pelos policiais, que ficaram de tocaia na porta do prédio da locutora.
A mulher foi procurada nesta quinta-feira pela reportagem da Super Notícia por meio da rádio em que ela trabalha. A chefe da reportagem da emissora disse que ela não quer ser identificada para evitar novos transtornos, mas que está bem e aliviada com a prisão do homem.
Professor de inglês
À delegada Ione Barbosa, o homem negou os crimes após ser preso. Ele disse que é professor de inglês e que ia ao prédio da radialista para oferecer aulas particulares. A corporação não comprovou até o momento que ele seja um docente.
Agrediu até a mãe
Segundo a Polícia Civil, o homem tem uma medida protetiva contra ele relacionada a uma mulher que mora no Rio de Janeiro. A corporação não deu mais detalhes desse caso. Além disso, ele também já tem passagens pela polícia por agressões contra a própria mãe. Atualmente, o criminoso mora sozinho em Juiz de Fora.