Uma paixão uniu as mentes inquietas de Ronaldo Lenoir e Pedro Guadalupe: a tecnologia. De gerações distintas, os dois vislumbravam a possibilidade de transformar o jornalismo na era da internet. A amigos, Lenoir falava com bastante admiração do criador do site Bhaz.
Nascido em Montes Claros, no Norte de Minas, Ronaldo Lenoir é de uma geração do jornalismo ainda feito nas máquinas de escrever. Com passagem por alguns dos principais meios de comunicação de Belo Horizonte (rádio Jornal do Brasil, Itatiaia, Diário do Comércio, Hoje em Dia e Estado de Minas), além de ter atuado na assessoria de imprensa dos governos Hélio Garcia e Aécio Neves, com fascínio e entusiasmo, Ronaldo viu na chegada de computadores e principalmente da internet a necessidade de se atualizar, e sempre recomendava aos mais próximos o mesmo.
“Era um cara meio visionário. Todo mundo desconfiava da internet e do futuro do jornalismo, e ele já acompanhava e sabia de tudo. E falava pra gente do Pedro como um cara empreendedor, que chamava muita atenção”, recorda a amiga e subeditora do jornal Estado de Minas, Ângela Faria.
Mas o lado profissional de Lenoir não se resumia à paixão pela tecnologia. “Ele era tipo uma Barsa”, diz ngela. Sério e brincalhão nos momentos certos, diz a jornalista Patrícia Aranha, era rigoroso na aplicação da língua portuguesa e, vez ou outra, no Facebook, alertava para erros de português de colegas de profissão. Tanto que foi um dos autores do manual de redação do Estado de Minas.
Pedro, por sua vez, é da ‘geração Google’. E, apesar de não ser formado em jornalismo, envolveu-se no ofício com a criação do portal Bhaz, que, graças ao seu conhecimento do mundo digital, tornou-se um dos principais de Minas Gerais em apenas cinco anos de criação.
Obstinado, orgulhava-se dos feitos de sua cria e nas redes sociais postava os números da audiência do site para cutucar os concorrentes, mas principalmente as agências de publicidade que não anunciavam no site.
Ainda sem acreditar, os mais próximos torcem para que seja apenas mais um truque de Pedro Guadalupe, que, até mesmo em seu currículo, gostava de estampar o ofício de mágico.
Filho do professor da Universidade Federal de Minas Gerais Jachynto Lins Brandão – erudito da Faculdade de Letras que, entre outros méritos, é capaz de traduzir textos mesopotâmicos direto do acádio para o português –, enxergava em Lenoir um amigo e colega de profissão com quem partilhava da paixão pela tecnologia.
A política era outro assunto que unia os dois. Guadalupe trabalhou como marqueteiro político aproveitando o conhecimento de novas tecnologias, enquanto Lenoir atuou na campanha eleitoral de Hélio Garcia em 1989, voltou a envolver-se com tema ao ser subeditor do caderno de político do jornal Estado de Minas entre 1996 e 2003, quando saiu para assumir o cargo de coordenador de imprensa do governo Aécio Neves. Depois disso, trabalhou na Gasmig e prestou consultoria política, tendo atuado novamente em campanhas em 2014, na tentativa de Pimenta da Veiga de ser governador de Minas.
Em Ipatinga, para onde os dois viajaram antes do trágico acidente, a política estava novamente presente. A dupla fechava um contrato para atuar na eleição extemporânea para prefeito após a cassação do mandato de Sebastião Quintão.
Atleticano e apaixonado pelos bares de BH, Lenoir deixa a mulher e duas filhas. Carolina seguiu os passos do pai, e é jornalista. Guadalupe era casado e tem três filhos.