No que depender do papa Francisco, a cena final do filme “O Poderoso Chefão” – um acerto de contas entre famílias da máfia paralelamente a uma cerimônia de batismo – pode não se repetir na vida real.
Neste sábado, em cerimônia na cidade de Sibari, Francisco disse que membros da máfia “estão excomungados”. Ao se referir à ‘Ndrangheta, grupo violento que atua no sul da Itália, Francisco disse que os grupos do crime organizado são um exemplo de “adoração do mal”.
É o mais forte ataque de um pontífice ao crime organizado desde que o papa João Paulo 2º fez uma forte crítica da Máfia em 1993.
Em Sibari, Francisco visitou na cadeia o pai de Nicola “Coco” Campolongo, um menino de três anos de idade morto numa emboscada em janeiro, e condenou a violência do crime organizado contra crianças.
Na época em que o crime ocorreu, Francisco já havia denunciado o crime e pedido que os assassinos se arrependessem. “Que nunca mais uma criança tenha de sofrer assim. Oro continuamente por ele. Não se desespere”, teria dito o papa, segundo seu porta-voz.
O pai e a mãe de Nicola estão presos sob acusação de participarem do tráfico de drogas. O avô materno, que tinha a guarda do menino e foi morto na mesma emboscada, era um traficante de drogas sob liberdade condicional. Os três faziam parte de um braço da ‘Ndrangheta ligado ao tráfico.
Na mesma prisão onde Francisco encontrou o pai de Nicola, estão presos outros mafiosos. Lá, Francisco disse que eles não deviam perder seu tempo atrás das grades, e sim buscando o perdão de Deus por seus crimes para saírem reabilitados.
“É essencial que os presos compreendam a importância de respeitar os direitos fundamentais do ser humano”, disse o religioso. Segundo ele, porém, “as instituições penitenciárias devem trabalhar para uma efetiva reinserção dos presos na sociedade”.
“Quando esse requisito não é cumprido, a prisão se converte num instrumento de castigo e represália social, danoso ao mesmo tempo para o indivíduo e para a sociedade”, disse.
Desde sua escolha como novo papa, em 2013, Francisco já fez diversos discursos contra o crime organizado. Mas em algumas regiões da Calábria, há diversos relatos de colaboração entre religiosos e a máfia.